Tormenta

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  Há muito tempo, na era em que os grandes deuses reinavam sobre os humanos, uma semideusa feita inteiramente de tempestades era mantida afastada de tudo e todos, pois seu poder era tão intenso e destrutivo, que ela destruía tudo com um único toque.
  Por longos anos, a jovem semideusa viveu solitária, até que finalmente lhe permitiram viver entre os humanos. Ela viu a arte, ouviu a música e experimentou iguarias deliciosas; a jovem aprendeu sobre amizade e amor. Assim que seu coração tempestuoso entrou em contato com o mais belo sentimento, ela ansiou por encontrar alguém que a amasse tão bela e profundamente quanto se ama o oceano. Porém, a jovem tormenta achava que somente um ser tão tempestuoso quanto ela poderia aguentar seu coração feito de caos e furacão. 
  Então ela procurou.
  E encontrou tolos que tentaram afugentá-la, mas não se pode afugentar uma força da natureza.
  Então ela procurou.
  E encontrou os frágeis demais, que com o menor sopro gélido se partiam. 
  Então ela procurou e finalmente achou. 
  Um ser de tempestades e raios, tão violento quanto ela. Por um tempo, a jovem foi feliz. Até que a batalha entre os dois seres começou. 
  Existe um problema em ser uma tempestade e querer amar um igual, seres tão poderosos se atraem, mas quando juntos, disputam sua força. Quando uma tormenta encontra outra, há um choque resultando na aniquilação de ambas. É um amor destrutivo. 
  Percebendo isso, a semideusa se recolheu e deixou a tempestade que tanto lhe fazia mal quanto bem. 
  Ela parou de procurar.
  Passava seus dias observando os humanos, enquanto dava tudo de si em ventos tão fortes que faziam as ondas do mar subirem metros e metros e se tornarem violentas ao quebrar nas rochas. Todos se assustavam com aquilo. 
  Quem poderia amar um ser tão indomável?
  Após desistir de sua busca pelo amor, a tormenta se deparou com um jovem humano. Ele era tudo o que ela não era. Um ser envolto por paz e calmaria. 
  Sempre que ele a olhava, ela via fascínio e admiração naqueles olhos escuros. 
  Abraçá-lo era como estar à deriva em um oceano tranquilo e azul. 
  Abraçá-lo era paz.
  Abraçá-lo era acalmar toda a tempestade dentro de si.
  A tormenta finalmente percebeu que para se amar uma tempestade não era preciso força e brutalidade, era preciso calma e serenidade. Sempre que ela perdesse o controle, haveria alguém para lembrá-la que há beleza em meio ao caos, e até mesmo tormentas podem ser brandas e belas.

Textos de uma emocionada.Onde histórias criam vida. Descubra agora