3

566 89 67
                                    

Nelly

Eu acho que estou mais bêbada do que deveria. Se eu estivesse sóbria, eu não teria bolado um plano ridículo que provavelmente não daria nada além de muito errado.

Mas dando certo ou não, pelo menos eu estaria no meio de uma multidão, onde nada de ruim aconteceria comigo.

Eu não vou mentir, no início, eu estava com muito medo.

Além do mais, um homem havia acabado de pular no barco que eu estava, enquanto eu estava sozinha.

Que outra emoção eu deveria sentir além de medo?

Mas eu não deixei isso me derrubar. Coloquei a máscara que aprendi a usar pelos últimos vinte e um anos e fiz o que faço de melhor, que é me transformar em outra pessoa.

Naquele momento, eu precisava de alguém que não sentisse medo, que fosse mais corajosa do que eu.

E, por mais que o meu medo tenha se dissipado ao ponto que conversarmos e eu percebia que ele não era tão ameaçador assim, acho que esse plano deu certo.

Ele provavelmente acreditou naquela pessoa, e não como apenas acreditou, como também colocou toda a sua confiança nela. Arriscou o resto da sua vida em alguém que não conhecia.

Para um ladrão, eu esperava mais.

Mas é claro que eu não poderia o julgar o tanto quando gostaria. Quem quer que ele fosse, ele não teria outra escolha a não ser confiar em mim para sair daquele barco.

A não ser que ele queira pegar uma sentença muito maior por manter uma pessoa como refém.

"Você não vai poder ficar do meu lado o tempo todo," falo, enquanto tento ajeitar um pouco do meu cabelo antes de voltar para dentro do barco.

"Eu sei que não, mas não se preocupe, eu sempre estarei de olho em você," o saltador de barcos responde, e logo depois pisca para mim.

Eu sei que deveria me sentir preocupada e amedrontada pelo que ele acabou de dizer, mas não em sinto desse jeito.

Como eu disse, ele não me parece perigoso. Só parece alguém que rouba mal o suficiente para ser pego.

Eu respiro fundo antes de responder. "Quer saber? Por que você não fica aqui fora e espera até você poder pular de volta para onde quer que você tenha vindo?"

"E deixar que você entre dentro daquele barco e diga para todo mundo que estou aqui? Acho que não."

"Você pode confiar me mim."

"Não posso não."

"Como você sabe?"

"Aprendi a não confiar em mulheres bonitas," ele reponde, e parece que se arrepende de ter dito isso no momento que termina a frase.

A situação fica estranha apenas por alguns segundos, antes de eu desesperadamente tentar dar um fim a ela.

"Já que você não confia em mim, então por que você não pula no mar e volta nadando para a costa?"

"Você enlouqueceu? Já estamos longe demais da Costa. Até lá, já vou estar congelado no meio do mar."

"Isso não seria tão ruim assim," comento baixo. Ele me escuta e posso ver claramente que o meu comentário não o alegrou.

"Seria para você," ele retruca, como se fosse uma criança.

"Como isso seria ruim para mim? Eu me livraria de você."

"Você carregaria o peso de ter contribuído para a morte de outra pessoa," ele explica. "Você realmente quer carregar esse peso?"

"Eu não me importaria de carregar esse peso," respondo, e ele ri. Não aquele rir de gargalhar. Ele apenas abre um sorriso no canto dos lábios que não dura por mais do que meio segundo.

DESCULPE PELO DRAMAOnde histórias criam vida. Descubra agora