10 - Direto ao coração.

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FLÁVIA 


* Esse capítulo contém crise de ansiedade  

Tentar esquecê-lo era uma tarefa árdua que eu me esforçava para executar todos os dias, porém minha cabeça não estava de acordo.

— Você vai ficar perfeita quando nos casarmos. — Gabriel disse quando apareci na sala com o vestido de noiva.

A imagem clara de Guilherme enquanto eu o colocava ainda me atordoava, era ele quem eu queria ali…

— Você tá bem filha? — Meu pai perguntou, me analisando.

Não fui capaz de responder se ficasse ali mais um segundo iria sufocar, atropelei os móveis e saí correndo porta afora, ignorando os chamados pelo meu nome. Continuei correndo pela rua sem uma direção certa e sem prestar atenção em nada, sentia as lágrimas escorrerem pela bochecha, só voltei para a realidade quando um carro brecou quase em cima de mim.

— Ei garota, cuidado! — Encarei o motorista, mas antes que eu pudesse formular uma resposta meus olhos foram capturados pela pessoa no banco de trás.

Guilherme…

Em meio segundo ele desceu do veículo e veio ao meu encontro, sem se importar com as buzinas.

— O que aconteceu? — Seu semblante estava preocupado.

— Tá di-difícil res-respirar. — Falei com dificuldade enquanto sentia meu coração acelerar muito dentro do peito.

— Você vem comigo. — Passou os braços ao redor do meu corpo e entramos no carro.

— Para a clínica Odailson, rápido.  — Falou com firmeza.

— É pra já doutor. — O motorista voltou a dirigir, enquanto isso  o ar ainda se recusava a entrar corretamente nos meus pulmões.

— Respira fundo e devagar, eu tô aqui. — Segurou minha mão trêmula enquanto a outra ficou posicionada no coração e eu fiz o que ele pediu.

— Mais uma vez. — Disse me olhando no fundo dos olhos.

Depois de realizar esse processo algumas vezes, minha respiração começou a normalizar, apoiei a cabeça no ombro de Guilherme e o resto do caminho até a clínica foi em silêncio.

— Tenho uma cirurgia agora, mas você fica aqui que a gente ainda vai conversar. Toma essa água, coloquei um calmante natural para te ajudar. — Falou me entregando um copo.

— Eu já tô melhor. — Avisei tomando o líquido em seguida.

— Que bom, vai ficar bem sozinha? Se eu pudesse pedia pra Joana assumir, mas…

— Pode ir, eu vou ficar bem. — Assegurei.

— Qualquer coisa chama a Regina. — Disse indo até a porta e parecendo realmente relutante em me deixar ali.

— Ok. — Concordei e ele finalmente saiu.

Fechei os olhos me acomodando no sofá e quando voltei a abri-los encontrei Guilherme ao meu lado.

— A cirurgia já acabou? — Perguntei um pouco sonolenta.

— Já sim você dormiu, se sente bem?

— Sim.

— O que aconteceu exatamente? Por que tá usando um vestido de noiva? — Questionou, por fim, prestando atenção na peça.

— A Odete apareceu com isso lá em casa e o Gabriel me pediu para colocar. — Falei com um sorriso triste.

— Cê tá linda, mas isso devia te deixar feliz e não com uma crise de ansiedade.

— Fazia tempo que eu não tinha uma, no dia das mães sempre acontecia e meu pai me acalmava, depois eu simplesmente aceitei que ela não ia voltar, mas hoje…. — Relutei sentindo um nó na garganta.

— Hoje… — Guilherme insistiu.

— Não sei, acho que foi muita pressão, a morte dizendo que a gente tá fazendo tudo errado, o namoro com o Gabriel, meu pai voltando a jogar, você… acho que o vestido foi apenas um gatilho. — Expliquei.

— Acho que ficou claro que esse não é o caminho. — Ele comentou.

— Eu não posso fazer a coisa certa.

— Por que não? — Perguntou sem entender.

— Porque o meu caminho certo insiste no caminho errado. — Lembrei.

—  Já é a hora dos dois mudarem de caminho. 

— Não é tão fácil assim. — Constatei.

— Eu sei que não. — Suspirou.

— Você sabia que a aliança de casamento fica na mão esquerda por que o dedo tem uma veia que liga direto ao coração?

— Não, mas acho que nunca vou colocar uma.

— Nunca é uma palavra muito forte.

— Talvez seja. — Disse ainda sem acreditar que me casaria.

— Esse vestido pede pelo menos uma dança, me concede a honra? — Guilherme me estendeu a mão.

— Claro doutor. — Me levantei segurando sua mão.

— Você vai ter que cantar. — Falou com um sorriso e em seguida me puxou para mais perto. 

— Sempre ouvi dizer que esse mundo era pequeno. — Sussurrei em seu ouvido enquanto nos movíamos lentamente, as mãos de Guilherme seguravam firme a minha cintura e as minhas permaneceram em volta do seu pescoço. 

— Pelo caminho de espinhos, avistei um mar de rosas… Pra chegar até lá eu preciso um pouco mais de tempo…. preciso de um grande amor. — Na última estrofe Guilherme me fez girar e nossos rostos ficaram a milímetros de distância.

Foi aí que seus lábios depositaram um beijo demorado em minha testa e em seguida começaram a descer. Quando minha boca foi capturada não consegui resistir, aproveitando o calor do seu corpo e o segurando com força com medo de ser novamente fruto da minha imaginação, mas não era e sua língua invadindo minha boca mostrava isso.

— É hora de voltar para a realidade. — Disse ainda com a testa colada na dele ao final do beijo.

— Podemos mudar essa realidade. — Guilherme disse baixinho.

Não respondi nada, apenas me afastei deixando um beijo no canto de sua boca e saí da sala, uma lágrima solitária caiu dos meus olhos.

No final de tudo, a aliança de casamento que permanecia em seu dedo era a de Rose.

Parte do meu coração - Oneshots Flagui Onde histórias criam vida. Descubra agora