Um momento valquírias - Parte II

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Gwyneth

Os olhos da sacerdotisa passeavam por toda a vista, aproveitando cada detalhe. Até mesmo o caótico fluxo a impressionava.

— Puta que pariu, achei que nunca íamos chegar. — disse a ruiva, após descer o último degrau da Casa.

A risada de Nestha soou alto, chamando a atenção de algumas pessoas que passavam.

Elas ainda ofegavam quando chegaram a rua illyriana principal. A dupla brilhavam devido o suor e com certeza pediriam um banho para Emerie.

O calor da cidade iluminava cada ponto do corpo dela, Gwyn tinha sentido falta disso.

Sim, o templo não era uma metrópole, porém ele tinha vida. Ela conversava com gente e não se preocupava com nada.

Nestha apertava firme a mão da colega, para lhe passar segurança. Ela olhava os passos da ninfa, como uma coruja vigiando os filhotes.

As duas continuaram a caminhada apressadamente, empolgadas em rever a amiga.

Elas chegaram cansadas na loja de Emerie. Era um comércio bem localizado, com uma organização impecável. O estabelecimento era feito de modo rústico, com uma madeira escura e uma lona vermelha chamativa na frente. O interior era claro, como se existisse um pequeno sol ali dentro. Havia várias prateleiras espalhadas, recheadas de produtos.

Um sino agudo soou quando elas entraram, chamando a atenção da atendente.

A morena estava com os cabelos cabelos um coque, para que não atrapalhassem o trabalho.

Ela saiu de trás do balcão e deu um abraço forte nas duas.

— Vocês estão podres! — exclamou, se afastando e  fingindo nojo. — Finalmente as madames vieram me visitar — um sorriso surgiu no rosto de Emerie, enquanto a mesma dava um beijo na bochecha de Gwyneth.

— Digamos que eu sou uma fêmea muito ocupada — brincou.

— Isso não é desculpa, Berdara. — a morena deu um suspiro cansado fajuto e perguntou — O que vocês vieram fazer em minha humilde residência?

—  Viemos entregar algumas papeladas para você.

Os papéis estavam levemente amassados, mas Emerie leu com rapidez.

As três iniciaram um papo espirituoso e ininterrupto. O céu começava a ficar escuro quando um cliente chegou.

Um macho alto e cheio de músculos, o estereótipo de um illyriano.

Nestha e Gwyn se afastaram para não atrapalhar Emerie, que ajudava o homem a achar uma bota.

A grã-feérica percebeu a ninfa ficar dura como pedra e apertar ainda mais forte a mão esquia. A Archeron passou os braços ao redor da sacerdotisa, tentando puxá-la para mais perto.

Por mais que elas tentassem esconder, movimento ficou suspeito para Emerie, que tratou de acelerar sua venda.

— Eu tinha esquecido o quanto clientes são chatos.

— Nestha Archeron! — a illyriana deu um tapa fraco. — Eu não consigo te imaginar vendendo coisas — com um tom claro de piada.

— Papai era mercador, e os mais ricos compradores iam nos visitar. — explicou — Mas eu odiava. — a feição Nestha mudou e ela pigarreou.

Emerie e Gwyn mudaram de assunto de forma rápida, para não chatear a grã-feérica. Toda vez que mencionavam o falecido Archeron, Nestha se encolhia e ficava melancólica.

Já estava de noite quando elas ajudaram Emerie a fechar a loja.

Com um suspiro cansado fingido, a illyriana falou:

— Que não saia daqui, porém eu estou cansada de ter tanta coisa para fazer. —  ela apoiou as mãos na cintura e disse. — Sendo sinceras, por que vocês estão aqui?

Nestha pode ver as peças da cabeça de Gwyn batendo uma nas outras.

— É que eu sai do minha casa... ela era alugada, sabe...

— Não, você nunca me contou. — disse ela seca, cruzando os braços.

Emerie descobriria rápido se as coisas continuassem assim. Ela não era idiota e Gwyneth mentia muito mal. Com isso, Nestha decidiu interferir.

— O dono da casa despejou ela e nós estamos procurando uma nova para ela.

Elas puderam ver a sobrancelha da illyriana se arquear e tentaram não parecer nervosas.

— Você sabe que alguma casa que tenha aqui nas redondezas? — Nestha deu um sorriso amarelo.

Emerie ficou uns segundos quieta e falou baixo:

— Bom... como eu já disse, eu estou muito cansada de cuidar da loja sozinha. Se você quiser — disse para Gwyn — pode morar aqui comigo.

Gwyneth abriu e fechou a boca sem conseguir falar.

— E então?

— Eu quero. — a voz dela tremulou. A morena abraçou a ninfa. Enquanto isso, o olhar da ruiva cruzou com o de Nestha, como um pedido para que ela guardasse segredo.

O coração dela tinha pesado. Gwyn sabia que Emerie era de confiança, sabia que ela nunca abriria a boca. Porém a biblioteca era uma coisa maior, uma instituição secreta de um grão-senhor.

Emerie começou a andar pela casa, mostrando animadamente as coisas para as duas, tirando a garota do pensamento.

O quarto dela era rústico, como a maioria das construções do local. Tinha poucas coisas como decoração, que deixava-o a cara da dona.

Numa prateleira, em um canto, havia um bibelô dourado que chamou a atenção da ruiva. Ele era delicado e luxuoso, contrastando com ambiente. Nele tinha escrito algo em feérico antigo, que Gwyn não pode decifrar. Com curiosidade, ela perguntou:

— Quem te deu?

— Uma amiga — falou a morena, tentando mudar de assunto.

Ela mostrou os livros novos e falou os lugares que queria ir.

De frente para uma janela, tinha cama maior que uma de solteiro. Por causa das asas, a maioria dos móveis eram adaptados.

— Bom, talvez a primeira noite nós tenhamos de dividir.

— Não vai ter problema, Gwyn é elástica. — disse Nestha

O trio deu uma gargalhada sonora e já iniciaram os preparos para dormir.

A noite passou rápido e elas se divertiram contando histórias que aconteceram com elas e relembrando alguns momentos da amizade delas.

Elas já estavam na cama e as duas já estavam dormido, com a ninfa no meio das duas, abraçada na illyriana. A sensação era confortável, como uma manhã quente.

Gwyn olhava fixamente para as amigas quando ela percebeu o quanto amava ter elas em sua vida imortal. Ela se sentia livre com elas, como um pássaro curado recém-saído da gaiola.

Uma hora ela contaria a verdade para Emerie.

Um dia ela poderia contar.

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