MARCH 19, 2001

804 79 21
                                    

Eu me lembro, de ter acordado naquela manhã de primavera, sorrindo pelas flores desabrochadas em meu jardim, sentindo a brisa leve que percorria o interior da casa e um clássico vindo da cozinha, era Niall. Me lembro de como ele adorava cozinhar e de como eu amava as coisas que ele fazia, o quanto ele era feliz por ter pessoas queridas bem perto a ele; Louis e eu. Era trinta de março quando estava na sala tomando meu café com os meninos e escutei uma das trombetas soarem, isso não era bom, nos assustamos e corremos para fora da casa. Milhares de anjos estavam descendo, e por algum motivo eu sentia um aperto no peito, segurei na mão de Niall e sabia que a batalha está mais próxima do que imaginávamos. Entrei a procura do meu escudo e quando voltei ninguém estava mais ali, Niall e Louis haviam sumido e me deixado para trás, e eu me encontrava de joelhos no chão, tentando imaginar para que raios de lugar eles foram. Eu fui até a casa dos mortais que me protegiam, eu precisava protege-los de certa forma, sei que Liam e Zayn faziam isso por mim, mas eu não poderia deixa-los nesse momento.

Foi horrível chegar e ver demônios os torturando a mando de Lucifer, eu cheguei no momento certo, eles afastaram Zayn e Liam disso, eles queriam a mim, eu daria minha vida pela dos mortais, mas eu não podia ser morto e me senti culpado naquele momento. Eles me cravaram a flecha em meu peito, e a partir dai, eu não podia fazer mais nada, nem se quer lutar ao lado do meu irmão. Cai no chão a olhares de desespero sobre meu corpo ali estirado, não queria dar um adeus daquela forma, a pior possível.”

 

Esses pensamentos consumiam minha mente ao longo do dia, cada milésimo, segundo, minuto ou hora que passava sozinho eu enlouquecia com meu próprio sofrimento, eu sabia que era cruel me lembrar dessas coisas, mas é que eu não conseguia evitar, ainda mais depois da discussão com Louis ontem de manhã.

Eu ainda estava na cama, olhando para a parede a minha frente, eu não tinha força pra levantar ou fazer qualquer outra coisa, eu só queria uma coisa, na qual não poderia ter momento algum, ou se não começaria a pior guerra de todas. Eu queria tanto poder ler os pensamentos das pessoas, mas isso foi me tirado, junto a mais alguns dons quando aquela flecha de Aquiles foi cravada em meu peito, perdi meus melhores dons. Escutei as batidas na porta soarem, eu não queria atender ninguém, eu queria me isolar e ficar ali até tudo isso passar, mas quem batia não queria me deixar quieto. As batidas insistiram, quem quer que seja irá cansar de bater na porta porque eu não iria me levantar para atender.

Foi meio que impossível continuar deitado, depois de longos dez minutos com a pessoa insistindo nas batidas me deixando sem opção, eu não estava preparado para lidar com emoções e não sei como reagiria se fosse Louis ali atrás daquela porta. Me levantei batendo os pés, eu estava nervoso e antes de abrir a porta eu respirei fundo algumas vezes, minha mão tremula girava a maçaneta na esperança de não ser o Louis ali atrás dela, meu coração acelerava conforme a porta iria se abrindo e logo quando vi Gemma ali, com os olhos vermelhos de choro minha reação foi me afastar permitindo que ela entrasse. Por mais que eu estivesse chateado pela reação dela ontem, eu não conseguiria fechar a porta na cara dela e não falar mais com ela como se nada tivesse acontecido.

― H-harry? – sua voz soou trêmula atrás de mim.

― Estou ouvindo. – respondi seco.

― Eu vim... te pedir desculpas pelo jeito que reagi ontem eu fiquei confusa e... me desculpa se te magoei. – vi ela sentar-se no sofá ao meu lado escorando seu rosto em suas mãos.

― Tudo bem, eu te entendo. – me sentei no sofá do outro lado a encarando, ela estava diferente.

― Não Harry, eu agi como uma criança em ter falado daquela forma, você estava frágil e submisso que... – a interrompi.

― É assim que você me vê? Frágil e submisso? – gritei porque já havia tido esses pensamentos antes.

― Não foi isso... Harry me desculpa. – meus olhos estavam cheios.

