capítulo - 3

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As pinceladas eram delicadas e outras mais firmes conforme pintava partes diferentes, o quadro antes branco agora era colorido com cores vivas apesar de retratar a noite. O cheiro que por mim foi esquecido por muito tempo é sentido pelas minhas narinas, o aroma da tinta é estranhamente bom

O vento que nunca cessou continua com sua tarefa de fazer meus cabelos que estão soltos esvoaçarem, muitas vezes se prendem em meus rosto fazendo com que eu tenha que arrumá-los, no processo acabo sujando minha face com as cores que estão em meus dedos

Solto um pequeno riso com meu descuido. Deveria ter trazido um pano, penso

Deixo a tela descansando no gramado fofinho e paro para admirá-la, apesar de ter se passado bastante tempo o resultado ficou bem satisfatório. Um pequeno sorriso adorna meus lábios

Meu corpo fica tenso quando ouço um barulho de algo sendo aberto, mas logo solto um suspiro aliviado quando vejo que é a janela do vizinho. O homem moreno que vi outro dia se debruça sobre ela, aparentemente solta um suspiro enquanto encara o céu

Não demorou muito para seus olhos varrerem por todo o lado de fora, e consequentemente parando em mim. Fico tenso novamente. Ele joga um pouco a cabeça para o lado e estreita os olhos

Fico um tanto assustado quando ele se debruça ainda mais na janela que se localiza no segundo andar, era como se ele fosse simplesmente cair ou se jogar dali a qualquer momento. Vejo ele voltar para a posição original com um sorriso grande

— Belo quadro! — sua voz não sai muito alta pelo horário mas foi o suficiente para mim conseguir ouvi-lo, ele continua a me observar

— Obrigado..— minha vontade neste momento é cavar algum buraco perto das roseiras e me enterrar lá, quem sabe eu não viraria mais uma delas

Vejo que ele iria falar algo mais, mas é interrompido

— Shisui! O que está fazendo até agora? — a voz era de dentro da casa em que ele estava, e aparentemente era de uma mulher

Ele parece pensar um pouco e acena para mim antes de entrar, retribuo o gesto

Então seu nome é Shisui..

Ele me parece alguém simpático

Decido entrar por já estar tarde e o vento frio ter aumentado, não antes de recolher meus matérias e a tela já seca

[...]

Quando acordei pela manhã achei que ela seria como todas as outras, mas me enganei quando ouvi a voz de meu irmão, aparentemente revoltado

A porta de meu quarto é aberta bem devagar e é fechada do mesmo modo, quem entra é um loiro com olhos azuis de nome Naruto. Ele abraçava delicadamente sua mochila em frente ao peito

— Oi, Ita — ele sussurrava para meu irmão não o descobrir aqui. Sorri já sabendo que o meu dia iria ser bom

— Oi, naru — respondi no mesmo tom — o que tem aí? — me refiro a sua mochila mas de repente a mesma começa a se mexer

— Calma, calma! — ele tenta a segurar enquanto ela se debate. Quando o fecho é um pouco aberto, uma cabeça felpuda de cor alaranjada aparece. Foi impossível não sorrir, a cena estava muito fofa — olha quem veio te ver! — o loiro abre toda a mochila, liberando a raposa que havia nela

A porta de meu quarto é aberta em um movimento rápido. Naruto e Kurama se assustam, e o animalzinho não perde tempo em vir para minha cama se aconchegar em meu colo

— O que você..— o uchiha mais novo estava pronto para discutir mas parou quando viu a criaturinha laranja — eu não acredito que você trouxe esse pulguento para cá! — esbravejou cruzando os braços

— Oe oe, Kurama não é pulguento! E eu prometi ao Ita que traria ele da próxima vez que eu viesse — se defendeu. Sasuke não gostava nem um pouco da raposa, e o sentimento era prontamente correspondido. Segundo o moreno: "esse ser encapetado só sabe ficar com raiva e morder todo o mundo". O que por um lado não é mentira, o próprio loiro é cheio de mordidas e arranhões do pequeno, mas por algum milagre, ele nunca ousou fazer nada com Itachi

Eles começaram mais uma discussão, era algo totalmente comum e eu só os observava

Ver como naruto cresceu ao longo dos anos me faz ficar nostálgico, e kurama, que está deitada em meio colo neste momento todo encolhido me faz lembrar de algo

Um corpo infantil com uma cabeleira loira está imóvel em cima de meu tronco enquanto permaneço deitado no sofá da sala. O silêncio permanece a uns três minutos, o que é surpreendente para a criança energética que Naruto é

Ele começa a murmurar de repente

— Tum tum tum tum — seu ouvido está grudado ao lado que meu coração bate

— O que está fazendo? — pergunto com uma sobrancelha arqueada. Ele se ajeita e apoiou seu queixo em meu peito para poder me olhar

— Seu coração está batendo rápido assim ó, tum tum tum tum. Eu gosto — ele sorri grande para mim, acabou soltando uma risadinha

— Por que você gosta? — pergunto, ele parece refletir um pouco, um biquinho é formado em seus lábios antes de começar a falar

— Porque no dia do acidente, o coração de meu papai e da minha mamãe pararam de fazer tum tum. E eu não quero que o seu também pare, então estou cuidando para que isso não aconteça — meu bom humor que tinha antes foi embora com sua fala e com a visão de seus olhinhos azuis que estão começando a marejar. Levo minha mão até sua cabeça e a faço ficar deitada como antes

— Naru, meu coração nunca vai parar de fazer tum tum

— Promete? — sua vozinha estava embriagada pelo choro — promete que ele não vai parar de fazer tum tum..?

— Eu prometo — com um pouco de dificuldade pela posição consigo depositar um beijinho em seus fios cor de ouro

— Eu gosto muito de você ita, da tia mikoto, do tio fugaku e do sasu — seus bracinhos gordos me apertam, era quase como se me impedisse caso eu tentasse fugir

— Eu também, naru. Você é como um irmãozinho para mim — sou capaz de ouvir sons de passos apressados em direção a sala, logo vejo um pequeno Sasuke vindo em direção ao sofá

— Ei, nalu' vamos brincar — ele chama, o loiro limpa as lágrimas rapidamente, tentando parecer como se nada houvesse acontecido, e pula para o chão

— Vamos! — ele pega a mãozinha do moreno menor e corre para o jardim

Não consigo parar de pensar em como o tempo voa, em como as coisas mudam

— Naruto, sai daqui! — a perna direita estava no estômago do outro e a mão esquerda estava empurrando o rosto do loiro. Aparentemente enquanto estava nostálgico demais, eles começaram a rolar pelo chão do quarto "brigando"

— Deixa de ser emo, um abraço não mata ninguém — ele insistia em tentar chegar perto, mas o pé em sua barriga impedia

Kurama que ainda estava em minha cama direcionou um rosnado a Sasuke, esse que quando ouviu empurrou com todas as forças Naruto, que caiu no chão grunhindo de dor. O moreno se levantou rápido e saiu porta a fora, a raposa o seguiu segundos depois

— Pega esse bicho antes que eu jogue pela janela! E você será o próximo! — gritou de algum canto da casa — NARUTOOOO! — podia ouvir alguns xingamentos e uns "sai daqui!" "Xô" o loiro a contragosto levantou do chão ainda reclamando e seguiu ao resgate do Uchiha

Eu segurava minha barriga de tanto gargalhar, já podia sentir lágrimas se formando no canto de meus olhos, fui de encontro a cama ainda tentando me recuperar mas sem sucesso. Essa dupla realmente sabia como alegrar meu dia

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