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ABIGAIL's POV


"O quê?? Porquê?" gritei com voz firme. A frustração inundava o meu corpo de uma maneira inexplicável.


"Eu já lhe disse que hoje não sairá à noite com os seus amigos. Fim de discussão." a sua voz saiu ainda mais firme que a minha. A minha progenitora sempre fora muito fria e insensível, provavelmente devido à falta que sentia do meu pai. Ele sabia sempre como amolecer o coração rochoso desta mulher.

"Isto não fica assim." desta vez não gritei firmemente, saiu trémulo mas alto e rouco enquanto que batia a porta da enorme sala e subi as escadas em direção ao meu quarto.


"Porquê? Porque é que o meu pai não está aqui comigo? Ele prometeu-me que me ajudaria. Uma rapariga de 17 anos não pode ser deixada para trás desta maneira, sem aviso prévio ou preparação." As perguntas eram muitas. Sempre que enfrentava a minha mãe, por muito estúpidas e insignificantes que fossem as nossas discussões sentia sempre um vazio em mim, uma necessidade de receber atenção ou o amor que nunca recebi por parte da minha progenitora. Frustração é o que eu sinto com isto tudo que se passa e passou, e eu sei que ela também sente o mesmo. Eu já tinha apanhado aquela dura mulher a chorar por diversas vezes. Eu sei que também é difícil para ela assimilar as nossas discussões. Para ultrapassar as nossas guerras eu focava-me em algo que eu realmente amava: a minha querida dança. Apesar de me ter sido imposta, era algo que eu realmente gostava. Era a única coisa que me animava depois de um longo dia de aulas. Mas desta vez, tudo iria ser diferente. Eu não me iria trancar no sótão para dançar até à exaustão, como sempre fizera para me afastar da minha mãe, deste labirinto a que chamo casa e desta bola de lã cheia de nós a que gosto de chamar de vida. Não, não outra vez.


Sem pensar duas vezes, peguei no meu casaco de cabedal escuro e no meu telemóvel metendo-o no bolso de trás das minhas calças. Saí disparada do quarto onde me encontrava e com grandes passos desci as intermináveis escadas até à (exageradamente grande para duas pessoas) sala. Enquanto que me diriga para a porta da frente, uma voz familiar soou "Onde vai a estas horas, menina? Eu disse-lhe que não podia ir sair com os seus amigos.". Quando me virei, a minha mãe encarava uma expressão cansada e possivelmente de quem havia estado a chorar, mas mesmo assim, continuava fria e insensível.


"Não vou estar com os meus amigos. Apenas preciso de ir apanhar ar. Sinto-me sufocada nesta casa." Saiu-me calmamente dos meus lábios, mais do que pensava até. "Não volto tarde." Dito isto e sem dar tempo para uma resposta, dei um passo em frente e levei a mão à maçaneta rodando-a cuidadosamente. Saí por aquela porta e bati com a mesma. Fúria era o que invadia o meu corpo. Aquele vazio tornara-se impercetível no meio da angústia e raiva que dominava todo o meu ser.


A noite estava agradável e a temperatura era incrivelmente suportável para a estação em que nos encontrávamos. As noites de janeiro em Inglaterra sempre foram degradantes devido às baixas temperaturas. A rua encontrava-se deserta e apenas se ouviam as leves sinfonias dos pequenos grilos escondidos na relva dos jardins. Era realmente relaxante e bem melhor do que passar uma noite inteira trancada no sótão de uma mansão a dançar.


O sentimento de raiva havia passado e agora encontrava-me calma e inexplicavelmente trazia no rosto um sorriso estúpido. Estaria eu feliz? Feliz por estar longe de tudo e de todos? Ou estava feliz por ter contrariado a minha mãe? Feliz por ter provado a todos que conseguira viver tantos anos sem pai e sem ter quem me amparasse a queda? Ou apenas era o meu corpo a pedir algo? Não sabia porque me encontrava assim, mas o que era certo é que eu precisava de reformular a minha vida e pensar numa mudança.

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