Discombobulated - Day 3

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Takemichi sempre foi uma criança com boa imaginação: ele podia gastar horas brincando com pequenos pedaços de madeira sem nunca nem ficar entediado. Uma hora elas poderiam ser carrinhos e ele seu piloto, em outra, o edifício mais alto do mundo, e ele o engenheiro que o havia construído, em outra um navio pirata, e ele seu capitão, e ainda em outra, um fogão cheio de panelas invisíveis, e ele o cozinheiro que havia sido mandado para uma competição de culinária.

Conforme ele crescia, aquilo ainda não havia mudado, havia apenas evoluído de brincadeiras, para histórias em um caderninho surrado com capa marrom que ele escrevia durante as aulas de literatura em sua antiga escola, e seu tema favorito para escrever, uma pequena história que vinha sendo passada de geração em geração entre os membros de sua família:

“Quando duas pessoas destinadas uma a outra se encontram, as almas delas se completam. Mas, a pura felicidade do momento em que seus olhos se cruzam com sua segunda metade faz com que elas esqueçam por um momento quem é o verdadeiro dono delas, e assim, durante uma única hora, os corpos dos dois apaixonados acabam sendo trocados entre si”

Não o entenda mal, Takemichi nunca acreditou que aquela lenda pudesse ser real, nem mesmo quando ele a ouviu pela primeira vez quando deveria ter quatro, talvez cinco anos, nem mesmo quando ele descobriu que aquela não era uma coisa de sua família, mas sim algo que você conseguia encontrar com extrema facilidade alguns milhões de resultados que iam desde histórias escritas por fãs de personagens, até filmes e livros originais, e até relatos e entrevistas de pessoas que diziam ter passado por aquela experiência, isso se você apenas fizesse uma pesquisa rápida de cinco minutos no Google.

Mas, ele estaria mentindo se dissesse que não a achava no mínimo bela.

Havia... Algo, naquela história toda que sempre o inspirou, tanto que metade das histórias que ele tinha em seu caderninho tinham no mínimo uma menção a uma troca de corpos entre almas destinadas. Talvez fosse simplesmente a pura beleza da história, do fato em que você teria alguém que te entenderia tão bem nesse mundo que seria classificado literalmente como sua segunda metade, ou talvez não, talvez fosse ainda outra coisa que Takemichi nunca havia se quer pensado antes, ele não sabia afirmar com certeza.

Ou pelo menos, ele não sabia afirmar com certeza até aquele dia, o dia de uma das lutas naquele maldito clube underground.

Tudo havia começado de uma forma, bem, péssima. Pareciam haver ainda mais pessoas apostando e assistindo do que em qualquer outro dia que Takemichi havia presenciado desde aquele maldito dia esquecido por Deus onde ele, Takuya, Yamagishi, Makoto e Akkun acabaram sendo espancados por Kiyomasa e seu grupo, perdendo então toda sua liberdade ao virarem basicamente os escravos daqueles psicopatas metidos a delinquentes.

Para piorar, Kiyomasa estava com um humor péssimo, ainda mais do que o normal, e por causa daquilo — provavelmente — o escolhido da vez para entrar naquele ringue era ninguém menos do que Takuya, seu amigo de infância que conseguia a proeza de ser ainda mais fraco do que o próprio Takemichi que já não era exatamente o que você chamaria de exemplo de força.

Certo, talvez justamente por causa daquilo e de quão ruim lutando o próprio Takemichi era, ele deveria em um ponto de vista lógico ter ficado longe da vista de Kiyomasa esperando que o idiota não mudasse de ideia, mas, Takemichi nunca foi do tipo que escolhia caminhos fáceis como aquele, ainda mais se ele envolvia ter que deixar seu amigo apanhar sem levantar um único dedo para ajudar.

Além disso, Takemichi tinha uma força de vontade invejável, ele talvez poderia ganhar de Kiyomasa na teimosia. Com sorte, aquilo até mesmo faria com que Kiyomasa perdesse um pouco da credibilidade naquelas lutas e eles acabassem por fim livres delas.

Do Me MaitakeOnde histórias criam vida. Descubra agora