― Olha Gemma, passei minha vida toda preso, me sentindo culpado por todas as coisas que já aconteceu, principalmente por Louis se aliar a Lucífer. – senti uma lágrima escorrer por minha bochecha. – Você acha que fiquei feliz quando o vi? Quando vi que suas lindas asas brancas impecáveis se transformaram em asas negras? Quando vi que antes éramos amigos e hoje tudo o que ele quer é me destruir. – meus joelhos se dobraram por não aguentar a força das palavras que eu mesmo havia dito.

― Harry não se sinta assim... talvez tenha uma razão pra tudo isso. – ela disse ainda sentada me encarando.

― A RAZÃO FOI EU. – gritei cuspindo toda a culpa que estava sentindo. – Se eu não tivesse ido atrás dos mortais que me protegiam ele ainda fosse um anjo, um lindo anjo do coração que valia ouro. – disse já entre soluços. – Eu não queria isso Gemma, eu queria ter me aliado no lugar dele, eu deveria ter morrido no lugar do meu irmão. – minha voz já estava falha.

Escorado no sofá, abraçando minhas pernas eu chorava em desespero, mesmo eu jogando todas aquelas palavras pela janela, eu sentia um chumbo sobre mim, eu sei que por mais que seja mínima, eu ainda tenho culpa nisso tudo. As lágrimas embaçavam minha visão ao ver Gemma chorando ali no sofá, e eu ia sentindo raiva, ela não conseguiu me acalmar o meu ajudar em momento algum e isso me irritava bastante. Enquanto limpava as lágrimas dos meus olhos, vi ela inquieta no sofá, estava nervosa, algo a consumia, ela não era a mesma, e confirmei quando vi asas negras pulando para fora de sua jaqueta me assustando, vi sua forma de Gemma se tornar Louis e eu comecei a chorar ainda mais.

― Harry chega. – ele gritou vindo até mim. – Eu não aguento mais te ver chorando assim, isso está me machucando, para por favor. – vi a ponta do seu nariz ficar vermelha e ele logo se ajoelhar diante a mim.

― Não acredito que foi você esse tempo todo, Louis, você não deveria saber dessas coisas. – desviei o olhar evitando mais lágrimas.

― Eu deveria, no inicio achei loucura, mas eu, eu te entendi Hazza, e eu queria te dizer que nada foi culpa sua, em, olhe para mim. – suas pequenas mãos tocaram em minhas bochechas pegando cada lágrima que escorria sobre ela.

― Amar um demônio é tão ruim assim? – disse com dengo arrancando um sorriso dos lábios de Louis.

― Não. Amor nunca é ruim, pelo menos não deveria ser ruim.

Louis se aproxima de mim, a mão dele toca hesitante meu rosto me acariciando.

― Toda vez na historia do mundo quando um anjo ama um demônio as coisas nunca vão bem Louis.

Ele suspira e continua a me olhar diferente. É diferente porque ele não esta bravo, ele não parece ansioso e nem mesmo chateado, não é uma reação das que sei que ele possivelmente poderia ter. Esta apenas acariciando meu rosto e estamos aqui juntos de alguma maneira.

― Não ligo pra historia, nós podemos mudar ela se quisermos. E se estamos apaixonados é porque devemos estar, não é algo que possamos controlar. Só não posso mais te ver chorando, só não posso mais me arrastar pelos cantos e viver sabendo que não tentei. Se há uma guerra que lutemos ela, se há uma guerra que eu esteja com você antes de começar, se ganharmos uma guerra que fiquemos juntos depois dela. Não é ruim amar um demônio, não quando ele ama você de volta e destruiria o inferno por você.

Todas as palavras que saem de sua boca me deixam paralisado, não pode ser ele ali me dizendo tudo isso. A dor e o peso da minha historia, de todas as coisas que perdi e de todas as minhas feridas vai embora, abraço Louis e minhas mãos tocam suas asas abertas e expostas. Meus dedos sobem ate sua nuca e a seguram firme, não quero o soltar, não quero o deixar isso, não posso o deixar ir  me deixar de novo.

― Não me deixe de novo. – disse em meio o aperto em nossos corpos.

― Estou aqui, confuso, mas estou aqui com você. – ele respondeu selando nossos lábios com amor, envolvendo em um beijo que nunca senti em toda minha vida.

21 Days {l.s} ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora