Ao ouvir o que Kara disse, Lena ficou em completo estado de choque. Estava tão atônita com a declaração que simplesmente parou de se balançar no ritmo da música.
Kara ainda a mantinha próximo de si, mas percebeu que algo não estava certo, então sentiu aos poucos seu coração se afundar e o medo de ter estragado tudo surgir.
— Me diz alguma coisa, Lena — afastou a cabeça de seu pescoço para encará-la. — Não precisa me dizer palavras bonitas, mas apenas me diz ou faça alguma coisa pra eu saber o que esperar.
A morena tentava encontrar as palavras certas. Poderia dizer bem ali no meio daquele restaurante a sua assistente o quão maravilhosa ela era e o quanto a queria bem. Era só dizer isso que Kara entenderia que ela também foi fisgada. Não havia mistérios em só dizer o que era a verdade que estava em seu coração.
Lena abriu a boca, mas logo a tornou fechar. Sentia sua garganta seca, seu corpo trêmulo e quase pegando fogo por estarem tão próximas e sua mente dizia que Kara era a pessoa certa. Era a pessoa que a conhecia bem e a tratava melhor do que todos. Era a pessoa que ela admirava e queria sempre por perto. Era a pessoa que há muito tempo vinha virando sua mente, mas ela nunca quis admitir.— Eu... É... — a olhou nos olhos, mas logo desviou. — ode me levar embora? — disse se sentindo completamente estúpida.
— Claro! — respondeu no mesmo tom doce de sempre.
— Kara...
— Vai indo para o carro, vou... — a soltou começando a andar para trás. — Só vou, dar um “oi” para a gerente.
Parada no mesmo lugar, Lena percebeu que o brilho que havia naquele belo par de olhos azuis tinha simplesmente dissipado e isso doeu em si. Kara merecia uma resposta a altura, mas simplesmente não conseguia. Não naquela hora.Era estranho ter um sentimento tão grande velado dentro do peito. A Luthor nunca tinha passado por aquilo, nunca soube a sensação de amar e ser correspondia. Agora estava rendida de amores pela loira, por tudo de bom que ela a fazia sentir e por fazê-la se sentir única e ela mesma.
Não foi em três dias que ela havia se apaixonado. O sentimento sempre esteve ali, mas ignorou todos os sinais. Era mais fácil não lidar com esses sentimento. Na verdade, era mais simplesmente fingir que não sentia, que era uma megera, uma bruxa e tudo mais que costumavam a chamar. Às vezes, lidar com a verdade era assustador demais e nem todo mundo era corajoso para enfrentá-la. E Lena não tinha sido corajosa o suficiente para encarar a verdade.
Sentindo seus olhos arderem pela vontade que estava tendo de chorar, a morena foi até a mesa que havia jantado pegar sua bolsa e logo saiu do restaurante. Mentalmente, estava se xingando por ter magoado alguém que não merecia isso. Kara foi a primeira pessoa que a viu antes mesmo dela se mostrar, mas, talvez, agora a loira tivesse percebido que ela realmente não tem nada de bom a oferecer, assim como havia dito.
Tudo o que Lena sabia sobre o amor, era o fato de ter amado um cachorro e seus pais. Seu cachorro morreu quando ela tinha doze anos, seus pais quatro anos mais tarde. Nada que ela amava ficava em sua vida, todos iam embora, mas iam para nunca mais voltar. Por causa desses traumas, não sabia lidar com esse sentimento, então nunca se permitiu se apegar demais a alguém para depois ser deixada. Era muito mais fácil deixar as pessoas, antes que elas fizessem isso.
Sua terapeuta sempre a dizia que uma hora ela teria que lidar com esses conflitos. Mas o que poderia fazer se tudo isso a assustava no momento? Poderia ser julgada por ser traumatizada e preferir se manter dentro de uma couraça aço onde ninguém entrava? Não, ninguém poderia a julgar, pois só ela sabia o que sentia. As pessoas de fora até poderiam compreender, mas compreender não era o mesmo que sentir.
Quando chegou ao carro, não demorou muito e Kara apareceu, ela tinha nas mãos uma sacola e seu rosto mostrava que havia se chateado. Agindo como sempre agiu, a loira abriu a porta do carro para Lena e depois foi para o lado do motorista. Assim que se sentou, olhou para a sacola que agora estava em seu colo e olhou para morena.
— Você não comeu a sobremesa — estendeu a sacola para que ela pudesse pegar. — Um jantar não é jantar sem uma sobremesa.
Se já se sentia estúpida, Lena acabou se sentindo muito pior. Ela havia claramente magoado a loira ao seu lado e ela se preocupou com a sobremesa que não haviam pedido.
O caminho até o píer foi feito em silêncio, um silêncio nada confortável. Kara ficava se perguntando se tinha feito alguma coisa errada durante a noite para ela ter acabado daquele jeito. Quando saiu de casa, só tinha a intenção de mostrar a Lena que se ela quisesse tornar aquela mentira real, elas poderiam. Ninguém jamais saberia que aquilo era uma farsa. E mesmo casadas, poderiam passar por todos os processos que um casal passa até decidirem unir suas escovas de dentes.
