Em um mundo onde se habitam 7 bilhões de pessoas, cada uma delas, sem exceção, com uma alma gêmea de idade similar que poderia morar desde na casa ao lado da sua, até em um continente diferente do outro lado do oceano, um único jeito preciso de descobrir quem era sua alma gêmea era no mínimo irreal, para não dizer totalmente impossível.
Você poderia apontar que a primeira frase que a pessoa diria a você em toda sua vida marcada em seu pulso seria um jeito fácil o suficiente, mas, quem garantia que não pudesse haver coincidências? Se a marca que você tivesse tatuada em seu pulso fosse nada mais do que um “Bom dia”? Como, com algo tão abrangível, seria possível limitar uma infinidade de pessoas que vem e vão em sua vida, para apenas uma única pessoa a quem você foi verdadeiramente destinado?
Não, aquele podia ser um jeito bom no passado, quando a população terrestre era menor e nem todos tinham uma alma gêmea. Mas, conforme os anos foram se passando, e os índices de bebês representantes de uma marca de alma foram aumentando, mais e mais foram-se surgindo novas formas de se identificar um par destinado.
Haviam várias já catalogadas, várias que ainda viriam a serem descobertas, algumas pessoas com uma única marca, algumas com duas, outras até com três possíveis identificações: a teoria principal era que quanto mais marcações mais longe a pessoa moraria, mas, nunca chegou a ser algo realmente comprovado.
Mikey era uma dessas crianças com marcas de alma diferentes do que uma frase qualquer em seu pulso. Ele tinha duas marcações, uma que ele achava mais legal, e uma que seu irmão mais velho achava se tratar da que realmente seria útil na hora de descobrir quem era seu par destinado: A primeira, a cor de seus olhos, e a segunda, a pele que funcionava como um telefone.
A que Shinichiro achava mais útil era a cor de seus olhos, enquanto um deles era tão negro e profundo quanto os olhos normais da família Sano, o outro era de um azul cristalino puro e límpido que contrastava de uma forma quase bela com a escuridão de seu outro par não tão congruente, como se ele tivesse a noite em uma de suas irises, e o dia em outra.
E já a segunda, a preferência de Mikey, era que tudo que sua alma gêmea escrevia em sua própria pele, aparecia na pele de Mikey. E tudo que Mikey escrevia na dele, aparecia na pele de sua alma gêmea, como um verdadeiro telefone.
Era por isso que desde que Mikey se conhecia por gente — lá bem no passado ainda no começo da escola, talvez quando ele tinha seis ou sete anos, quando tudo que ele tinha que se preocupar era com que cor ele pintaria as nuvens de seu desenho na escolinha, e a que horas começaria seu treino no dojo com Baji e o Vovô Sano — ele reconhecia que sempre havia tido um conselheiro: tudo que ele precisava fazer, bastava ele riscar com uma caneta ou qualquer outra coisa em sua pele, e então quase magicamente a resposta aparecia depois de alguns segundos, minutos no máximo.
“Acho que vou pintar as nuvens de azul e deixar o céu branco” ele se lembrava de ter escrito uma vez.
“Mas a cor do céu não é azul?” Veio a resposta quando ele estava começando a contornar a borda da nuvem de azul. Ele largou o lápis ao pegar a canetinha usual que ele sempre levava consigo para cima e para baixo em seu bolso.
“É, mas pintar o céu de azul dá bem mais trabalho, a nuvem é mais rápida” Ele respondeu de volta com um pequeno sorriso. Ele esperou a tinta dissolver-se em sua pele, deixando seus pulso livre de ranhuras antes de continuar “Mas eu pintaria o céu de azul por você se você quisesse”
Alguns segundos a mais se passaram em silêncio do que Takemitchy geralmente demorava, mas então, logo as letras pretas da canetinha que Takemitchy usava começaram a surgir na pele leitosa: