Não lembrava de já ter visto a pequena gaveta na mesa, nem as folhas em branco e a caneta que lá estavam, mas estava demasiado intrigada com o mistério da bolha para questionar qualquer outro pormenor. Decidida a decifrar o mistério, ao invés de deitar-se como o habitual, sentou-se na cama e pôs-se a anotar cada detalhe dos acontecimentos dos últimos dias em busca de alguma pista ou, ao menos, de algum padrão. Fascinante! Parecia haver uma relação inexplicável entre a bolha, os estranhos efeitos nas paredes e os horários dos alarmes.
Acabou adormecendo sobre os papéis e sonhou, provavelmente pela primeira vez desde que habitava aquela unidade de armazenamento. Estava sentada em uma cadeira numa grande sala escura juntamente com outras consciências, havia uma fonte de luz mais à frente apontada para algumas que estavam em um espaço um pouco mais elevado e manuseando instrumentos surpreendentemente familiares que emitiam sons emocionantes. Em dado momento, uma delas posicionou-se um pouco à frente das demais e começou a cantar naquela doce voz feminina cujo sorriso a bolha guardava!
"Oh, doce amada, desperta, vem dar teu calor ao luar"*, acordou passado um minuto da meia-noite com estes versos ressoando e surpresa com o brilho esverdeado da parede a seu lado. Ainda cantarolando feliz, esticou a mão que, sem qualquer resistência, atravessou a superfície como se fora água morna. Puxou-a de volta espantada e sentou-se na cama como que impulsionada por uma mola. Olhos arregalados, anotou o fato novo e, cientificamente, repassou apressada e empolgada suas notas, testando os efeitos para confirmar suas teorias.
Ri e a parede brilhou azul gelatinosa, gritei e a eletricidade vermelha se apresentou, falei e as ondas amarelas surgiram. Como pude demorar tanto para perceber tais padrões? Experimentei cantar aquele mesmo único verso do sonho. Curioso! Desta vez, ao invés de esverdeado, o brilho foi arroxeado e, embora minha mão também atravessasse a superfície, a temperatura era desagradavelmente quente. Puxei-a e tentei novamente, nada mais aconteceu. No relógio, passavam seis minutos da meia-noite...

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A Bolha
Ficção CientíficaSeus dias eram sempre iguais naquela unidade de armazenamento até que uma manhã notou uma pequena deformidade em dos cantos no teto. Na manhã seguinte, notou que havia um item novo em seu espaço, uma pequena esfera lisa e morna, algo fora da program...