Parte 4

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Não lembrava de já ter visto a pequena gaveta na mesa, nem as folhas em branco e a caneta que lá estavam, mas estava demasiado intrigada com o mistério da bolha para questionar qualquer outro pormenor. Decidida a decifrar o mistério, ao invés de deitar-se como o habitual, sentou-se na cama e pôs-se a anotar cada detalhe dos acontecimentos dos últimos dias em busca de alguma pista ou, ao menos, de algum padrão. Fascinante! Parecia haver uma relação inexplicável entre a bolha, os estranhos efeitos nas paredes e os horários dos alarmes.

Acabou adormecendo sobre os papéis e sonhou, provavelmente pela primeira vez desde que habitava aquela unidade de armazenamento. Estava sentada em uma cadeira numa grande sala escura juntamente com outras consciências, havia uma fonte de luz mais à frente apontada para algumas que estavam em um espaço um pouco mais elevado e manuseando instrumentos surpreendentemente familiares que emitiam sons emocionantes. Em dado momento, uma delas posicionou-se um pouco à frente das demais e começou a cantar naquela doce voz feminina cujo sorriso a bolha guardava!

"Oh, doce amada, desperta, vem dar teu calor ao luar"*, acordou passado um minuto da meia-noite com estes versos ressoando e surpresa com o brilho esverdeado da parede a seu lado. Ainda cantarolando feliz, esticou a mão que, sem qualquer resistência, atravessou a superfície como se fora água morna. Puxou-a de volta espantada e sentou-se na cama como que impulsionada por uma mola. Olhos arregalados, anotou o fato novo e, cientificamente, repassou apressada e empolgada suas notas, testando os efeitos para confirmar suas teorias.

Ri e a parede brilhou azul gelatinosa, gritei e a eletricidade vermelha se apresentou, falei e as ondas amarelas surgiram. Como pude demorar tanto para perceber tais padrões? Experimentei cantar aquele mesmo único verso do sonho. Curioso! Desta vez, ao invés de esverdeado, o brilho foi arroxeado e, embora minha mão também atravessasse a superfície, a temperatura era desagradavelmente quente. Puxei-a e tentei novamente, nada mais aconteceu. No relógio, passavam seis minutos da meia-noite...

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