FLÁVIA
* Esse capítulo contém crise de ansiedadeTentar esquecê-lo era uma tarefa árdua que eu me esforçava para executar todos os dias, porém minha cabeça não estava de acordo.
— Você vai ficar perfeita quando nos casarmos. — Gabriel disse quando apareci na sala com o vestido de noiva.
A imagem clara de Guilherme enquanto eu o colocava ainda me atordoava, era ele quem eu queria ali…
— Você tá bem filha? — Meu pai perguntou, me analisando.
Não fui capaz de responder se ficasse ali mais um segundo iria sufocar, atropelei os móveis e saí correndo porta afora, ignorando os chamados pelo meu nome. Continuei correndo pela rua sem uma direção certa e sem prestar atenção em nada, sentia as lágrimas escorrerem pela bochecha, só voltei para a realidade quando um carro brecou quase em cima de mim.
— Ei garota, cuidado! — Encarei o motorista, mas antes que eu pudesse formular uma resposta meus olhos foram capturados pela pessoa no banco de trás.
Guilherme…
Em meio segundo ele desceu do veículo e veio ao meu encontro, sem se importar com as buzinas.
— O que aconteceu? — Seu semblante estava preocupado.
— Tá di-difícil res-respirar. — Falei com dificuldade enquanto sentia meu coração acelerar muito dentro do peito.
— Você vem comigo. — Passou os braços ao redor do meu corpo e entramos no carro.
— Para a clínica Odailson, rápido. — Falou com firmeza.
— É pra já doutor. — O motorista voltou a dirigir, enquanto isso o ar ainda se recusava a entrar corretamente nos meus pulmões.
— Respira fundo e devagar, eu tô aqui. — Segurou minha mão trêmula enquanto a outra ficou posicionada no coração e eu fiz o que ele pediu.
— Mais uma vez. — Disse me olhando no fundo dos olhos.
Depois de realizar esse processo algumas vezes, minha respiração começou a normalizar, apoiei a cabeça no ombro de Guilherme e o resto do caminho até a clínica foi em silêncio.
♡
— Tenho uma cirurgia agora, mas você fica aqui que a gente ainda vai conversar. Toma essa água, coloquei um calmante natural para te ajudar. — Falou me entregando um copo.
— Eu já tô melhor. — Avisei tomando o líquido em seguida.
— Que bom, vai ficar bem sozinha? Se eu pudesse pedia pra Joana assumir, mas…
— Pode ir, eu vou ficar bem. — Assegurei.
— Qualquer coisa chama a Regina. — Disse indo até a porta e parecendo realmente relutante em me deixar ali.
— Ok. — Concordei e ele finalmente saiu.
Fechei os olhos me acomodando no sofá e quando voltei a abri-los encontrei Guilherme ao meu lado.
— A cirurgia já acabou? — Perguntei um pouco sonolenta.
— Já sim você dormiu, se sente bem?
— Sim.
— O que aconteceu exatamente? Por que tá usando um vestido de noiva? — Questionou, por fim, prestando atenção na peça.
— A Odete apareceu com isso lá em casa e o Gabriel me pediu para colocar. — Falei com um sorriso triste.
— Cê tá linda, mas isso devia te deixar feliz e não com uma crise de ansiedade.
— Fazia tempo que eu não tinha uma, no dia das mães sempre acontecia e meu pai me acalmava, depois eu simplesmente aceitei que ela não ia voltar, mas hoje…. — Relutei sentindo um nó na garganta.
— Hoje… — Guilherme insistiu.
— Não sei, acho que foi muita pressão, a morte dizendo que a gente tá fazendo tudo errado, o namoro com o Gabriel, meu pai voltando a jogar, você… acho que o vestido foi apenas um gatilho. — Expliquei.
— Acho que ficou claro que esse não é o caminho. — Ele comentou.
— Eu não posso fazer a coisa certa.
— Por que não? — Perguntou sem entender.
— Porque o meu caminho certo insiste no caminho errado. — Lembrei.
— Já é a hora dos dois mudarem de caminho.
— Não é tão fácil assim. — Constatei.
— Eu sei que não. — Suspirou.
— Você sabia que a aliança de casamento fica na mão esquerda por que o dedo tem uma veia que liga direto ao coração?
— Não, mas acho que nunca vou colocar uma.
— Nunca é uma palavra muito forte.
— Talvez seja. — Disse ainda sem acreditar que me casaria.
— Esse vestido pede pelo menos uma dança, me concede a honra? — Guilherme me estendeu a mão.
— Claro doutor. — Me levantei segurando sua mão.
— Você vai ter que cantar. — Falou com um sorriso e em seguida me puxou para mais perto.
— Sempre ouvi dizer que esse mundo era pequeno. — Sussurrei em seu ouvido enquanto nos movíamos lentamente, as mãos de Guilherme seguravam firme a minha cintura e as minhas permaneceram em volta do seu pescoço.
— Pelo caminho de espinhos, avistei um mar de rosas… Pra chegar até lá eu preciso um pouco mais de tempo…. preciso de um grande amor. — Na última estrofe Guilherme me fez girar e nossos rostos ficaram a milímetros de distância.
Foi aí que seus lábios depositaram um beijo demorado em minha testa e em seguida começaram a descer. Quando minha boca foi capturada não consegui resistir, aproveitando o calor do seu corpo e o segurando com força com medo de ser novamente fruto da minha imaginação, mas não era e sua língua invadindo minha boca mostrava isso.
— É hora de voltar para a realidade. — Disse ainda com a testa colada na dele ao final do beijo.
— Podemos mudar essa realidade. — Guilherme disse baixinho.
Não respondi nada, apenas me afastei deixando um beijo no canto de sua boca e saí da sala, uma lágrima solitária caiu dos meus olhos.
No final de tudo, a aliança de casamento que permanecia em seu dedo era a de Rose.
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Parte do meu coração - Oneshots Flagui
FanfictionContos do casal Flávia e Guilherme da novela Quanto Mais Vida Melhor.