Capítulo 30 - Névoa

51 11 45
                                    




        Silêncio era tudo que se podia escutar após uma, não muito breve, história de como tudo foi criado. Cada elemental se alternava enquanto contava.

Eu já não sabia mais o que pensar. A história adentrou em meu coração de uma forma rápida e singela. Eu acredito, mas ainda tenho algumas perguntas. O reino da Lua era responsável pela Água e pelo Ar, certo? Eu tenho água em minhas veias, e o reino do Sol pelo Fogo e Terra, e eu sou filha do fogo também. Sou a mistura tão temida pelos elementais? Se realmente for verdade, porque estão me contando assim, tão facilmente?

Não demora muito até que eu percebo que Nicholas também é. Filho do Ar e da Terra, mistura do Sol e da Lua, reúne resquícios de magia negra em si, assim como eu. Isso nos torna ruins, ou muito poderosos?

- Percebem que acabaram de nos dizer que somos a maior ameaça de vocês? - Pergunta o príncipe, e me pergunto se ele leu minha mente.

- Sim, percebemos. - Diz a Sereia. - Mas não há problema, lindinho. Os poderes de vocês foram inibidos por um veneno. Gostou do vinho? - Ela pergunta sorrindo. Nicholas não responde.

- Mas eu não bebi vinho. - Me pronuncio

- Foi injetado em você enquanto estava inconsciente, não consegue pensar? - Pergunta Necksa, me encarando friamente.

      
Tudo agora parece fazer um pouco de sentido. Eu sempre soube que estava relacionada com a crise dos Reinos, mas nunca soube o real motivo, talvez seja porque tenho magia negra em meu sistema, o que de alguma forma descontrola o vale. Mas eu imaginei que..

- Espera, o que exatamente nós temos a ver com a crise? - Pergunto, a qualquer um que queira responder.

- Bem, diretamente com a crise, nada. - Sorri o duende, entreolhando os amigos.

  
Infelizmente, não disseram mais nada. Me ponho a pensar, o que não dura muito tempo, pois Nicholas gesticula enquanto faz uma pergunta ao meu lado.

- Na história, disseram que houveram "muitos erros" - Ele começa - O que houve com eles? - Nenhum dos elementais respondem. Meu pai olha para todos com cara de choque, e a plateia continua tensa e envolvida. - Vocês os eliminaram, não foi?

- Faz sentido. - Digo, e Nicholas me olha, surpreendido. - Eliminaram, porque não eram uma ameaça para vocês, assim como nós somos. - Finalizo, satisfeita e orgulhosa com meu pensamento, até que o garoto vai ainda mais afundo.

- Não vão nos matar hoje, e nem nunca. - Ele se permite dar um leve sorriso, enquanto os elementais não parecem nada abalados. - Por algum motivo, não podem nos matar. Por isso somos os únicos impuros que sobreviveram.

  
A plateia solta urros de surpresa. Até mesmo os reis e rainhas ali em cima pareciam estar surpresos. Como se não soubessem dessa parte. Tudo fica tenso novamente, não posso evitar um tremor que me percorre o corpo inteiro.

- Não precisamos matá-los. - Diz a sílfide. - Vocês morrerão hoje sem que nem um de nós encoste um dedo sequer. - Ela ri pausadamente de forma assustadora.

- Como eu disse, os jogos irão começar! - Grita Necksa, aliviando algumas pessoas da plateia. - Deixe-me explicar as regras..

  
Ela foi interrompida por Djin. Meu pai levantou-se de seu assento bruscamente, encarou os elementais e aos outros reis e rainhas.

- Eu não vou deixar minha filha morrer nessa merda de plano que todos vocês armaram sem mim. - Ele transborda ódio.

  
O rei do Fogo cria uma enorme espada de fogo em suas mãos, mas antes que pudesse usá-la o Homem-dragão segura fortemente o braço de meu pai. Meu coração acelera as batidas. A espada cai no chão com um tilintar e se dissolve em cinzas. Minhas bochechas ficam cada vez mais molhadas de lágrimas. O braço de meu pai é empurrado para trás, o elemental, por trás dele, posiciona a mão rente ao seu coração. Sei o que está por vir.

- Não! - Grito, a voz rouca de choro - Por favor, eu imploro! Eu participo!- Exclamo, cambaleando para mais perto e erguendo a cabeça para cima. - Só não faça isso...

