Capítulo 48 - O último jogo pt2

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- Cale-se. - Diz a Fada, com sua voz estridente.

Sorrio com desdém. Já não tenho mais nada a perder, não tenho mais o olhar acolhedor de meu pai para me manter tranquila. Eu já não aguento mais.

Não aguento mais. Não aguento sem você, papai.

- É isso, pessoal! - Grito para a plateia, que ainda se permanece em um silêncio ensurdecedor. Mas suas expressões de choque deixam claro sua curiosidade. - Os elementais não podem nos matar, então criaram a porcaria da crise que vem assolando os reinos. - Imediatamente, a lembrança de meu pai tentando esconder toda essa dor vem à tona.

Ele aguentava tudo por mim. Pelo visto era o único que realmente se importava com a resolução da crise.
Minha voz falha em meio à minha fala. Todas as lembranças me fazem engasgar com a agonia de sequer pensar em continuar sem meu pai. Meus ossos fraquejam imediatamente. Aproveitando a deixa, enquanto me encontro sem palavras, os elementais quase começam a retrucar, mas Nicholas os interrompe.

- O medo da magia negra é o que fez eles destruírem a ordem e a paz do vale. E vocês estão aqui, apoiando. - Diz o príncipe, para a plateia. Ele não levanta muito a voz.

Sinto o vento frio ricochetear em minhas bochechas. Minhas pálpebras se fecham por um instante. Abro os olhos. Lembro-me das palavras ditas por mim de meu pai. Não posso desistir, ele lutou por mim, do jeito que pôde, e agora vou lutar por ele. E pelo reino.

- E podem ter absoluta certeza de... - Minha fala é, mais uma vez, interrompida.

O homem-dragão da um passo a frente e grita alto o suficiente para que todos escutem. Tão alto que até os ventos mudam de direção.

- Já chega! - Sua voz ecoa por meus ouvidos, me deixando um pouco desnorteada.

Imediatamente, as mãos do elemental do fogo se projeteiam para frente, usando a magia para me jogar um vento carregado de chamas. Vejo a bola de fogo vindo em minha direção.
Mesmo que meus músculos estejam cansados e que meu coração já não bata com tanta vontade, sem contar a fadiga constante que tenho há dias, preciso lutar. Preciso continuar de pé. Não vou desistir.

Além disso, sempre gostei de brincar com fogo.

Rapidamente, uso as mãos para projetar minha magia quando seguro a bola de fogo em minha frente. Impedindo que chegue até mim. Sinto o suor aflorar em minha pele, enquanto minhas pernas imploram para que eu as deixe fraquejar. Com esforço, ricocheteio a bola de fogo de volta ao elemental.
O homem-dragão apenas continua de pé quando a chama o atravessa. Não, o corpo dele absorve o fogo. Imediatamente me pego imaginando se um dia conseguirei fazer isso.

- Isso foi divertido. - Diz Necksa. - Mas precisamos retornar às atividades.

- Concordo plenamente. - A vez de Gob dar sua opinião.

Após cansar meu corpo ao usar a magia que não devia nesse estado, meus músculos tensionam e então parecem se desfazer. Nicholas da uns passos em minha direção, suas mãos se posicionam firmemente em minha cintura enquanto seguro em seu pescoço.
Ergo um pouco a cabeça e encontro seu olhar.

- Te peguei, princesa. - Ele diz, apoiando meu corpo ao seu. - Tem que começar a contar quantas vezes vou te salvar.

Sorrio com dificuldade diante de sua fala. E então, a realidade nos estapeia com força.

- Espero que não estejam sequer pensando em não jogar hoje. - Diz a Sereia.

    Os quatro elementais erguem as mãos e parecem unir sua magia para criar algo em nosso entorno. Imediatamente, ao olhar para o céu, vejo um leve reluzir em azul. Criaram um campo de força ao nosso redor. Não temos como fugir.
    Aprendi com meu pai a respeito dos campos de força. São revestidos por um material resistente ao fogo, água, ar e terra. E imaginando que foi criado pelos elementais, também é resistente à magia negra, mesmo que eu ainda não saiba controlá-la. Tudo isso me leva à conclusão de que não há como escapar. Ávama foi pega de alguma forma, mesmo ela tendo dito que seria cautelosa e se esconderia tão bem que nem mesmo eu conseguiria vê-la. Mas talvez a rainha Paralda tenha disponibilizado seus farejadores imundos para procurar algo que nos incriminasse.
   Sinto minha garganta seca e as cordas vocais doloridas. Quem diria que gritar doeria tanto assim. Mas ainda não chega ao mínimo da dor que estou sentindo em relação ao meu pai. O meu pai. Sinto uma lágrima repleta em tristeza desenhar um traço invisível em minha bochecha.
Quando percebo que Nicholas ia começar a falar alguma coisa, a fada o interrompe.

A Crise dos Reinos ( Vol; 1 ) *CONCLUÍDO*Onde histórias criam vida. Descubra agora