Wonderfall - Babitan

Epílogo 2: Beàrling

Beàrling (n.): a compreensão inesperada da cura. Um sorriso para as cicatrizes.

Bárbara's pov

Março 2021

Os tons rosados dos derradeiros raios de sol de primavera que refletiam pelo espelho atrás do meu reflexo, cintilavam sobre a minha pele extremamente bronzeada, dando-me um tom, igualmente rosado. Meus olhos, de alguma forma, pareciam mais brilhantes naquele dia. Naquele dia, meus olhos eram a personificação explícita da real significância da felicidade.

Senti-me tímida ao olhar para mim mesma e sentir-me tão bonita e tão feliz, que desviei os olhos para as minhas mãos com um sorriso nos lábios, mas logo vi que era uma total bobagem e voltei a olhar para o meu reflexo no espelho e a sorrir com todo o meu corpo para mim mesma. Não havia nenhum pensamento em minha mente que não sorrisse.

Um breve filme de minha vida, incluindo cada detalhe, desde o mais bonito ao mais feio passou pela minha cabeça por alguns instantes e tudo o que eu tinha a oferecer para esses pensamentos, era um belo e enorme sorriso.

Observei meus cabelos, presos em um coque no alto da cabeça, tão perfeito quanto eu jamais poderia fazer. O admirei por alguns instantes e depois chequei alguns outros detalhes da imagem que eu via de mim mesma.

"Toc Toc", o barulho na porta anunciou alguém e eu pedi que entrasse.

- Bárbara... – Milena abriu a porta lentamente e depois encostou-se na mesma, enquanto me olhava. – Está na hora...

Flashback on

Abril 2020

Amor e medo. Esta é a polaridade. Infelizmente, a maioria das pessoas ainda vive mais no medo do que no amor. Medo do que não conhecem, medo do que aprenderam a não aceitar, medo do que vem adiante, medo do que já passou, medo de sentir, medo de serem julgadas, medo de não serem aceitas, medo do tropeço, medo de levantar, medo do que vem e medo do que vai. Medo de tudo. Aprender a libertar-se do medo é o trabalho mais importante que uma pessoa terá na vida, depois do trabalho de descobrir que tudo o que a impede de dar o próximo passo é o medo.

Se nos livramos do medo, somos capazes de elevar nossa consciência. É o medo que nos torna pesados.

Talvez, tornar-se consciente dos medos que carregamos seja a parte mais difícil de ser um ser humano, porque os nossos medos revelam quem nós somos e nem sempre estamos preparados para enfrentar quem nós somos de verdade. Medo de ser quem você é? Medo de permitir-se a liberdade exultante que há na compreensão de si mesmo como um todo? Medo de saber quem você é? Medo de saber quem o outro é? Medo de aceitar? Medo de perdoar?

Nós precisamos mudar todos os dias. Todo dia é um novo dia. Todo dia é o começo da sua vida. E quando nos tornamos conscientes disso, todo abrir de olhos traz a consciência da unicidade do presente.

Nós NUNCA temos, realmente, o segundo a seguir e ganhá-lo é um presente valioso.

Àquela altura, eu já havia perdido o medo de me dar perdão por ser quem era e assim, compreendi que eu não precisava realmente de perdão próprio. Eu não precisava me desculpar comigo mesma por estar apaixonada por uma mulher, por sentir o que eu sentia ou por ser quem eu era. Tudo o que havia para mim, era amor.

Minha mãe...? Eu já a havia perdoado? Quando a perdoaria?

Tudo o que eu conseguia sentir em relação àquela mulher que antes havia sido toda a minha fonte de compreensão de amor, agora era medo. Um medo profundo e sufocante.

- Bárbara? – Ouvi a voz de Alycia me chamando ao longe e eu levei um leve susto ao vê-la tão perto. – Onde está com a cabeça? – A garota me olhava confusa.