Chuva

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Bruno se levantou com cautela de seu novo quarto. Não haviam mais tantas escadas, muito menos pilhas de areia. Era simples e prático. O mesmo consistia em um palco pequenos para seus ratos, duas poltronas vermelhas, uma caverna de visão, uma ampulheta no centro, onde haviam caminhas para cada um de seus bichinhos.

Não era tão espaçoso quanto antes, mas era muito melhor.
Ao sair do quarto com pijama e coçando o cabelo bagunçado, já podia ouvir o som das pequenas gotas de chuva caírem sobre o teto da Casita. O som da água nas telhas remetia a uma especia de melodia tranquilizante, que apenas incentivou o homem a querer voltar a dormir.
O pensamento de Bruno estava distraído com o barulho, mas quando se deu conta que pode simplesmente ser por causa da sua irmã Pepa,que já está tendo um dia ruim, bem...isso seria horrível. Ter de aguentar trovões aonde quer que ela esteja, não é bem o melhor programa para um domingo a tarde.

Ele desceu as escadas indo em direção a cozinha, onde encontrou apenas Mirabel, Camilo e Luiza tomando seu café da manhã.Eles já estavam todos vestidos e arrumados.

- que horas são ?- Bruno perguntou soltando um bocejo.

- são quase onze horas, Tio Bruno. - Mirabel apontou para o relógio.

- então esse é lanche da manhã ?

Mirabel assentiu com a cabeça, respondendo que sim. Bruno colocou as mãos sobre o rosto, suspirando.

- estou dormindo demais...- ele sentou-se enquanto pegava a última Arepa da tigela- porque está chovendo hoje ?- ele perguntou ao morder seu alimento.

- mama e papai estao brigados- Camilo bufou- papai reclamou que ela não tomou banho antes de dormir...

Bruno ficou boquiaberto. Não era o melhor motivo,mas por que diabos Félix reclamou disso ? 

- como sabe disso ? - Bruno indagou o sobrinho.

- Dolores.

Claro. Ter uma sobrinha que escuta tudo é algo...constrangedor.

Não dá para manter segredos com ela em casa.

Mirabel e Luisa se levantaram.

- bom, eu e a Mirabel vamos ajudar na missa da minha hoje. Tenham um bom dia.- as duas saíram pela porta dos fundos da cozinha sem muita pressa.

- missa...chatice...- Bruno deu mais uma mordida em sua arepa.

Camilo ficou encarando-o com muita paciência. Ver Bruno comer não era bem a melhor visão. Mas era melhor que ficar em uma igreja com um padre careca que ilumina o salão apenas com o brilho da calvície.

Bruno olhou para Camilo, engolindo o último pedaço restante.

- o quê? O que foi ?- ele perguntou.

- nada. Só que você é muito tedioso- Camilo gozou dele.

- bem, com chuva, apenas você e eu em casa, todos ocupados e sua mãe de mau-humor, o que poderia ser pior ?- Bruno retrucou.

- é- o garoto deu de ombros- com esse pijama furado não vai dar pra melhorar o humor da mama.

- eu vou me trocar- Bruno se levantou indo de volta para seu quarto.

Camilo esperava que algo surgisse, mas parece que seu domingo se baseava em ajudar sua mãe e seu pai se reconciliar com a ajuda do tio mais azado de todos.

- oi- Bruno estava parado diante da porta usando sua roupa de sempre: uma camisa roxa, uma calça de verlô marrom.Porem sem seu poncho.

- não tenho escolha ?

- a não ser que queira se olha no espelho durante todo o dia, não.

Eles se entreolharam.

- então...qual seu plano?

- não sei, só quero que a chuva pare. Ainda mais se Pepa está brava. Odeio quando ela fica assim- ele fechou os olhos e então começou a bater nos corrimãos- bate, bate, bate na madeira!

- errado não tá... Mas se mama e papai estao brigados, só uma boa conversa entre os dois pra resolver.Mas como meu pai acha que dessa vez ele está certo, vai ser difícil.

- tem razão.Seu pai sempre concorda com a Pepa, mas acho que agora isso foi choque pra ela.Tinhamos que dar um jeito nisso...

- mas como ?

Eles pararam por alguns minutos para pensar. Mas nada surgia.

- bom, onde está seu pai ?- Bruno perguntou.

- não sei...mas não deve estar em casa.

- eu não quero sair com essa chuva.

- você não pode ter uma visão ?

- garoto,eu vejo o futuro, e não onde as pessoas estão.

- então veja para onde meu pai vai ir no próximos minutos.

- isso foi inteligente.Voce ficou esperto agora?- Bruno zombou.

- ei!

- quando você era menor não era assim.Chorava sempre que não sabia resolver as coisas mais simples- Bruno riu.

Camilo cruzou os braços.

- vai ter a visão ou não ?

- vou agora para minha caverna ver. Volto assim que conseguir.


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