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Nelly

Tinha alguma coisa esquentando dentro de mim. Não como quanto você está borbulhando de felicidade ou de entusiasmo. Ou, talvez, quando você está sozinha com alguém que você gosta, em um quarto ou no banheiro de uma festa, completamente perdida na sensação do mundo inteiro a sua frente.

Era algo ruim, algo que eu não gostava. Algo como uma panela de pressão, assoviando fumaça quente e fazendo um barulho tão alto ao ponto de causar caos pela casa inteira. Porque quando aquela panela está ligada, você tem que continuar gritando para os outros te ouvirem, e se alguém não a desligasse, ela explodiria.

Me pergunto quando meu corpo começou a ficar pesado desse jeito. Quando essa pressão começou a se formar. Era como se meus órgãos houvessem se multiplicado dentro de mim. Como se, agora, eu tivesse três rins, um fígado extra e dois litros a mais de sangue correndo pelas minhas veias. O meu corpo me puxava para baixo constantemente, me puxava para abaixo até eu ter que fugir de mim mesma.

Honestamente, eu estava cansada.

O negócio era: eu não sabia quando essa sensação havia começado. O meu palpite foi que começou três anos atrás, na semana antes de eu completar dezessete anos. Foi nessa semana que eu tive a minha primeira grande decepção amorosa. Aquela que me fez ficar de cama por um mês seguido, sem querer comer ou falar com ninguém. O mês que eu fiquei completamente melancólica e angustiada.

Mas meu pai também morreu nessa mesma semana, então talvez tenha sido por isso.

"E qual é o seu próximo projeto, Nelly?"

Havia uma roda de pessoas ao meu redor. Ava Moore, que atuou como a mocinha em "A ópera da Fúria", o filme que terminamos de gravar há uma semana, e mais quatro homens. Eu conhecia três deles, que eram produtores e diretores de outros filmes que já fiz, mas o outro, o mesmo que me fez a pergunta de qual será meu próximo projeto, eu não fazia ideia de quem ele era. Tudo o que sei é que o último nome dele é Jenhill, porque ouvi um dos diretores o chamar assim.

Como demoro muito para responder, a Ava me chama. "Nelly?"

Eu pisco algumas vezes e volto a prestar atenção nos homens me encarando em silêncio, com um sorriso maior do que cabia no rosto. Parecia desconfortável. A boca deles já não estava cansada de sorrir tanto? A minha, pelo menos, estava.

"Sim?" Eu volto a realidade. "Ah, claro. Eu vou fazer um filme, um filme de época que se passa no século 18."

"Isso parece muito empolgante. Qual o seu papel?" O homem baixinho e desconhecido pergunta.

Por um momento, eu fico com receio de o responder. Primeiro porque ele provavelmente quer continuar a conversa do meu próximo filme, e eu não poderia nem conversar sobre o assunto, e segundo porque ainda não havia sido divulgado a minha participação no filme, e eu não gostaria de vazar o meu próprio filme para a imprensa.

Mas, para a minha sorte, quando eu abro a minha boca para o responder, o comandante do barco que estávamos avisa que já estava tudo pronto para deixarmos a terra firme e adentrarmos o alto-mar.

Tudo bem, talvez não tenha sido tanta sorte assim.

Eu não podia acreditar que eu ficaria presa em um barco pelas próximas três horas com pessoas que me fariam as mesmas perguntas a cada dez minutos e que me tratariam de acordo com os rumores que eles ouviram sobre mim, assim como fizeram pelos dois meses de gravação do filme.

DESCULPE PELO DRAMAOnde histórias criam vida. Descubra agora