Parte 3

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Ela sabia que tinha visto algo e não desistiria tão fácil de tentar replicar o efeito. Trabalhou de 15:05 até às 17:59h ritmicamente atirando a bolha sempre contra o mesmo canto sem observar nada diferente. O alarme das 18h soou no mesmo momento em que a bolha sorridente tocou no canto: um leve brilho, uma breve deformidade espacial e tudo voltou ao normal.

Ela deu um salto da cadeira e correu ao canto rindo como uma criança maravilhada e, desta vez, ao invés de atirar a bolha, segurou-a e a empurrou contra aquele canto que cedeu à pressão como se fora feito de gelatina azul. Espantada, ela puxou a mão de volta, prendeu a respiração e tentou novamente, mas, desta vez, nada aconteceu.

Largou a bolha sobre a mesa e se pôs a chorar e gritar frustrada. Agora, a parede inteira parecia vibrar eletricamente e emitir um brilho avermelhado. Sentou-se com força no chão olhando confusa para aquele efeito e exclamou "O que é isso?! Por que não consigo sair daqui?" e a parede à sua frente pareceu feita de brilhantes ondas amarelas.

Uma mistura de sentimentos inundou-a, chorava e ria ao mesmo tempo em que gritava as mesmas perguntas "Que mecanismo é esse? Afinal, como isso funciona? Como saio daqui?" e a parede brilhava e vibrava alternando em suave azul, vermelho elétrico e ondas amarelas. Forçou as mãos várias vezes não só naquele canto, mas em todo o perímetro do quadrado que era sua unidade sentindo e vendo a vibração das paredes que pareciam prestes a ceder. Às 18:05h, por mais que tentasse, todos os efeitos cessaram.

Interessante, dei-me conta de que há sons humanos – risos, choro, gritos, falas, cantos – nas imagens que podem ou não ser lembranças, mas que não lembro de jamais ter emitido qualquer som antes nesta unidade. Os efeitos terão algo a ver com a bolha ou com som ou com ambos? E porque o efeito só ocorre às vezes, mesmo exercendo exatamente a mesma ação? Sinto que estou perto de sair daqui, só preciso pensar.   

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