Capítulo 39 - Ódio e Desejo

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    Meus pés doem como se tivesse acabado de pisar em pregos. Minha cabeça lateja tanto que sinto como estivesse prestes a explodir. Demora um pouco até que eu me dê conta de que estou cansada, exausta. Só de imaginar que no dia de amanhã vou ter que participar de outro jogo, meus músculos viram geleia e meu cérebro derrete. Estou odiando esse momento, odiando muito.

     Meus membros descansam enquanto relaxo meu corpo sob um colchão velho e um pouco rasgado. Meu cotovelo em meus olhos, e os dedos da mão batucando o tecido impacientemente. De repente, uma memória invade minha mente. Antes de ser sequestrada, tive um sonho um tanto esquisito. Lembro-me de que, quando cheguei ao reino do fogo, todos estavam dizendo que sentiam muito, e que tudo era uma tristeza. O que aquilo queria dizer? E porque tive uma sensação tão agonizante?   
    

    Por mais que eu tente afastar essa memória, ainda fica grudada em mim - como aqueles adesivos que espalhávamos pelos móveis quando criança, e nunca mais saíam. - Então apenas desisto. Tudo o que eu mais quero é abraçar meu pai, quero dizer que o amo, e que sinto sua falta. Quero voltar a comer sua torta de maçã no café da manhã, e rir de quando Kate se mela de chocolate quente. Sinto falta de contar histórias de monstros para Peter dormir - Segundo ele, essas histórias o inspiram a tornar-se um super-herói. Quero minha família de volta.
   

Mas querer, não é poder. Fato esse me deixa muito angustiada.
   

    Imediatamente também me lembro de Malia, minha meia-irmã perdida. Cuja irmã eu prometi voltar para salvá-la. Mas e se eu não sair daqui viva? Tudo irá por água abaixo. Não posso deixar ela pensando que a abandonei. E eu ainda nem conheci minha mãe, e não descobri o porquê daquela mulher ter se passado por ela.São tantas linhas soltas.
    

    Um estrondo vindo do corredor de metal me acorda do transe. Levanto-me tão rapidamente que minha visão escurece por alguns segundos, e minha cabeça pesa. Quando tudo volta ao normal, Nicholas sai do corredor.

    - Escorreguei. - Ele diz, com a mão na costela.

  A quebra de expectativa me forçou a rir.
 

- Me assustou. - Digo, voltando a deitar. Cansada demais para ficar mais de um minuto de pé.

- Você riu da minha desgraça, estamos quites. - Ele diz, jogando uma piscadela.  Reviro os olhos.

- Sempre vou rir da sua desgraça. - Afirmo, com total naturalidade.

     As sobrancelhas relaxadas e o sorriso de canto do garoto me fazem perceber que ele esperava por essa resposta. Imediatamente sinto um leve sentimento de raiva, queria impressioná-lo pelo menos uma vez. Mas parece que ele sempre está tranquilo. Nicholas não me entrega resposta, apenas deita-se em seu colchão, ao meu lado. Encaro o teto metálico, como se fosse muito impressionante. Parece que o príncipe compartilha essa mesma admiração.
    O quarto escurece, a luz do lampião acabou. Suspiro alto, mas no fundo, não é tão ruim. Uma movimentação ao meu lado me faz perceber que o príncipe levantou-se. Provavelmente vai acender novamente.

  - Não, não acenda. - Digo. - Será bom para eu descansar um pouco.
  

- Eu quero acesa.- Ele diz, semeando minha raiva.
 

 - Porque você tem que implicar com tudo? - Questiono, virando-me para onde acredito que ele esteja.
  

- Só dei minha opinião, assim como você deu a sua. - Sua resposta me pareceu longe, sua voz está longe.

- Eu quero dormir, e prefiro fazer isso com a luz apagada. - Rebato mais uma vez.
 

- Você não vai desistir, vai? - Ele pergunta, eu sorrio.

- Óbvio que não. - Respondo.
   

A Crise dos Reinos ( Vol; 1 ) *CONCLUÍDO*Onde histórias criam vida. Descubra agora