CAPÍTULO 01
Melissa
O sol ainda nem havia dado o ar da graça quando Belinha começou a me lamber toda. Minha cachorrinha – que resgatei da rua há mais ou menos um ano – é a coisa mais gostosa que eu poderia ter. Mas como tudo na vida tem um lado bom e um ruim a minha pequena espoleta me acorda sempre no mesmo horário para que eu abra a porta do quarto para ela sair. É a hora do xixi e como uma mocinha educada, ela nunca faz suas necessidades dentro de casa.
— Calma! — digo saindo debaixo da minha coberta quentinha — Já acordei. Espera um minuto.
Belinha continuava pulando e correndo de um lado ao outro. Seus latidos finos despertavam qualquer um.
— Pronto — abro a porta do quarto e assisto minha bolotinha de pelos sair como um foguete em direção à cozinha, pois sabe que a porta já está aberta a essa hora.
A luz da cozinha já estava acesa e o cheirinho de café se espalhava por todos os lados. Eu não precisava olhar para saber que meu pai já estava de pé e arrumado para mais um dia de trabalho. Essa era a rotina de todos os dias desde que eu me entendia por gente. Meus pais saiam antes mesmo do dia realmente começar e voltava para casa depois que a noite caía.
Papai estava na casa dos sessenta, mas sua vitalidade era algo que me deixava motivada. Ele emanava força e vitalidade e nada no mundo me deixava mais orgulhosa do que o fato de ser sua filha.
Entretanto, papai não teve oportunidades na vida e até hoje trabalha como um louco para conseguir dar sustento ao nosso lar e me ajudar com a faculdade.
Meu maior sonho é me tornar uma juíza e por isso me esforço ao máximo para pagar a faculdade. Estudo em uma das maiores e melhores faculdades de São Paulo, a Silvério Aguiar. Graças ao meu empenho nos estudos desde sempre, consegui uma bolsa e com isso pago apenas a metade da mensalidade, o que já é uma fortuna para mim. Porém, sei que estou tendo um ensino de qualidade e não vou sofrer com as greves que uma faculdade federal enfrenta no decorrer dos anos.
Quero ter logo o meu diploma em mãos para poder retribuir tudo que meus pais fizeram e fazem por mim. Eu sonho em dar uma vida digna às duas pessoas que lutaram desde sempre para que eu fosse feliz e bem cuidada. Eles merecem todo reconhecimento pelos esforços de uma vida inteira.
Papai e mamãe trabalham como autônomos na rua vinte cinco de março. Sei que um emprego informal não dá estabilidade a ninguém, mas a falta de estudo dos dois e a idade considerada avançada não favorecem para um emprego de carteira assinada. Preocupo-me com a velhice deles e por isso me empenho tanto em estudar para conseguir dar a eles uma velhice tranquila.
— Bom dia, papai! — O abraço por trás e beijo o topo de sua cabeça. Papai estava sentado na mesa da cozinha com seu inseparável copo de café nas mãos.
— Bom dia, Mel — Ele sorri, enchendo meu coração de alegria e orgulho.
— Onde está a mamãe?
— Estou aqui. — Ela entra na cozinha prendendo os cabelos em um rabo de cavalo — Bom dia!
Belinha passa como um furacão novamente pela cozinha, indo em direção ao meu quarto. Agora é hora de a danadinha dormir e nem se importar com o mundo ao seu redor. E eu? Eu continuarei acordada e Deus sabe a hora que voltarei a ocupar minha cama.
— Essa cachorra é uma piada. — Papai balança a cabeça sorrindo.
— Meu bebê! — falo com amor pois para mim, Belinha é como um bebezinho.
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O Contrato
ChickLitMelissa Motta é uma jovem que sonha se tornar juíza, e para isso trabalha na lanchonete da faculdade para ajudar o pai a pagar a mensalidade do seu curso de direito. Curso esse que consome boa parte da renda familiar. O que Melissa não sabia era que...