Parte 1

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Desde quando a humanidade se resumira a cada consciência em sua unidade de armazenamento, ela se levantava diariamente no mesmo horário programado, despertava com o sabor do café, alimentava o peixe, organizava o pequeno ambiente, lavava-se, sentava-se em frente ao computador e trabalhava. Somente os toques regulares do alarme interrompiam os toques do teclado e ditavam as pausas para alimentação e para dormir. Assim acontecia naquela unidade e em todas as demais de onde nada saía e onde nada entrava.

Um dia, notou que um dos cantos do teto não parecia perfeitamente reto. Aquela deformidade era inusitada, pois tudo ali era estritamente geométrico, estava tão fora da programação que, embora tenha chamado sua atenção, não lhe ocorreu subir na cadeira para verificar. Mesmo que tivesse ocorrido, é pouco provável que ela soubesse o que fazer com aquilo. Assim, continuou a rotina, olhando ocasionalmente para aquela imperfeição que parecia acentuar-se ao longo do dia.

Na manhã seguinte, tão logo abriu os olhos, notou que a perfeição do teto havia sido restaurada. Lamentou silenciosamente que a novidade tivesse tão curta duração enquanto levantava e começava a rotina do dia. Tomou café, lavou a caneca e quando estendeu o braço para arrumá-la no escorredor, notou que outro item estava sobre ele, algo novo. Pegou cuidadosamente a esfera translúcida que cabia na palma de sua mão, aproximando-a dos olhos. Nunca vira tal item, não fazia parte da programação. Passou a esfera de uma mão para a outra com curiosidade, apreciando sua superfície lisa e morna, ligeiramente brilhante. Teve a ideia de sacudi-la de leve e ouviu algo que fez seu coração acelerar e profusas lágrimas lavarem seu rosto à medida em que se dava conta de quem era, onde estava e torrentes de imagens inundavam sua mente.

Alguns dias se passaram e ainda não sei como, mas se este item saiu de sua unidade e chegou até aqui, talvez eu também consiga encontrar um meio de romper estas paredes. Enquanto isso, continuo agitando ligeiramente a pequena bolha quântica e ela nunca falha em entregar a meus ouvidos o límpido som de seu sorriso novamente.

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