Eu deveria estar muito bêbada para ver a minha namorada morta ao meu lado.
Desvio o olhar e fecho os olhos com força, os abrindo em seguida e piscando mais algumas vezes para ter certeza que eu estava delirando. Respiro fundo e solto uma risada baixa. Aquilo não era real e era só uma alucinação por eu ter bebido mais do que deveria. Olho para o lado e encaro minha namorada, que tinha um sorriso dócil nos lábios, seu cabelo estava um pouco mais escuro e sua pele bem mais pálida do que me recordava, não estava mais magra e nem mais gorda, vestia uma calça branca e uma bata cinza.
Minha falecida namorada estava do mesmo jeito que eu havia a visto quando nós conversamos antes daquele dia fatídico, não da forma como ela estava quando tive que reconhecer o seu corpo extremamente machucado.
- Chega de beber... - Coloco a garrafa na mesinha, enquanto passava as mãos pelo rosto.
Isso era tão louco, parecia que ela realmente estava ali, parecia a minha Camila nunca havia partido.
- Concordo, você anda bebendo muito ultimamente! - Camila descruza as pernas, conforme seu sorriso desaparecia gradativamente - É ridículo o fato de você estar bebendo tanto, nesse último ano você bebeu mais do que você já bebeu em toda a sua vida. – Estala a língua em reprovação e eu me sinto desconcertada.
- E-Eu acho que essa é a melhor forma de me reconfortar... – Me defendo, não conseguia olhar para ela.
Eu estava com medo, paralisada e totalmente apavorada.
- Reconfortar pelo que? – Pergunta desentendida.
- Pela sua morte.
Quando disse aquela palavra me permiti encarar Camila. Sua expressão se contorceu em uma leve careta, sua mão foi para os seus cabelos enquanto os ajeitavam, seus olhos procuraram os meus e um sorriso tímido e adorável brotou em seus lábios.
Tão linda.
Tão minha.
- Eu pareço morta para você? – Questiona em um tom risonho.
Camila estava ali, sentada ao meu lado. Eu podia ouvi-la. Sentia a sua presença e de uma forma estranha até o cheiro do seu perfume. O timbre da sua voz dava para ser escutado em alto e bom som. Podia analisar cada movimento e expressão a cada reação a tudo o que eu dizia e fazia.
Faço um bico e rio.
- Não... – Entorto a cabeça e franzo o cenho – Mas eu vi você sendo colocada a sete palmos do chão... – Fungo, cruzando os braços.
A imagem do caixão branco fechado sendo abaixado, o choro alto de Sinu e Sofia misturados com o meu choro fazia questão de ficar estampado em frente da pessoa que eu via na minha frente, não podia ser real, não haviam chances de ser real. Eu havia reconhecido seu corpo, eu havia ficado o tempo todo do lado do caixão que teve que ficar fechado no velório –por conta da aparência que Camila havia ficado por ter sido extremamente machucada pelas latarias dos carros- e eu fiz questão de carregar o mesmo até o buraco cavado no chão para que ele descesse minutos depois.
Sem dizer mais qualquer palavra se levantou lentamente e com um sorriso terno, caminhou em minha direção, a analisei de baixo a cima tendo a cada instante mais certeza que ela sempre seria a mulher mais linda que já tive o prazer de conhecer, Camila descruzou os meus braços e sentou no meu colo de frente para mim.
Eu a sentia, podia sentir a textura da sua pele macia, o toque dos seus dedos finos e delicados, podia ver seus lindos olhos castanhos me olhando intensamente, o roçar gostoso da parte interna das suas coxas com a lateral das minhas coxas, podia sentir o peso leve que estava sobre o meu colo e não sabia diferenciar se o que eu sentia contra o meu rosto era uma brisa ou a sua respiração.
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Never Say Goodbye
Fanfiction[FINALIZADA] Pior que a dor devastadora de perder alguém que você ama, é a saudade sufocante que te consome todos os dias por não poder passar o resto de sua vida ao lado do seu grande amor. Após perder sua namorada em um acidente de carro, Lauren J...