Para Kara, não havia pressa alguma em nada. As duas poderiam apenas aproveitar e se conhecerem melhor como um casal. Porém, vovó Danvers havia se enganado, Lena não a correspondia da mesma forma, apenas sabia fingir muito bem. Esse não era o primeiro fora que levava na vida, mas de longe é o que mais doeu. Kara realmente acreditava que seria correspondida e agora se sentia frustrada pela expectativa criada que não se tornou real.
O pior em tudo isso é que nem conseguia ficar com raiva de Lena. Queria continuar fazendo as mesmas coisas e continuar perto dela. Só que, para esse momento, ficar tão perto a machucava. Provavelmente acordaria amanhã com a cabeça mais no lugar e passaria por cima disso, mas nesse momento não conseguia não mostrar o tanto que ficou decepcionada.
Durante o caminho até em casa, Lena ficou se cobrando mentalmente para dar uma resposta a Kara. As palavras vinham na ponta da sua língua, mas simplesmente não saiam. Foi torturante ver o olhar tristonho dela e simplesmente não ser capaz de fazer o mínimo para reverter a situação.
Assim que pisaram em casa, Kara foi guardar a sobremesa, pois Lena disse que havia perdido a fome. As duas seguiram para o quarto e quando a porta foi fechada, a loira pegou seu pijama indo até o banheiro. Logo que voltou, parou no meio do quarto deixando um suspiro escapar.
— Eu vou dormir no quarto da Sam — comunicou pegando Lena desprevenida.
— Kara — se aproximou dela —, não precisa fazer isso.
– Nesse momento eu preciso. Está um clima horrível entre nós, e não gosto disso — colocou as mãos na cintura. — Não se preocupe, amanhã continuarei encenando.
— Kara... — a loira tentou sair, mas ela parou na sua frente a impedindo.
— Tudo bem, o silêncio também é uma resposta — tentou sair de novo, mas foi impedia.
— Não. Não dei nenhuma resposta ainda — sentia sua respiração falhar. — É só que...
— Não se preocupa — a interrompeu a olhando nos olhos. — Não é obrigada a me corresponder. Eu só quis ser sincera comigo e com você. Eu te fiz uma promessa de te ajudar e vou cumprir, mas hoje eu preciso ficar longe de você — se aproximou mais deixando um beijo em sua testa. — Estarei no quarto lado, se precisar de algo, me avise.
Lentamente, querendo dar a chance de Lena falar alguma coisa, Kara foi até a porta do quarto, quando a fechou atrás de si, sentiu uma fina dor no fundo do peito.
Realmente Lena não era obrigada a corresponder, mas pelo menos esperava que ela dissesse isso com todas as letras. Se ouvisse logo de cara um não, seria mais fácil de continuar nessa mentira sabendo que nunca teria chances. Com a questão ficando no ar, só fazia seu coração continuar se iludindo que Lena cairia na real e diria a ela que se sentia da mesma forma.
Kara deu três batidas na porta do lado e nem mesmo esperou autorização para entrar. Sabia o quanto Sam detestava que ela fazia isso, mas não estava ligando, estava chateada demais para se importar com isso. Sem demora, seguiu até a cama da prima e deitou ao seu lado. A morena mexia em seu computador e tinha as sobrancelhas juntas por não entender o que a prima fazia em seu quarto.
— Foi expulsa da cama?
— Quase isso — bufou. — Minha noiva não gosta de mim como eu achei que gostava.
— O que ela fez? Não te deixou pedir a sobremesa do jantar? — fechou o notebook o colocando na escrivaninha.
— É tudo mentira, Sammy. Não há nada entre nós.
— Como não? Vocês estão noivas, vão se casar no fim de semana. Como pode ser mentira? — a olhou.
— Se eu te contar algo, me promete não dizer a ninguém — perguntou se sentando na cama vendo a prima assentir. — É tudo falso. Não somos um casal de verdade. Só estamos fazendo isso para ela não ser deportada e perder o emprego.
— E porque você se meteu nessa encrenca?
— Ela me envolveu nisso. E eu não soube dizer não a ela. Só que... eu não quero que seja mentira.
— E você já falou isso com ela? — analisou a prima que estava com os ombros curvados e a sobrancelha baixa. — Ela deveria saber.
— Eu a levei até meu restaurante. Quis fazer tudo de um jeito especial e no começo estava sendo, ela sabia que era um encontro. Então ela começou a falar da Diana e eu percebi que estava com ciúmes, achei que era o momento perfeito para dizer algo legal — fitou Sam que não conseguia esconder sua surpresa com tudo aquilo. — Eu falei que ela tinha me cativado de um jeito que só ela seria capaz. Ela ficou em silêncio e quando eu pedi para ela dizer algo, ela pediu pra vir embora.
