Capítulo 4- Novos Ares

70 9 14
                                    

A viagem de Wisconsin até Nova York durou cerca de 14 horas entre pequenas turbulências e alguns passageiros que insistiam em causar alguma confusão durante o vôo. Nesse meio-tempo, Nicole e eu ficamos de papo furado imaginando como seria a minha chegada. Por mais que ela insistisse em dizer que seria tudo tranquilo e que ficaríamos em paz, eu não conseguia me convencer, pois cada vez que ela falava de seus pais, eu me lembrava da ligação tenebrosa que ela recebeu durante a manhã. Desembarcamos em Nova York ainda de madrugada e resolvemos ficar em um hotel que a própria linha aérea havia disponibilizado para alguns passageiros, pois a maioria pegaria um novo vôo ou táxi diretamente até Manhattan, que era o ponto principal. Estávamos tão cansadas e um pouco assustadas por conta da viagem, que nem nos animamos pelo fato de já estarmos longe da vida pacata de Wisconsin. Resolvemos reservar um pequeno quarto que havia apenas uma cama de casal, mas que parecia ser extremamente confortável. Como Nicole já havia falado que seus pais estariam lá logo de manhã para nos buscar, não nos preocupamos com mais nada.
Enquanto Nic tomava um longo banho, resolvi mandar uma mensagem para o meu pai que insistiu que eu informasse tudo o que estava acontecendo na viagem, independientemente do horário.

 

— Qual é o motivo dessa cara de enterro, amiga? -Nicole questionou, enquanto saía do banho com uma toalha na cabeça e um pijama de ursinhos azuis.

— Belo pijama, Nic. -disse em um tom irônico, tentando desconversar

— Qual é o motivo da cara de enterro, Grace Hannah Tuttle? -retrucou de forma séria —Tá arrependida? Se for isso, o seu pai me paga!

— Se me chamou pelo nome completo, sei que a coisa está feia. Tudo bem, eu conto... mas deixa o meu pai fora disso, Nic! Você sabe bem o motivo dele ser assim. -revirei os olhos- — Mas respondendo a sua pergunta, eu estou com medo

— Do quê? -Arqueou a sobrancelha

— Olha... eu meio que ouvi a sua conversa com o seu pai e eu fiquei com receio pelo jeito que ele falou com você. Imagina se ele achar que eu sou uma folgada?

Nicole me olhou séria por alguns segundos, como se fosse esbravejar algo, mas logo soltou uma gargalhada exageradamente estridente enquanto se sentava ao meu lado, retomando o seu fôlego.

— Qual é a graça, Nicole? Eu estou falando sério -balancei a cabeça negativamente

— Desculpa, amiga! Bom, eu te desculpo pela sua curiosidade. E em defesa dele, digo que você não conhece o meu pai direito. Ele me trata assim desde sempre porque gosta das coisas do jeito dele, entende? Ele nunca te acharia folgada, muito pelo contrário. Ele é uma pessoa muito sincera e se ele não gostasse da ideia de você passar as férias lá, ele teria falado sem dó. -ela disse dando um longo suspiro

— Você tem certeza? -forcei um sorriso

— Mais certeza do que eu tenho da minha beleza. -deu de ombros - — Agora vai tomar o seu banho e fica tranquila. Manhattan te aguarda e mi casa es su casa -ela riu de si mesma por conta do péssimo espanhol enquanto arrumava o cabelo em um coque e se jogava na cama

Tomei um banho quente e bem demorado. Pois eu estava realmente precisando relaxar e esquecer todas as minhas paranoias e angústias com esse novo começo cheio de incerteza e de certa forma, um amadurecimento pessoal. Sentei-me na banheira deixando a água cair diretamente na minha cabeça enquanto eu praticava os exercícios de respiração que eu havia aprendido com o médico terapeuta da minha família.
Saí do banho poucos minutos depois, vesti apenas uma calça moletom rosa e uma velha camiseta cinza que era a minha favorita. Deixei que meu cabelo se secasse naturalmente, ignorando totalmente os conselhos de possíveis doenças que a minha mãe havia dito. Fui em direção ao quarto e percebi que Nicole já havia pegado no sono. Apaguei as luzes e me deitei logo em seguida, pois já estava quase amanhecendo e logo Dave e Genevieve estariam lá e a última coisa que eu queria, era que eles me vissem cheia de olheiras. Chequei as mensagens do celular pela última vez, o colocando na mesa ao lado da cama e peguei no sono logo em seguida.

FINE LINE | Grace TuttleOnde histórias criam vida. Descubra agora