   A mão do Homem-dragão entra levemente na pele do meu pai. Não há nada que ele possa fazer, nada que eu possa fazer. Me sinto completamente inútil.

- Eu faço! Eu jogo! Mas não por favor! - Continuo gritando. - Eu ainda preciso dele! - Finalizo, já não me importando mais em limpar as lágrimas.

- Isso é mesmo muito lindo. - Diz o Homem-dragão. - Mas ele sempre será um impedimento. Os outros reis e rainhas já discutiram com ele a respeito do que acontecerá hoje. Ele nunca aceitou, mesmo vendo o que acontecia ao vale, o que acontecia aos outros reinos, ele nunca abriria mão de você por isso. Ele é o motivo de não termos feito isso mais cedo, não pode continuar vivo. - Diz o homem enfiando mais e mais fundo a mão no peito do meu pai.

- Isso não é justo! - Eu já não sabia medir o que saía de minha boca. Tudo estava turvo. - Não não não não - Sussurro. - PARE! - Explodo.

    
De repente percebo todos me encarando. A plateia, os Reis e Rainhas, elementais e até mesmo Nicholas. Uma névoa escura e brilhante me rodeia, limpo as lágrimas para enxergar melhor. A expressão de choque nas feições dos elementais me deixam confusa. O que estava acontecendo? 

Sinto, dentro de mim, um nível de magia implorando para ser libertada. Implorando para tomar controle. Nunca senti isso antes. A névoa continua, tornando-se mais e mais escura.

- Não, ela ainda é forte demais - Ouço a voz da Sílfide.

   
Uma dor aguda me atinge na perna, um guarda havia me injetado mais veneno. Logo a névoa se dissipa e eu volto a sentir meu corpo fraco e frágil. Quando olho para trás, não há mais ninguém. Antes que pudesse voltar a olhar para as arquibancadas, ouço um grito grave e alto do meu pai. Em um piscar de olhos percebo que a mão do rei do fogo foi cortada por um espada criada pelo elemental.

- Isso foi um aviso, não tente impedir novamente - Diz o Homem-dragão. - Ou a sua mão não será a única coisa que vai perder.

- Não, eu não vou deix.. - Começa meu pai. Mas eu não posso deixar que ele se mate por um besteira que cometi.

- Pai! - Grito, e o mesmo olha para mim. - Tá tudo bem - Tento sorrir. -  Por favor, não faça nada. Fique quieto, por mim. - Digo, dando ênfase em cada palavra.

  
Ele chora, segurando o membro fantasma enquanto sangra. Percebo que ele tenta me dizer algo. Faço leitura labial.

"Terra"

  Agradeço. Tentando entender se o que ele queria dizer era que estávamos no reino da Terra.
O grupo lá em cima, cochicha entre si.  Tudo que consigo perceber são as expressões de nojo, medo e raiva. Eles viram-se novamente a seus postos.

- Bem - Gob tosse em seco. - Foi decidido que os jogos acontecerão amanhã.

   A plateia entra em desgosto e incredulidade.

- Nossos participantes precisam passar por mais alguns.. Tratamentos. - Diz a Sílfide. E percebo que está falando do veneno.

- Nossos guardam os acompanharão para o local onde ficarão durante sua estadia aqui. - Diz Necksa. - Espero que gostem. - Ela sorri.

  
O Grupo se retira lentamente, mas tudo que consigo prestar atenção é meu pai. Ele continuou parado, olhando-me como se eu fosse uma estranha. Seu braço ainda sangra, mas agora com um tecido para estancar, temporariamente. O encaro de volta, os olhos repletos de melancolia.

" Vou ficar bem, por favor vá"

Afirmo, com os lábios. Ele junta as sobrancelhas e mexe a cabeça em negação. Mãos me puxam para cima, sinto meus pulsos serem presos por cordas. Meu corpo é jogado por cima do ombro de um guarda. Acontece o mesmo com Nicholas.

"Não desista, Liz"


Meu pai diz e se retira do local. É isso. Agora tenho que lidar com as consequências de meus atos. Continuo sendo carregada.


—————-~~~~~———-~~~~~~——

Oi gente!! Vim lembrá-los de comentar e dar estrelinhas, se querem que a história continue!! Quero muitas ⭐️!

Obrigada, beijos!!

      M.Carolina

A Crise dos Reinos ( Vol; 1 ) *CONCLUÍDO*Onde histórias criam vida. Descubra agora