Um

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O navio de sonhos perdidos.
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Já se passaram 84 anos...

Apenas nos diga o que você pode- Lovett iria continuar dizendo se não fosse interrompido por uma mão protestante que pedia silêncio.

– Já se passaram 84 anos... e eu ainda posso sentir o cheiro da tinta fresca. A porcelana nunca foi tocada. Os lençóis nunca tinham sequer sido desamassados – ele liga o mini gravador e o coloca por perto para que ela continue – Titanic foi chamado de Navio dos Sonhos. E foi. Realmente foi...

Southampton
Inglaterra
10 de abril de 1912.

  À medida que a brilhante superestrutura branca do Titanic se eleva montanhosa além da amurada, e acima dela os funis cor de amarelo se erguem contra o céu como os pilares de um grande templo, os tripulantes se movem pelo convés, ofuscados pela escala impressionante do navio a todo vapor.

É quase meio-dia de um dia doente. Uma multidão centenária de viajantes escurece o píer ao lado do grande transatlântico como formigas em uma geleia de sanduíche. No cais, veículos puxados por cavalos, automóveis e caminhões se movem lentamente pela densa população. A atmosfera é de excitação e vertigem geral. As pessoas se abraçam em despedidas chorosas, ou acenam e gritam votos de boa viagem para amigos e parentes nos conveses acima.

Um Renault branco, conduzindo um Daimler-Benz cinza-prateado, atravessa o lugar deixando um rastro por onde suas rodelas alcançam.
Ao redor dos belos carros, as pessoas correm para embarcar no navio, acotovelando-se com marinheiros apressados e foguistas, carregadores e funcionários da White Star Line.

O carro para e o mostorista de Liberd corre para abrir a porta para uma jovem vestida com um deslumbrante traje branco e roxo, com um enorme chapéu de penas. Ela tem 17 anos e é linda, majestosa de porte, com olhos penetrantes. É a menina do pente de borboleta. Rose. Ela olha para o navio, observando-o com fria avaliação. – Eu não vejo o motivo de tanta euforia. Não me parece maior que o Mauritânia.

Um manobrista pessoal abre a porta do outro lado do carro para Caledon Hockley, o herdeiro de 30 anos da fortuna dos Hockley's, filho mais velho. "Cal" é bonito tanto quanto arrogante e rico além do significado. – Você pode ser blasé com algumas coisas, Rose, mas não com o Titanic. É mais de 30 metros mais longo que a Mauritânia e muito mais luxuoso. Tem quadras de squash, um café parisiense... até banhos turcos – Cal se vira e aponta a mão para a mãe de Rose, Ruth DeWitt Bukater, que desce do carro de turismo. Ruth é uma imperatriz da sociedade de 40 anos, de uma das famílias mais proeminentes da Filadélfia. Ela é viúva e governa sua casa com uma vontade de ferro. – Sua filha é muito difícil de impressionar, Ruth – ele indica uma poça. – Cuidado com o passo.

– Então este é o navio que dizem ser inafundável? – Ruth questiona e Cal fala com o orgulho de um anfitrião proporcionando uma experiência especial.

– É inafundável. O próprio Deus não poderia afundar este navio.

Toda esta comitiva de americanos ricos está impecavelmente preparada, um exemplo por excelência da classe alta eduardiana, completa com servos. O valete de Cal, Spicer Lovejoy, é alto e impassível, severo como agente funerário. Atrás dele surgem duas empregadas, as servas pessoais de Ruth e Rose.

Um porteiro da White Star Line corre em direção a eles, atormentado pelo carregamento de última hora. – Senhor, você terá que despachar sua bagagem pelo terminal principal, por ali...

Cal indiferentemente entrega ao homem uma nota de cinco. Os olhos do porteiro se dilatam. Cinco libras era uma dica monstruosa naqueles dias. – Eu confio em você, bom senhor – Cal curtamente indica ao porteiro. – Veja meu homem. – ele aponta para Lovejoy.

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