Quando Thiago entrou na casa com Luísa, estranhou ao ver Elisa e Liliana juntas. Era muito incomum encontrá-las ali naquele horário.
— Thiago! Você não sabe o que... — Elisa se calou ao ver Luísa. — O que aconteceu?
Luísa revirou os olhos.
— Esse idiota jogou vinho em mim.
— Pelo amor de deus, Thiago, quantos anos você tem? — Liliana se aproximou de Luísa. — Pobrezinha! Venha, acho que tenho algumas roupas que servem para você. Juro que nem todos os Bodini são idiotas como o meu irmão.
Thiago percebeu quando Luísa compreendeu as palavras da irmã; percebeu quando o corpo dela travou e seu olhar procurou o dele. Não estavam mais arregalados de surpresa como aconteceu na adega, agora havia um ar acusatório nos olhos claros. Não se mexeu quando ela apontou o dedo para ele.
— Você é um Bodini! Você me enganou!
Muito ciente dos olhares atentos das suas irmãs, Thiago se balançou nos calcanhares
— Não te enganei. Não lembro de você ter me perguntado se eu era um dos Bodini.
Os olhos dela ficaram irritados e ele deu um passo para trás, por precaução. Tinha irmãs, sabia reconhecer uma ira feminina e sabia qual era o momento certo para se afastar.
— Como eu iria imaginar...! — Luísa gemeu de raiva. — Quero ir embora.
— Acho melhor você se trocar antes — Elisa aconselhou.
Liliana pegou a mão de Luísa.
— Venha, eu tenho um quarto aqui. Tenho um vestido que vai caber direitinho em você.
E enquanto via a Liliana subir as escadas com Luísa, percebeu o olhar de Elisa.
— O que foi?
Elisa sorriu.
— Eu amo que você nunca deixou seu espírito da quinta série morrer. Jogou mesmo vinho nela?
Thiago deu de ombros.
— É a nossa tradição.
— É, mas... É André que deveríamos molhar.
— Ainda vamos fazer isso. Sabe muito bem que precisamos do momento certo para isso. Para dar mais impacto — piscou para ela.
— E falando de impacto....
Thiago a olhou.
— Desembucha, Elisa.
Os olhos dela brilharam, conseguia ver que ela estava louca para contar o que quer que fosse. Thiago amava estar em uma família que não conseguia guardar segredos.
— É sobre o André. Ele é pai.
Thiago demorou um pouco para compreender as palavras dela e quando o fez, prendeu a respiração. Apostava que estava com a mesma expressão assombrada que Luísa fez quando jogou vinho nela.
— O quê?
— Sueli, veio aqui e falou que ele é pai de uma menina de dois anos.
Thiago olhou para a irmã, e viu a emoção nos olhos dela. Uma emoção que não era para a fofoca, era em ser tia.
— Cristo! — Deixou o corpo cair no sofá mais próximo. — É sério isso?
Elisa sentou-se ao lado dele.
— Seríssimo! A mamma foi com a nonna ver a garotinha. — Adorando o choque do irmão, Elisa enfiou o dedo nas costelas dele.
— Aí Elisa! — Resmungou se afastando dela.
— Então, acho melhor eu avisar que você vai ser o próximo.
Ele piscou para ela, confuso.
— Próximo?
Ela assentiu.
— Alvo da nonna. André já deu um bisneto para ela. Agora, irá te atormentar. — Thiago fez uma careta e Elisa se inclinou para mais perto dele e disse em um tom conspiratório. — Olha, se quiser, posso ler seu tarot e ver se tem chances com a mulher sem nome que você lavou com o vinho.
— O nome dela é Luísa, ela é filha do seu Zé.
Elisa piscou, surpresa.
— Nossa, sério? Bem, eu nem preciso do tarot para dizer que não é jogando vinho na pobrezinha que você vai conseguir provar a virilidade dos Bodini para a nonna.
Thiago arqueou a sobrancelha para ela.
— Você não tem mais nada para fazer do que ficar aqui me azucrinando?
Elisa abriu um sorriso travesso muito parecido com o dele.
— Tenho, mas ficar te azucrinando é mais legal.
Thiago tinha uma resposta na ponta da língua quando ouviu Luísa descer com Liliana e esqueceu até do próprio nome. O vestido florido, de alças, caiu no corpo dela como se tivesse feito para ela. Estava linda, refrescante como a brisa do mar em uma noite quente.
— Limpa a baba, irmãozinho — Elisa murmurou quando eles se levantaram.
O olhar de Luísa cruzou-se com o dele, e não soube dizer como interpretar o que havia ali. A raiva tinha dissipado, mas... o que era aquela hesitação? Uma culpa se apoderou dele. Fora uma brincadeira sim, mas sua família já estava acostumada com ele e suas brincadeiras.
— Obrigada, Liliana. Mais tarde eu devolvo o vestido.
Liliana balançou a mão.
— Não se preocupe com isso.
Thiago andou até ela.
— Vou acompanhá-la para a casa.
Luísa balançou a cabeça.
— Prefiro ir sozinha.
O coração de Thiago parou, se comprimiu dentro do peito. Queria se desculpar, deveria fazer isso, mas aquele olhar o impediu. Não era uma boa hora. Ela precisava de tempo e daria isso.
— Claro, como quiser.
Luísa assentiu, agradecida. Se despediu das meninas e saiu de casa. Thiago continuava a encarar a porta quando Liliana deu um tapa na parte de trás da cabeça dele.
— Idiota! Você não conquista uma mulher jogando vinho nela!
Thiago não respondeu, resmungando, massageou a cabeça que ardia.
— Eu falei para ele, Liliana! — Elisa revisou os olhos. — Mulher gosta de beber vinho em um jantar romântico, não tomar banho com ele!
Thiago então sorriu ao imaginar Luísa nua em uma banheira de vinho.
— Mas é uma imagem fascinante — comentou e em resposta ao comentário atrevido, as duas deram atrás da cabeça dele novamente.
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Aquarela de Sabores (Série Bodini) | DEGUSTAÇÃO
Romance* ESSE É O SEGUNDO (2º) LIVRO DA SÉRIE BODINI, NÃO É NECESSÁRIO LER OS ANTERIORES PARA ENTENDER ESSA HISTÓRIA, MAS PODERÁ CONTER SPOILERS DOS LIVROS ANTECEDENTES * EM BREVE NA AMAZON Quando se sente perdida diante do futuro, o melhor a se fazer é...