Luísa não poderia negar a beleza que existia nos grandes campos Bodini e tinha certeza de que a imagem seria muito mais especial se tivesse concordado com o Thiago e marcado aquele passeio mais cedo. Sim, olhando para os campos de vinhas, conseguia visualizar como seria ver o nascer do sol, os primeiros raios solares iluminando os campos, cobrindo eles até a grande casa de pedras. Ficou com vontade de pintar e talvez, acordaria de madrugada para fazê-lo.
— Isso é enorme. Deve ser bem trabalhoso tomar conta de algo assim — comentou enquanto seguia Thiago para um caminho que ia longe das vinhas. Ele reparou que estava incrivelmente bonito naquela manhã. A luz do sol refletia nos cabelos loiros, que brilhavam como se fossem do mais raro e valioso ouro. E mesmo que ele estivesse usando óculos de sol, ainda conseguia sentir a intensidade do olhar dele quando virou-se para ela.
— É uma das vantagens de se ter uma grande família. Cada um faz uma parte e juntos, mantém o negócio.
Luísa nunca teve uma família e muito menos, uma grande. O mais perto que chegou nisso foi quando conheceu a família Garcia e ficou anos alimentando uma paixão que nunca seria correspondida. Franziu o cenho, irritada por estar pensando nisso novamente e tentou conhecer melhor o homem ao seu lado.
— Você trabalha aqui há muito tempo? — Perguntou a ele.
— Praticamente a vida inteira — disse ele, com um enorme sorriso e um brilho travesso no olhar. Como se ele estivesse curtindo uma piada particular. Franziu o cenho, tinha a sensação de que estava rindo dela.
— Aquele prédio ali é para os funcionários, com uma cozinha e banheiros muito bem equipados. — Thiago apontou para um prédio branco mais a frente. E depois, pegou a mão dela e a guiou para a porta diante deles. Olhou para ela por cima do ombro e sorriu. — Venha, vamos entrar.
Luísa deixou ser conduzida por ele, ainda processando a sensação da mão forte envolvê-la, um calor que pareceu cobrir todo o seu corpo.
— Essa é a adega, onde ficam os tonéis de vinho. É aqui que tudo acontece. É aqui que o suco de uva se transforma em vinho. — Brincou ele.
Parecia mais uma caverna de vinhos, pensou ela com humor. Era enorme, com barris o dobro do tamanho dela. Encantada, tirou os óculos de sol e se aproximou, e com a ponta dos dedos, tocou a base de madeira do barril e por algum motivo, isso a deixou feliz. Estava com um grande sorriso no rosto quando virou-se para Thiago e perdeu o fôlego.
Ele estava muito perto dela, e como havia feito, também estava sem os óculos escuros e aqueles olhos azuis esverdeados a estava encarando como se pudesse ver sua alma. Seu coração. Como se pudesse ler sua mente. Pega de surpresa, o instinto de preservação falando mais alto, ela deu um passo para o lado, criando uma distância entre eles.
— Eu sempre amei vinhos — falou casualmente, torcendo para que sua voz estivesse soando tranquila. — Sabia que fiz meus melhores trabalhos quando eu estava com uma taça de vinho nas mãos?
— Ah é? — Thiago colocou as mãos nos bolsos e encostou em um dos postes de sustentação. — E o que você faz?
Luísa sorriu. Não eram muitas pessoas que não sabiam quem ela era, mas também, o meio artístico conseguia ser muito construído de panelinhas. Só as pessoas que frequentavam o mesmo círculo social que ela, saberia reconhecê-la como a aquarelista mais vendida no mundo todo.
— Sou pintora.
Thiago sorriu para ela, mostrando novamente aquelas covinhas que contradiziam tudo o que o rosto insinuava.
— E é famosa?
Luísa deu de ombros.
— Depende da sua definição do que é ser famoso.
Thiago a levou para uma porta lateral, onde havia uma adega de garrafas de vinhos e uma pequena mesa onde estavam as taças.
— Já foi reconhecida na rua? Seus quadros são bem vendidos? É conhecida fora do Brasil? — Perguntou à ela enquanto verificava as etiquetas das garrafas. — Quer provar um espumante? — Virou-se para encará-la erguendo a garrafa.
— Adoro um bom espumante. — Aprovou. — E respondendo às suas perguntas, sim, depende muito da rua e da ocasião, mas sou reconhecida. E sim, minhas exposições fora do país sempre são um sucesso e ... — sua voz se perdeu ao meio do susto ao sentir uma coisa molhar e gelar sua blusa.
Com os braços suspensos no ar, o choque a calou até enfim começar a compreender o que aconteceu. Thiago a olhava com um brilho e sorriso travesso, o espumante aberto, da boca deitada da garrafa, pingo do vinho branco caia no chão no meio deles. Ela conseguia ver a própria incredulidade no rosto.
— Você... — deu uma pausa. Não poderia acreditar que diria aquelas palavras. Os olhos azuis estavam bem abertos, o encarando como se ele fosse um acéfalo. — Você jogou vinho em mim?
Thiago deu um olhar inocente.
— Chacoalhei demais o espumante e quando abri ... .puf!
— Puf? — Ofegou, incrédula. — Puf? Você tem quantos anos? Cinco?
Thiago tentou controlar a expressão, mas dava para ver que estava se segurando muito para não rir.
— É uma tradição aqui. De boas-vindas a terra Bodini.
Luísa piscou, olhou para a roupa molhada e cheirando a vinho; e olhou novamente para ele.
— Jogar vinhos nas pessoas é uma tradição?
— É. — Ele não pareceu nenhum pouco culpado. —Venha, posso pegar uma roupa da minha irmã que deve servir em você.
Ainda confusa demais com o que aconteceu, Luísa o seguiu em direção a casa de pedras.
E aí? Como vocês estão? Estão gostando? E estão acompanhando a história da Clarissa também?
Vou deixar aqui o link da dela para irem lá.
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Aquarela de Sabores (Série Bodini) | DEGUSTAÇÃO
Romance* ESSE É O SEGUNDO (2º) LIVRO DA SÉRIE BODINI, NÃO É NECESSÁRIO LER OS ANTERIORES PARA ENTENDER ESSA HISTÓRIA, MAS PODERÁ CONTER SPOILERS DOS LIVROS ANTECEDENTES * EM BREVE NA AMAZON Quando se sente perdida diante do futuro, o melhor a se fazer é...