Élan

50 4 34
                                    

Dedicatória:

Para Lord; Alguém que ainda acredita que posso escrever histórias, encantar pessoas e me conectar a todos através das minhas palavras.

Meu sol.

Meu Naruto.

•••

"Se eu fosse a chuva, poderia unir meu coração ao de outro alguém?

Assim como ela une os eternamente distantes céu e terra". - Kubo, Tite. Memories in the Rain.

•••

EU sabia que éramos diferentes.

Nós nos conhecemos ainda bebês. Minha mãe era melhor amiga da mãe dele. Frequentamos o mesmo jardim de infância, a mesma escola primária, o mesmo ginásio e fomos aceitos na mesma universidade. Acompanhei cada passo de Sasuke, o mantinha em rédea curta, o observando de perto. No jardim de infância minha memória mais marcante é ele dormindo até mesmo fora do horário da sonequinha. Apesar de uma memória desbotada, fora de seu nexo e já sem som, eu me recordava daquelas bochechas rosadas e cabelos pretos como carvão.

Lembro de voltar para casa com Shikamaru, Kiba, Choji e Gaara, e o ver acompanhado das meninas da escola. No ginásio eu o encontrava sempre que ia na loja de CDs que havia na descida da colina onde nossas casas ficam. Com os fones, olhando a contra capa dos discos. Normalmente podia-se ver na sua mão Radiohead, Blink 182, Bon Jovi, mas sempre, sempre, Nightwish. Não éramos apenas conhecidos, éramos amigos, muito embora na escola ficássemos afastados um do outro. Nunca entendi, mas parece que lá assumimos papéis diferentes. O jogador de futebol encrenqueiro, um nerd alternativo com roupas escuras e nariz nos livros.

Era apaixonado por ler as histórias de Sasuke. Qualquer coisa que ele escrevesse. Fanfics, poemas, crônicas, contos, prosa... Não era de escolher, apenas de aproveitar. A escrita dele tocava fundo e me sentia assistindo a um filme! Já fiquei sem finais ou com histórias pela metade mais de uma vez. Sasuke às vezes era de lua; Tinha suas fases, digo isso quanto a seus gostos. Volúvel com suas paixões pela arte do cinema e da escrita, mas nunca com ideais. Adorava como defendia o que acreditava, como era firme de opinião e como em brigas podia ser flexível como um cipó contornando o problema para então voltar a sua forma normal sem se partir.

Sasuke tinha fases, e quanto mais eu as entendia e aceitava, mais podia observar sua beleza como um todo.

Ele não se dobrava, entortava ou quebrava para caber em mundos alheios. Ele podia transformar, convencer, moldar tudo ao seu redor. Entretanto, a criação rígida do pai o vexou. Como um carvalho frondoso que teve seus galhos podados deixando ele apenas com a aparência parcial do que um dia poderia ter sido. Ele se escondia em uma carapaça e não falava. O que chamavam de metidez era só sua timidez. Por vezes eu desejei tirar dele os complexos, iluminar os cantos escuros de sua mente.

Quando ia a minha casa para usar o telescópio a fim de observar as estrelas, eu o observava. Encostado à parede de meu quarto, sentado em minha cama, com uma xícara de chocolate quente na mão eu observava Sasuke Uchiha olhar as estrelas. A pele clara que refletia a luz pálida do luar, os olhos como duas pedras de ônix. As feições delicadas e cabelos negros. Seu corpo magro abraçado pelos jeans escuros e o suéter azul marinho.

Ele tinha os olhos de quem desejava ir longe. Talvez até as estrelas e de volta. E eu acreditava que ele poderia fazer de tudo!

Summer Storm, Winter Fog Onde histórias criam vida. Descubra agora