Há muito tempo, uma fadinha foi deixada na porta da casa de uma família humana. A magia já tinha ido embora daquelas terras, então, a família enxergou a fadinha como uma benção, a princípio.
As pessoas que criaram a fadinha eram bondosas, mas não sabiam nada sobre magia, ou criação de fadas, então, criaram-na como uma menina humana. A garota cresceu e a família fazia de tudo para esconder a sua real natureza. O cabelo, sempre cheio e arrepiado, era parcialmente preso, deixando alguns fios soltos para esconder as orelhas pontudas. A magia dela era sempre controlada. Mas as asas... eram quase impossíveis de esconder.
Quando chegou à idade adulta, a fada percebeu que, mesmo com sua criação humana, ainda era uma fada, uma criatura muito diferente de sua família. A fada queria liberdade, queria magia e, acima de tudo, queria voar. Porém, a família não concordava com tais ideais radicais. Ela deveria parar de sonhar e, como todo humano adulto, viver da realidade. A família sempre apelava para as emoções da jovem fada, pois sabiam que ela os amava tanto, que não negaria nada a eles.
Infelizmente, chegou o dia em que a fada ansiou tanto por sua liberdade, que decidiu experimentar suas asas após tantos anos. Os pais da fada descobriram e ficaram chateados. "Você deve viver com os pés no chão, como todos nós. Asas não são para seres humanos". Após ouvir isso, o coração da fadinha se partiu. Ela ficou tão triste e tão culpada por querer seguir seus sonhos, que decidiu abrir mão daquilo que a tornava tão especial.
Em meio a noite silenciosa e triste, a jovem fada cortou fora as pontas de suas orelhas, deixando-as iguais às orelhas humanas. E, em meio ao choro desesperado e angustiante, ela arrancou suas preciosas asas. Seu grito pôde ser ouvido mesmo em meio à tempestade. Ela chorou.
No outro dia, a família sequer notou a mudança. Nem reparou nos curativos nas orelhas, no cabelo totalmente preso, na falta de suas asas ou de seu sorriso.
A fada, por um longo tempo, culpou os humanos pela perda de suas preciosas asas, contudo, a culpa não era deles, era dela. Ela mesma tinha arrancado de si seu belo dom. E, ao se dar conta disso, a fada cedeu de vez à vontade da família. A última brasa de magia dentro dela se apagou e ela viveu infeliz, se perguntando como a vida teria sido, se não tivesse cortado suas asas.
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Textos de uma emocionada.
RandomAlguns textos de dias nebulosos, alguns de dias ensolarados.