IV - Preto

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O término é algo assustador, desconfortável, aterrorizante e, ao mesmo tempo, libertador. Na manhã seguinte à conversa com Enzo, Bonnie se sentia horrivelmente bem.

Tomar uma decisão que busca apenas o próprio benefício é doloroso. Não porque seja errado, mas porque se é ensinado que ser egoísta é ruim, que ser egoísta é errado, que não é uma características de boas pessoas. E Bonnie acreditava nessa mentira.

Terminar com Enzo a fez se sentir bem, se sentir livre. Depois de 2 anos ela tinha escolhido não levar em conta os sentimentos de Enzo, a opinião das amigas, a pressão dos familiares. Depois de dois anos... não, talvez pela primeira vez, Bonnie escolheu a si mesma. Ela escolheu ser egoísta e isso era tão bom, mais tão bom, que a fazia se sentir mal.

Elena não entendia oque Bonnie estava sentindo, mas ela tentava ser uma boa amiga. As duas estavam desde a noite anterior trancadas no quarto assistindo filmes bregas. Rebekah, Klaus, Elijah e Caroline, nessa ordem, tentaram falar com elas, entender como estavam e o que havia acontecido. Mas a porta do quarto só foi aberta para Damon, que trazia junto a si alguns chocolates e todos os tipos de comidas nada saudáveis que conseguiu encontrar na cozinha Mikaelson.

O sumiço de Enzo só piorava as coisas. Já eram 16h horas quando Bonnie resolveu que não deveria estragar as férias por causa da birra do namorado. Bem, ex-namorado agora! Era até engraçado o quanto aquele adjetivo soava bem aos ouvidos de Bonnie. Mas não tanto quanto aos ouvidos de Klaus, claro! Ele ainda podia sentir o gosto do sangue do outro homem na língua.

Com a ajuda de Elena, Bonnie colocou o vestido preto e saiu da casa para aproveitar o segundo dia de festival. Porque ela deveria se preocupar com Enzo? Ele provavelmente estava se lamentando da separação na cama de uma das aldeãs. Rebekah deixou escapar que o viu aos beijos na noite passada com uma ruiva. Então, que ele continuasse lá!

"Como está se sentindo", perguntou Klaus quando finalmente conseguiu afastar Bonnie de Elena e Damon. Os dois poderiam ser uma dupla irritante, mas sabiam ser bons amigos quando necessário.

"Não sei! É estranho. A essa altura você já deve saber o'que aconteceu entre mim e Enzo, não é?", responde Bonnie, com o olhar ainda fixo na fogueira a poucos passos de onde estava sentada.

"Rebekah me contou que viu Enzo com a filha de um dos padeiros e como você ficou trancada quase o dia inteiro com o casal consolação, imaginei que tivesse dado um basta ao relacionamento", responde Klaus, com o olhar fixo em Bonnie.

"Imaginou certo! É para ser sincera, até me sinto aliviada que ele já tenha corrido para entre as pernas de outra mulher. Mostra que não estava tão triste quanto imaginei. Então eu também não preciso me sentir tão mal", confidencia Bonnie. "Isso me faz uma pessoa ruim?"

"Você não seria uma pessoa ruim nem se tentasse", opina Klaus. "Quer ouvir uma história?"

Klaus toma a risada de Bonnie como um sim para a pergunta e começa a narrativa:

"Era uma vez, um solitário menino lobo que vivia entre humanos e desconhecia suas origens. Ele se sentia estranho, um intruso mesmo dentro da própria casa, da própria família. Se sentia incompleto. Os irmãos desse menino o amavam e tentavam ajudá-lo, apoiá-lo, entendê-lo. Mas é difícil entender sentimentos que não se sente.

A mãe do menino lobo, a única que conhecia a verdadeira natureza dele, até tentava o tratar igual. Mas a cada ano que se passava, mas do falecido amante ela via no filho. Uma prova viva da traição que ela cometeu, da felicidade que ela perdeu. Já o pai do garoto não era capaz de amá-lo e não entendia o porquê. E isso o deixava frustrado e ele lidava com esse sentimento da única forma que conhecia: a agressão.

A escolhidaOnde histórias criam vida. Descubra agora