Divided

Convite

Duas semanas após o quente encontro com o namorado, e Hoseok ainda não tinha pista alguma sobre o que vinha acontecendo com Taehyung. No bunker tudo aconteceu tão rápido e tão intenso que desistiu da ideia de questionar o garoto, entregando-se completamente à paixão e à luxúria que acabou por lhe arrebatar por inteiro. A curiosidade, porém, não diminuiu o mínimo que fosse, e ficava cada vez mais difícil fingir que nada estava o incomodando.

Taehyung, logicamente, percebia o que estava acontecendo. Por baixo de sua aparente apatia e falta de interesse cada dia mais crescente pela maneira com que Hoseok acreditava estar lutando, havia um homem preocupado e, de certa forma, chateado com os rumos que sua vida vinha tomando. Não estava arrependido de suas decisões mais recentes, mas precisar mentir para a única pessoa que de fato lhe importava era uma situação desoladora.

Desde a noite em que fora capturado pelas pessoas que flagrara se reunindo fora do horário permitido tudo tinha tomado rumos diferenciados para Taehyung. O que tinha começado com uma mera curiosidade acabou se tornando um dos principais motivos para se viver. Não deixaria de estar envolvido com aquele grupo, que depois de tanto tempo de desgostos e desilusões, tinha lhe oferecido um propósito e um objetivo enquanto cidadão coreano, e não tinha palavras para agradecer ao universo pela sorte de justamente naquela noite ter tido a ideia de seguir a garota que se esgueirava pela rua. Entretanto, estar nesse caminho sozinho, sem poder se abrir com o homem que amava de todo o coração, lhe machucava por dentro.

Queria compartilhar com ele suas descobertas, seus novos interesses, suas mais novas atividades. Queria poder abrir suas perspectivas sobre o futuro da Coreia. Já não estava apenas ajudando o namorado com suas aulas para manter o espírito coreano vivo; estava se preparando, física e emocionalmente, para o embate propriamente dito. Achava justo que Hoseok fizesse parte disso, da mesma forma que se dispunha a estar com ele em cada reunião para ministração de aulas, por mais inútil que toda aquela arrumação pudesse lhe parecer.

No entanto, aquele grupo tinha regras rígidas, e não aceitavam qualquer um em seu meio. Taehyung tinha tido muita sorte por aceito, posto que a outra opção era sair dali sem a própria vida. Foi necessária uma madrugada inteira de interrogatórios e testes, mas conseguiu ver mais um dia nascer e, de brinde, ganhar a chance de fazer algo efetivo para libertar sua Pátria das garras dos opressores.

Tudo o que mais queria era que Hoseok, o dono de seu coração, também fizesse parte disso. Contudo, os empecilhos eram demais para tanto. Como conciliar a natureza rebelde de quem agora ele era, com os preceitos tão elevados de seu namorado?

Foi pensando nisso, como costumava fazer em tantas outras oportunidades durante seus treinos físicos, que acabou sendo atingido bem no rosto pelo seu parceiro de lutas.

— Precisa ficar mais atento! — Jimin, o tal parceiro, gritou quando viu Taehyung ir ao chão. — Machuquei muito você? — O menor questionou, se aproximando.

— Não... — Respondeu baixo, se virando no chão e se erguendo num salto, o que fez o parceiro perder o equilíbrio e tombar para trás. — Quem precisa de atenção aqui pelo visto é você.

— Não mesmo.

O menor disse já posicionado, totalmente refeito da leve perda de equilíbrio sofrida segundo atrás. Em pouco segundos, os dois estavam de volta à luta corpo a corpo, treinando golpes e reflexos a fim de se aprimorarem para que pudessem trabalhar na revolução. O nariz de Taehyung tinha chegado a sangrar um tanto devido ao soco que Jimin lhe aplicou, mas isto não o impediu de seguir lutando com o jovem até que um dos treinadores os mandasse parar.

— Deixe-me ver seu rosto. — O homem imenso falou seco, puxando o queixo de Taehyung em sua direção. — Vai lavar isso.

Manteve a secura ao lançar a ordem, se virando para Jimin, no intuito de lhe fazer também uma checagem. Taehyung não esperou que o outro fosse verificado, saiu andando do local rumo à saída lateral, onde teria um lugar propício para realizar a limpeza da face. Não podia perder tempo, ainda havia muito o que se treinar e aprender naquele galpão, antes que a madrugada findasse.