Sam percebia o quanto sua prima estava chateada. Nem mesmo quando ela terminou com Diana ficou daquele jeito.
— Primeiro de tudo, muito bonitinho e bem gay o que você fez — Kara não conteve um sorriso com a provocação. — Segundo, você é burra.
— De que lado você está? — a olhou sem entender a ofensa.
— Do casal e por isso estou dizendo que é burra — se segurou parar não rir da maneira que Kara a olhava. — Lena nitidamente tem dificuldades com demonstrações de afeto. Ela fica toda sem jeito quando a gente vai abraçá-la ou tentar entrar em assuntos que são bem mais pessoais. Com você ela é mais aberta porque ela já te conhece a mais tempo e, bem, vocês teriam que fingir, ficaria estranho se não se tocassem.
— Eu não estou entendendo. Então significa que ela realmente está fingindo e que não gosta de mim?
— Porque não me surpreendo com você não entendendo nada sobre relacionamento? — balançou a cabeça negando enquanto sorria. — Kara, se ela não desse a mínima pra você, acha que ela teria de defendido hoje por causa do que seu pai falou? Acha que se pra ela tudo isso fosse uma simples atuação, você a conhecendo do jeito que a conhece, acha mesmo que ela teria ido jantar com você? Que se importaria em nos conhecer e nos tratar bem? Por mais que ela tenha vindo aqui na intenção de fingir, hoje que almocei com ela e ela longe de você, me parece ser mesmo a pessoa que eu já imaginava.
— Eu não... pensei bem sobre isso — foi sincera, pois realmente só considerou que Lena não a queria e não todas as outras coisas que poderiam estar em questão. — Eu não planejei me apaixonar por ela, mas vovó me fez ver que talvez, isso sempre esteve dentro de mim e me incentivou a conquistá-la. Por isso fiz o que fiz hoje. Eu fui sincera, achei que era justo ela saber, mas quando ela só ficou parada sem falar nada ou nem... Sei lá, me abraçar ou beijar, eu comecei a me arrepender.
— E fez uma coisa muito legal. Mas ela pode simplesmente ter se assustado com o que você disse e travado e isso não significa que ela não te quer ao lado dela — disse pacientemente vendo a expressão da loira mudar de chateada para pensativa.
— Eu fui idiota com ela? Eu falei que o silêncio dela já era uma resposta. Ela disse que não, mas eu não a levei a sério.
— Nenhuma de vocês duas estão sendo idiotas, mas cada uma tem uma perspectiva diferente da situação. Você é mais aberta para o mundo, pra você é mais fácil enfrentar essas situações porque esse é o seu jeito. Porém, Lena é mais retraída, é mais na dela, pouco fala da vida dela, e às vezes se permite se soltar um pouco mais. Com você ela faz isso. Cada uma tem uma vivência diferente e, assim como você está chateada por ela não ter falado nada, ela pode estar chateada pelo mesmo motivo.
Digerindo as palavras de Sam, Kara percebeu que ela poderia estar certa e, se estivesse, isso só reforçaria o que sua avó a disse.
Lena era mesmo uma pessoa retraída, sempre mantinha uma distância segura de todos. Vê-la agir de forma mais aberta com sua família — tirando seu pai — a deixava contente, pois sabia que ela era sozinha no mundo. E foi justamente por se dar conta de que a morena há muitos anos não tinha ninguém, é que percebeu que Sammy tinha razão em vários pontos.
— E o que eu faço agora? — perguntou com inocência. — Eu disse a ela que iria dormir aqui porque precisava ficar longe dela.
— Não vou te criticar porque entendo o lado de vocês duas. Nem sempre quem tá dentro da situação vê bem o que está acontecendo. Então, apenas seja você.
— Que conselho de merda!
Sam revirou os olhos para o comentário.
— Seja você, continue agindo com ela do jeito que você age e mostre pra ela que entendeu o lado dela, mas que ela não precisa ter medo em se abrir pra você.
— Foi um conselho melhor — sorriu. — Devo voltar lá? Tipo, hoje? Agora? Conversar com ela ou não falar nada, mas mostrar que eu estou ali?
— Deve — a incentivou. — Faça algo legal. Ela pode até ter sido uma chefe bem ruim, mas não é uma pessoa ruim. Vocês estão aqui há três dias, se ela fosse aquele monstro todo que você disse, uma hora ela já teria deixado escapar as garras para ferir alguém.
— Na editora ela sempre foi turrona e mandona. Não se parece em nada com a Lena daqui — repuxou um canto dos lábios ao se lembrar de algumas situações. — Ela botava qualquer idiota para correr e nem precisava descer do salto. A acho incrível exatamente por isso.

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The Proposal
Fanfiction[Concluída] [EM REVISÃO] Lena Luthor é uma poderosa editora de livros que corre o risco de ser deportada para a Irlanda, seu país natal. Para poder permanecer em National City, ela diz estar noiva de Kara, sua assistente. A jovem aceita ajudá-la, ma...