"Acorde Camila, você não está sonhando!"
Ela reconhecia aquelas palavras, a forma em como elas eram ditas, como elas a faziam sentir. Sabia que deveria abrir os olhos, sabia que deveria se colocar em pé e correr. Por um momento tentou, por um momento quis levantar-se, mas não conseguiu. Medo. O tão temido e forte sentimento. Ele era presente, Camila sabia que era ele que a segurava ali, naquele chão. Chão do qual havia derrubado sangue, seu próprio sangue, o sangue pessoas inocentes, de seus amigos e companheiros. Camila sabia o que fazer, mas Camila não conseguia.
Sentiu seus olhos arderem, sua boca tinha um gosto metálico, suas mãos suavam e o uniforme que a tanto tempo a protegeu, estava deixando-a fraca. Sentia-se pressionada, seu coração queria sair para fora de seu peito, queria fugir para longe dali. Mas não era possível, essa possibilidade não parecia real. Nada ali parecia real."Vamos Camila, não me abandone, não agora, não me deixe aqui..."
Sentiu-se tremer diante aquelas palavras, do peso do qual elas traziam e de tudo o que elas faziam-na sentir. Abriu os olhos e viu aquele cenário, tal cenário tão comum e tão presente em sua vida, agora destruído. Olhou para suas próprias mãos e para a arma que estava ao seu lado e elas tremiam para agarrar aquele objeto. Tentou levantar-se e apoiou suas mãos nos braços daquele que estava a sua frente. Era Tom. Ele estava ali, ele havia cumprido sua promessa. Mirou os olhos do amigo e companheiro de batalha. Era indecifrável, não reconhecia o que eles significavam.
Se manteve de pé com o restante de força que tinha, com o corpo dolorido e machucado, em passos arrastados continuou a andar junto de Tom, que se apoiava nas paredes. Camila não se atreveu a olhar para o lado, não queria ver os corpos, não queria ver o estado que aquele local estava. Sentia o cheiro de fumaça, o cheiro de pólvora e a poeira era inevitável, ao menos conseguia olhar para frente sem que seus olhos ardessem.
"Estamos quase lá, só mais alguns passos, fique forte por mim, por ela..."
Por ela. Camila sabia de quem ele falava, sabia por que ele falava. Sentiu seu coração bater mais forte, conseguia sentir o sangue fervendo por dentro de suas veias. Em um relance sentiu o seu corpo ser jogado para fora do local em que estava. Olhou para trás e viu Tom sendo puxado novamente para dentro da casa, que agora pegava fogo. Tentou ajudar o amigo e fora impedida, alguém a segurava. Gritou. O mais forte que podia. Implorava para que a deixassem ajudá-lo. As lagrimas que saiam de seus olhos agora queimavam seu rosto. Sentia sua garganta arder, sentia seus pulmões implorarem por ar, sentia seu corpo contorcionar em uma adrenalina que nunca havia sentido antes. Olhou para a pessoa que a segurava e a mesma que antes era irreconhecível, agora a forma de seu rosto era nítida. Era Normani.
-Normani, me deixe ir lá, deixe-me ajudá-lo- Sentiu os braços da amiga a apertarem mais forte- Por favor Normani, não faça isso.
Normani não podia soltá-la, ela sabia que não devia deixar a amiga voltar para dentro daquela casa. Não conseguiu ter força suficiente para segurara-la. Camila correu, como nunca havia corrido antes. Suas pernas tremiam e por um momento o medo havia deixado o seu corpo. Seus pensamentos já não eram coerentes. Adentrou a casa, agora em chamas, e chamou por Tom, mas não obteve respostas. Queria ir além, queria procurá-lo, queria tirá-lo dali, mas o fogo a impedia de continuar, nenhuma pessoa em sã consciência teria coragem ou se quer conseguiria atravessar aquele mar de chamas. Por um momento olhou entre a fumaça e as chamas que insistiam em queimar e viu uma imagem se formar diante de seus olhos. Era Tom e ele gritava para que ela fugisse dali, para que ela corresse para fora da casa e de volta para Normani.
Camila tentou esticar a mão para puxar o amigo, Camila tentou, mas não conseguiu. Em frações de segundos o som reconhecível se fez presente. Um tiro, sabia que era um tiro. Fechou os olhos como reação e ao abri-los viu o amigo cambalear até cair em seus braços.
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Vengeance
ActionVingança. Substantivo feminino. 1.ato lesivo, praticado em nome próprio ou alheio, por alguém que foi real ou presumidamente ofendido ou lesado, em represália contra aquele que é ou seria o causador desse dano; desforra, vindita. 2.qualquer coisa qu...