Ikigai

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Opa gatinhes! Sugestão de música para o capítulo de hoje: New York - Frank Sinatra (a hora de dar play está sinalizada)

Boa leitura <3

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Bárbara's pov

Ikigai (n.): uma profunda razão de ser. O que faz você levantar todas as manhãs.

- Mas o que é exatamente esse tal de UIA? – minha mãe perguntou, enquanto colocava o cobertor limpo, dobrado, em cima da minha cama. – Se eu soubesse que dormiria aqui em casa, teria mandado Martha preparar o quarto para você. – ela resmungou, antes de eu responder.

- Union Internationale des Architectes. – expliquei a sigla para minha mãe pela quarta vez. – É um congresso internacional que reúne arquitetos de todos os lugares do mundo e os arquitetos mais importantes e destacados são chamados para falar, para fazerem palestras, ministrarem cursos. Eu ia me inscrever, mas acabou em um piscar de olhos e eu não consegui. – falei, enquanto tirava os sapatos, sentada à beira de minha cama. – Não se preocupe com o quarto, mãe.

- Eu teria mandado trocar a colcha de cama, limpar com mais...

- Mãe! – exclamei, afastando os sapatos para baixo da cama, virando-me para ela, que estava do outro lado. – De tudo o que eu falei, você só prestou atenção na parte em que eu falei do quarto? – perguntei, levemente indignada.

Minha mãe tinha o costume de ouvir apenas aquilo que lhe era conveniente. Principalmente quando o assunto tratava de algo que não era de seu pleno gosto ou interesse. O que era, exatamente o caso ali. O lado superprotetor de minha mãe costumava ser quase doentio, quando se tratava de mim. Mas não era como se ela não confiasse em mim. Ela não confiava nos outros, como costumava dizer.

- Tudo bem. – minha mãe suspirou e deixou os ombros caírem, rendendo-se à minha insistência em falar sobre o assunto. – Me explique direito. – ela pediu, parecendo estar realmente atenta, daquela vez.

- Sério? – suspirei, negando-me a acreditar que minha mãe não havia escutado nada do que eu havia dito, outra vez.

- Não, tudo bem, eu já entendi que se trata de um congresso de arquitetura. A sua professora lhe convidou para ir porque vai fazer palestras nesse congresso...

- Isso! – afirmei. – Eu nem acredito que ela me chamou. – falei, demonstrando toda a minha alegria direcionada àquele fato.

Minha mãe, é claro, entendia aquela empolgação como fruto exclusivo do fato de eu ter sido convidada por minha professora incrível, gênio da arquitetura e estratosfericamente conceituada no mundo da arquitetura e negócios. Mas a verdade é que somente dez por cento de mim alegrava-se por este motivo. Noventa por cento de mim estava em uma incontrolável euforia por ter sido convidada pela mulher que me arrepiava os poros, que me revirava os sentimentos, que me fazia tremer em sua presença... a mulher por quem eu estava apaixonada, para ir em uma viagem de três dias para Nova Iorque.

- Você deve estar mesmo louca para ir – minha mãe observou, enquanto fechava as cortinas das janelas do meu quarto. – esse sorrisinho de felicidade não saiu do seu rosto desde a casa dos Christensen.

"Seja convincente", disse mentalmente, a mim mesma.

- Você tem ideia do que é ser convidada por uma arquiteta como a professora Carolina Voltan, pessoalmente, para assistir alguns dias de palestra na UIA? – perguntei, dando um tom de indignação à minha voz. – É como ser convidada pelo Barack Obama para visitar a Casa Branca!

- Hum... – a mulher mais velha ficou calada por um instante, enquanto abria a porta do banheiro do meu quarto. – Ela vai cuidar de você lá ou você vai por conta própria? – perguntou, enquanto entrava no banheiro e então, desapareceu do meu campo de visão.

Wonderfall - BabitanOnde histórias criam vida. Descubra agora