CAPITULO 04
Eduardo
Faltavam mais de uma hora para o início do turno da noite na faculdade, portanto eu precisava conversar com os professores do curso de direito o mais rápido possível. Os outros docentes também se reuniriam comigo, mas os desse curso teria que ser logo.
Alexandre comunicou aos professores que eu estava de volta e que queria uma reunião com eles antes das aulas daquele dia.
Não vou negar que estava um pouco apreensivo com que estava por vir. Eu não iria negar o medo de ver esse curso indo por água abaixo e sei que algumas atitudes minhas havia colaborado para o caos instalado na instituição, mas, ninguém poderia negar o meu amor por aquele lugar.
A faculdade era uma parte do meu pai e para mim era como se ele se fizesse presente em cada canto daquele lugar. Eu podia vê-lo em cada sala, em cada escada. Era como se de alguma forma o tivesse presente, mesmo que apenas na minha lembrança.
Minha sala continuava do mesmo jeito que eu havia deixado. Meus livros, minhas fotos, meus pesos de papel. Era como se eu tivesse estado aqui no dia anterior. Sabia que Alexandre era o responsável por tudo isso. Sei que fui falho com meu amigo em relação a tudo, já que fui para Boston e fiquei por lá mais tempo do que realmente precisava. Agora eu teria que dar um jeito nas coisas por aqui, já que causei muita arruaça com as minhas farras.
Sei que estou errado em vários aspectos, mas de uma coisa ninguém pode me acusar. Eu amo essa faculdade e a tenho como uma parte da minha vida. Sou capaz de tudo para que ela permaneça de pé, e com a melhor educação do país.
E depois de estar aqui e andar novamente por estes corredores, começo até mesmo a pensar que posso cogitar a ideia do Alexandre e arrumar uma esposa para acalmar esses velhos.
Eu precisava encontrar uma saída e o tempo era meu grande inimigo nesse momento. Estava ficando sem ele para encontrar essa bendita solução para o problema que poderia me destruir por inteiro.
Perder essa faculdade seria como perder o pedaço mais precioso da minha vida.
***
— Acho que você não tem responsabilidade, Eduardo — Ventura me olhava com descrença e isso me deixava muito irritado — tampouco maturidade para levar o legado do seu pai à diante.
— Não compartilho do mesmo pensamento que o senhor — olhei intensamente em seus olhos, e vi que o homem realmente achava aquilo de mim. Ele nem ao menos tentou disfarçar a sua incredibilidade — sou um empresário e consigo me sair bem no meio em que estou inserido. Tenho responsabilidade sim, e vou conseguir manter o patrimônio deixado por meu pai.
— Farras, mulheres, bebedeiras. Seu pai não estaria nada contente se ainda estivesse aqui — foi a vez de Medeiros se pronunciar. Os dois eram promotores e o olhar em seus rostos naquele momento era de acusação. Eu estava me sentindo um réu, e completamente sem defesa.
— Só que meu pai não está aqui — sorri — e eu sou o dono desse lugar. Se vocês não estão satisfeitos é só pedir pra sair. Não vou segurar ninguém aqui comigo. Se vocês realmente quiserem sair, não vou me opor.
— Você acha mesmo que estamos aqui por causa de outra coisa que não seja ensinar? — Beaumont se pronunciou pela primeira vez desde que a reunião começou. Ele estava calado desde então — eu estou aposentado e não preciso do salário de um professor de faculdade. Estou aqui porque conhecia seu pai e sei o quanto ele lutou pelo nome dessa faculdade, o quanto ele queria formar profissionais íntegros para compor o jurídico desse país.
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O Contrato
ChickLitMelissa Motta é uma jovem que sonha se tornar juíza, e para isso trabalha na lanchonete da faculdade para ajudar o pai a pagar a mensalidade do seu curso de direito. Curso esse que consome boa parte da renda familiar. O que Melissa não sabia era que...