Capítulo 08

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P.O.V. Maria Eduarda

Depois de tanto esperar finalmente posso ir para casa. Não sei mais o que pensar, se realmente foi uma boa decisão abrir mão do meu futuro em prol de outra pessoa.

Mentira, sei sim.

Foi a melhor coisa que eu poderia fazer, pois jamais conseguiria dormir tranquila caso tivesse escolhido outro caminho, como disse a minha própria irmã.

Junto minhas roupas na mala velha e chego a rodoviária quase em cima da hora para pegar o ônibus.

Estou voltando com misto de sensações, um alívio por saber o que fiz o que era certo e decepção por ter que adiar o meu sonho de ser alguém na vida e, principalmente, de mostrar para aquelas pessoas que me humilharam que sou capaz de ir longe.

Segundo o pessoal do hospital, terei que voltar novamente daqui a quinze dias mais ou menos para o transplante, ou seja, mais uma vez vou precisar de dinheiro emprestado da Maria e do Rogério.

Sei que estão tirando de onde não têm, ou melhor, de onde tem e não deveriam tirar. Eles fizeram uma poupança em nome das filhas para quando as meninas estiverem maiores e precisarem estudar.

Prometo para mim mesma que vai ser a primeira dívida que pagarei assim que tiver melhores condições.

Menina, que cara é essa? Você tá péssima! Até emagreceu...

Maria fala assim que abri a porta da casa. Corro para seus braços e me sinto confortável. Ela realmente é a minha segunda mãe.

Que nada Maria, é impressão sua. Estou ótima.

— Ótima nada, você tá péssima sim. O que aconteceu?

A conto tudo enquanto tirava as roupas da mala e levava para área de lavar.

Detalhei a minha saga em São Paulo, escondendo a parte em que quase passei fome, claro. Ela ao mesmo tempo ria e chorava, pois sabia que eu estava colocando em risco o meu futuro.

Me parabenizou pela sábia decisão e eu sorri dizendo que na verdade ela mesmo já havia dito para que eu fizesse isso.

— Eu falei, mas daí você fazer é outra história.

Quando as meninas chegam da aula vêm correndo ao meu encontro e me abraçam apertado.

Desde que elas nasceram, eu nunca fiquei mais de três dias longe delas. Às vezes sinto como se fossem minhas filhas.

— Tia finalmente você voltou! Nossa, achei que ia ficar por lá.

A caçula fala fazendo bico e tenho vontade de morder suas bochechas.

— Claro que não, meus amores. Eu jamais iria embora assim, de supetão, ainda mais sem me despedir adequadamente de vocês.

— E aí, vai trabalhar no hospital grandão e vai ter dinheiro para me dar um monte de presentes?

A pequena me pergunta e rio do seu desespero.

— Você é uma pequena interesseira, isso sim. Não, ainda não foi dessa vez, mas eu prometo que um dia eu terei muito dinheiro e vou te dar todos os presentes que você pedir... e que sua mãe deixar.

Falo de imediato ao ver a cara fechada da Maria. Seu marido chega pouco depois cansado do trabalho e também sorri satisfeito ao me ver.

— Achei que tinha abandonado essa casa, minha jovem.

— Jamais, Cunhado, jamais.

Como é bom estar em casa, como é bom sentir se em casa.

Depois do jantar me deito um pouco mais cedo devido o cansaço da viagem, e tenho um sono tranquilo, sem sonhos.

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