Seu toque em mim
Não consigo dormir
Eu sinto falta da sua ponta do pé
Esta noite deixe ir
Tip toe - patrick Reza
Realmente choveu, e não conseguimos chegar ilesos, estacionamos o carro e tivemos que enfrentar a chuva para entrar em casa.-Maldição! -escutei ele praguejar enquanto andava pela casa molhando todo o percurso que fazia.
-Zack...-o chamei calma e ele me olhou -Deixe a água escorrer um pouco lá fora e depois entre. Enquanto isso eu vou me trocar, tudo bem?- Ele me olhou rabujento e cuspiu da varanda. Era o seu "sim" mais bobo. A birra de uma criança boba.
Depois de vestir uma roupa qualquer e enxugar os cabelos vi que ele entrou e sumiu pelo corredor. Zack estava com frio, mais não queria dizer, eu sabia que viria um magnifico resfriado em seguida.
Com calma fui até a cozinha e preparei um copo de leite quente pra ele e subi descalça as escadas escutando apenas o ranger do assoalho sob meus pés, o ouvi espirrar três vezes e o seu rotineiro "maldição!" em seguida. Não pude deixar de sorrir pelo nariz.
-Esta rindo do que pirralha?!- gritou do quarto raivoso.
Isaac Foster era mais humano do que qualquer outra pessoa no mundo, na verdade, uma criança birrenta e da boca suja que teve que aprender a se virar, e a morte parecia uma brincadeira, uma forma de se livrar de problemas.
Alguém que não teve infância e que agora depois de cinco anos eu percebia isso mais que ele mesmo. As birras, teimosia e os palavrões de um adolecente, os medos de uma criança abandonada, e que grita de forma silenciosa por ajuda e carinho, Isaac foster tinha muralhas, que escondiam um coração puro apesar de tudo, que odiava traição e mentiras.
O vi de costas iluminado apenas pelo abajur velho a sua direita, sentado do outro lado da cama em duvida se enxugava os cabelos negros ou se tirava as ataduras molhadas. Fui até ele, seus olhos bicolor me fitaram duvidosos, entreguei o copo ainda recebendo seu olhar. Sua heterocromia* me deixava ainda mais facinada em como Isaac Foster era único e cheio de detalhes. Tomei a toalha para mim e passei a fazer seu trabalho, o cabelo liso embora rebelde, não oferecia resistência pra que tirasse toda a água, e logo ja estava quase seco.
-Fiz leite...- ele se manteve em silêncio - não vai tomar? -perguntei automatica.
-Obrigada Pirralha.- falou rouco de cabeça baixa agora, estava rendido.
Esperei ele tomar tudo e depositar o copo na cabeceira da cama, com calma ergui sua mão e comecei a tirar as ataduras. Depois de anos ele nem resistia mais ao meus cuidados. Sua respiração estava um pouco alterada, estava acontecendo denovo, as sensações, sentia a pele formigar a cada vez que encostava nele. Ele ainda mirava o chão. Novamente usei a toalha para retirar a umidade que restava pelo corpo.
Quando terminei ele se levantou, sem camisa, cinco anos e nossa diferença de altura agora era pouca, 15 centímetros talvez. Estava em forma, sempre esteve, os musculos existiam, embaixo de todas as cicatrizes, de bala, de fogo e de cortes. Em meio a tantas diferenciei a de cinco anos atrás, na barriga, que eu mesmo tinha costurado, atravessando os gominhos da barriga definida e não pude evitar de toca-la.
-Esta tudo bem Ray? -ao levantar o rosto estava lá, aqueles olhos raros, me fitando, atentos a qualquer movimento meu, esperando que eu respondesse. -Você sente não é... -começou baixo, um sorriso singelo no rosto, os dentes alinhados perfeitamente- essa sensaçao estranha... que almenta a cada dia.. - ele continuou. O que estava acontecendo comigo?
