Capítulo 04

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P.O.V. Maria Eduarda

A pobrezinha chora de soluçar, e meu coração fica apertado. Quem será que está tão mal assim?

Ela está tão nervosa que vejo suas mãos tremendo. Fico sem saber o que fazer, e vejo seu terço cair no chão.

Me aproximo rápido e o pego. A entrego e quando encaro seus olhos chego a prender a respiração.

Meu Deus, quanta dor! Quanto desespero! Que agonia esta mulher está sentindo!

Meu peito aperta e não sei o que me dá, mas sento ao seu lado e a abraço com força.

— Calma, Deus está contigo.

Falo baixinho e ela aperta os braços à minha volta. Não sei por quanto tempo ficamos assim, mas seu choro agora compulsivo molha um pouco minha blusa.

Quando a mulher consegue se acalmar minimamente, consigo me soltar do abraço e a encaro com carinho.

— Vamos rezar um mistério do terço juntas?

Pergunto e ela fica sem graça.

— Não acredito que estou passando essa vergonha, mas eu nem sei rezar o terço...

— Não tem problema, eu rezo e a senhora me acompanha.

— Mas você nem sabe o motivo do meu desespero.

— Não importa. Se a senhora está aqui, é porque alguém precisa de oração. Eu acredito em destino, então não cheguei aqui à toa.

— Com certeza não. Você certamente é alguém iluminado que Deus mandou para me ensinar a rezar.

Ela fala com um sorriso pequeno que não chegou aos olhos.

— Muito bem. Então me diga, sempre mentalizando a pessoa que precisa da graça.

— Minha menina.

Ela balbuciou e fiquei sem entender.

— Como?

— As orações são para minha filha. Ela precisa de doação de medula óssea e não achamos doadores dentro da família.

Nossa, a senhora me parece jovem, deve ter uma filha na minha idade ou até menos. Pobrezinha...

— Então vamos rezar por ela. Tenha fé, senhora. As coisas se ajeitarão, eu tenho certeza.

Inicio as orações e a mulher ao meu lado estava tão concentrada, que resolvi rezar o terço todo e ela nem percebeu. Eu estava com tempo mesmo.

Quando finalizo, ela parece um pouquinho mais calma e sorri em agradecimento.

— Desculpa, nem perguntei qual a graça que você deseja.

— Nada que se compare com a sua. Estou fazendo processo seletivo e vim pedir serenidade para a entrevista.

— Qual função?

— Técnica em Enfermagem.

Ela dá um sorriso simpático e diz que admira todos os profissionais da área da saúde.

O bichinho da curiosidade me cutuca e quando vejo já estou perguntando.

— O que a sua filha tem?

— Leucemia Mielóide Aguda.

Imaginei que seria algum tipo de leucemia e sei que nesse caso é transplante e quimioterapia.

— E ela está bem dentro do possível?

— Por enquanto sim, mas a gente tinha muita esperança de que o transplante daria certo, para tentar evitar a quimio mais pesada...

— A descoberta é recente?

Angel (Degustação - disponível na AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora