Capítulo 2

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Vitor

Mudanças são necessárias! E sempre muito bem-vindas para mim, mesmo que ainda sinta um pouco de insegurança. Sempre idealizei voltar para essa cidade. Via como se fosse minha vitória triunfal em cima daqueles que queriam me prejudicar.

Liguei a seta e entrei na rua do meu novo endereço. Pensar nisso me fez pensar no quanto estava sendo incoerente. Ninguém nunca tentou prejudicar a mim ou a minha mãe, mas como sempre ouvia suas lamentações por um tempo acreditei nessa teoria da conspiração. Foram necessárias várias sessões de terapia para entender e se minha terapeuta ouvisse esse pensamento mudaria imediatamente seu último diagnóstico.

– " Por que esse empenho para regressar a sua cidade de origem? O que você busca encontrar?" – Lembrei de suas palavras.

Respondi de imediato que tinha memórias afetivas, o clima e a segurança. Além de sentir um pouco de vaidade por estar voltando com um cargo importante da indústria na qual trabalho há muito tempo. Comandar a mais nova filial dessa indústria é de muita responsabilidade. Confesso que esse é o cargo que sempre quis ter e quando apareceu a oportunidade de ser justamente aqui não medi esforços para estudar e me empenhar ao máximo na seleção. E, consequentemente, aqui estou me deliciando com o sabor da conquista.

Desço do carro e apenas pego minha mochila no banco ao lado. Tenho pressa de ver como ficou meu apartamento alugado, por enquanto. Tinha contratado uma empresa que se responsabilizou com tudo inclusive a decoração.

Abro a porta e fico muito satisfeito com o que vejo. Um apê pequeno, porém bem aconchegante, iluminado e objetos de decoração de bom gosto.

– Acho que serei muito feliz por aqui – falei depois de percorrer todos os cantos do meu mais novo lar.

Pego meu celular no meu bolso e como se lesse meus pensamentos o meu irmão me ligava. Sorri ao pensar na nossa sintonia.

– Alô – fingindo não ter o seu número registrado.

– Oi sou eu! – Falou com sua alegria infantil sempre

– Eu quem?

– Sou eu o Vavá, seu irmão – falou rindo – já se esqueceu, foi?

– Não! Claro que não. Nenhum dia, nenhum dia esquecerei de você! Como foi na escola?

Meu irmãozinho tinha três aninhos e era um encanto de menino. Fruto do casamento de minha mãe com o doutor Valdomir Pergolato, atual diretor do hospital dessa cidade. Os dois se casaram e logo após foram morar na capital, que não é tão distante daqui, mas o que nos fez mudar de cidade quando tinha dezesseis anos. O Vavá demorou um pouco para vir, mas quando chegou iluminou a minha vida. Ele é o melhor que poderia me acontecer na vida inteira.

– Você ainda está aí? – Sua voz me despertou das lembranças. Eu não queria sair dessa cidade, mas fui obrigado. Afastei os pensamentos nostálgicos e voltei a me concentrar na conversa.

– Estou sim. Assim que puder eu vou te ver aí. – Reforcei a promessa que lhe fiz pessoalmente. Meu irmão e eu éramos muito unidos e sempre que podia ele estava na minha casa lá na capital.

– "Não! Eu quero ir pra aí."

– Eu sei que você sentirá falta disso, mas prometo que quando puder te trazer aqui. Vou te buscar para passar o final de semana comigo. Agora não vou ter tanto tempo livre, mas darei um jeito.

– Promete?

– Prometo. Agora me deixa resolver as coisas por aqui. Amo você.

– "Te amo!"

Depois de retirar toda a minha mudança do carro, resolvi passar no mercado e fazer algumas compras. Não tinha intenção de sair esse final de semana, mas precisava comer o mais saudável possível, não daria para viver de iFood, pois não sei quando poderei me matricular numa academia.

A cidade não tinha mudado muito. Foi inevitável não sorrir ao lembrar da última vez que estive aqui e resolvi comer no restaurante do Miguel. Foi uma bela surpresa encontrá-la por lá. Será que hoje teria a mesma sorte se resolvesse passar pelo restaurante?

– Vitor! – Ralhei comigo pelo retrovisor. – Foco! Você não regressou a essa cidade por causa de uma paixão de criança.

Entrei no estabelecimento e logo me entreti com os alimentos. Algo que gosto bastante. Procuro ser sempre seleto com aquilo que vou consumir. Depois do carrinho cheio resolvi pegar um vinho, seria bom para relaxar numa noite depois do trabalho. Segui até o local sem prestar muita atenção ao redor, apenas queria voltar para casa e descansar.

Levei a mão à prateleira ao mesmo tempo que outra pessoa também o fez e nossas mãos se tocaram.

– Descul... Lívia?! – Congelei ao observá-la tão perto de mim.

– Vitor?! – Seu rosto permanecia o mesmo de que me lembrava, agora com traços mais maduros, mas olhos ainda tinham o mesmo brilho. – Estava distraída não vi que você estava se aproximando.

– Tudo bem. Fique à vontade – peguei o vinho que era da mesma sacra do qual eu gostava e lhe entreguei.

– Obrigada.

– Oi! Eu acho melhor eu ir pegar um lugar na fila – uma jovem falou ao seu lado.

– Vitor, essa a Lyandra minha irmã.

– Sua irmã?! – Fiquei admirado, pois lembrava dela apenas como uma criança.

– Prazer, Vitor – ela apertou minha mão e voltou a olhar para a irmã que balançava negativamente com a cabeça. Parece que elas tinham algum segredo que a Lívia não queria que ela compartilhasse comigo.     

Voltei! Um pouco atrasada do combinado, mas peço que não desistam de mim!

Até sexta!

O amor é o segredoOnde histórias criam vida. Descubra agora