-Eu... -tentei construir uma frase plausível -Eu...- Falhei miseravelmente, a chuva castigava o telhado, o frio rondava por nós mas Zack não se encomodava- estou com frio...- tudo o que minha mente inebriada conseguiu processar, embora meu corpo todo estivesse possuido por correntes elétrica e consumidas por um calor sem limite.
Os dias vinham ficando mais envoltos em uma neblina de sensações, sensações estas que aquele homem a minha frente vinha causando, coisas que não sabia como devia reagir, que eu queria sentir mais e mais, que não fazia noção de por onde começar.
Os braços fortes de Zack me cercaram, era quente, confortável e familiar, correspondi, desajeitada, o rosto escondido em meio as cicatrizes e os músculos definidos.
Algumas poucas vezes, quando nos mudamos para cá e iamos a cidade, via a forma que mulheres da sua idade e até mesmo mais velhas o olhavam. As vezes até conversavam com ele, Zack até sorria e parecia meio envergonhado, ver ele sem palavras era novo pramim, na época, ele trocava algumas poucas palavras, não que alguma vez ele me deixasse ouvir, e parava por ai. Não entendia antes, mas agora sabia do que se tratava, a luxúria e sexualidade que mulheres tinham a oferecer a ele, o brilho nos olhos, que várias vezes o ouvir dizer que não havia nos meus. Isaac Foster, emanava misterio e testosterona além do perfume amadeirado.
Pelos céus, ele tinha 25 anos, era lindo, apesar de tudo que sofreu, poderia ganhar o céu se quisesse, eu era uma menina sem graça que ele ajudou a criar dos 13 aos 19, o que eu tinha a oferecer?
Não sei quanto tempo durou o abraço, quantos segundos senti aquela sensação nova e maravilhosa. Me desvencilhei de seus braços para pegar um blusa encima da cama e a ergui em sua direção.
-Está frio... -comecei - vamos dormi.
Desajeitado ele vestiu a blusa e se sentou na cama ao meu lado, o cabelo ainda úmido, e deitou em seguida, em silêncio.
Zack pegava no sono rápido, me perguntava se tinha algo em relação a sua vida antiga. Todas as noites, desde que passei a dormi ali, esperava ele dormi e lhe fazia cafune, com os dia que se passaram percebi que muitos pesadelos ainda o atormentava e sem querer acorda-lo foi a forma que achei de conforta-lo, Zack tinha espasmos, chorava e até mesmo pedia e implorava por ajuda, coisas que não fazia acordado. O temperamento forte e arrogante era um perfeito disfarce.
Não foi tão ruim a idéia de dormi com ele, passei a velar seu sono, cuidar dele, o cobria quando tinha frio e de forma desajeitada tentava acalenta-lo durante a noite.
"Você sente não é..."
Minha cabeça relembrava, a chuva lá fora, não conseguia de forma alguma pensa nisso de maneira correta. Tinha lido livros que falavam de amor, ou desses sentimentos estranhos, mais nada, jamais tinha me preparado pra isso.
Eu tinha 19 anos, ele 25, era vivido, conhecia mulheres, o que eu tinha a oferecer? Já vi, algumas vezes mulheres flertarem com ele, quando era mais nova, claro, não vi mais a algum tempo, mas lembro do charme, dos toques, do que existia nos olhos delas, os que Zack sempre lembrava que não existia vida nos meus.
Deitei de costas para ele cessando o carinho que fazia em seus cabelos, demorei a pegar no sono, raios, trovões e pensamentos tolos. Zack mechia-se muito, até que senti encostar suas costas na minha, o calor e o aconchego mínimo me relaxaram, não sei quanto tempo fitei o assoalho da parede velha e o reflexo da chuva refletida nela a cada raio o relâmpago que surgia. Foi dessa forma que passei a noite até tudo ficar negro.
" o que eu tinha a oferecer?"
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O que existe entre nós - Satsuriku No Tenshi
Fanfiction"Cinco anos e uma semana que nos conheciamos, cinco anos se passaram desde que saimos daquele prédio aos pedaços, quatro anos e seis meses que viviamos juntos, sem leis, sem regras. Os limites civis não existiam para nós, embora quiséssemos viver co...