Rebelião

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Taehyung não sabia quanto tempo tinha se passado desde que Yoongi entrara naquele recinto, ficando a sós com seu namorado. A contabilizar pela sensação pesada em seu estômago e o peso em seus ombros, poderia julgar facilmente que anos tinham se decorrido desde que a porta foi fechada e ele se sentou ali, para esperar o momento em que poderia saber o que estava acontecendo. A ansiedade da espera, o segredo de tudo e o silêncio irritante do local, também, não ajudavam em nada o seu estado.

A sobriedade de tudo fazia seus nervos tremerem, mergulhando sua mente num verdadeiro caos. Taehyung confiava na resistência, em seus líderes, em Yoongi. Sabia que Hoseok estava em boas mãos, tinha certeza disso — ou, ao menos, tentava se convencer, para não enlouquecer. O que perturbava era não saber realmente o que estava acontecendo, e o que ainda poderia ocorrer. Já tinha sido um espanto saber que Yoongi tinha conhecimento da existência de Hoseok, e foi um susto ainda maior tomar conhecimento de que havia interesse nele, por parte de seu grupo. Não conseguia entender o que um grupo ativo de resistência poderia querer com um pacifista completo como Hoseok.

Talvez fosse tal discrepância que o incomodasse. As ideias e os ideais de seu namorado não combinavam com as atividades que seu grupo trabalhava como forma de revolução. Não havia lugar, ali, para as teorias utópicas e cheias de otimismo excessivo do homem que amava. Por mais bem intencionadas que as intenções de Hoseok fossem, para Taehyung e qualquer um dos que se uniam naquele espaço, elas não passavam de palavras jogadas ao vento, e palavras não venciam uma guerra. A liberdade não seria comprada com o patriotismo silente, sentido apenas no coração e jamais demonstrado pelos braços. Era preciso luta, a verdadeira luta, que feria, partia, quebrava e conquistava. Era necessário usar de força, de músculos, de armas, jorrar o sangue do inimigo, rasgar a sua bandeira, o fazer recuar, sumir, jamais querer regressar.

Não seriam salas de aula que trariam isso. Reconhecia a importância delas, não era um completo bruto, mas elas não trariam à Coreia de volta o seu status de pátria livre e soberana. Por mais que Hoseok quisesse acreditar nisso, o mundo não era assim, a vida não corria dessa forma. E, em algum momento, conseguiria compreender se, de repente, Hoseok caísse na real e entendesse que precisavam muito mais que isso para vencer. No entanto o contrário, como estava sendo o caso, em sua cabeça, não fazia o menor sentido.

— Você sabe quanto tempo já faz?

Perguntou por perguntar ao sujeito que estava ali, como que vigiando ele, desde o momento em que a porta foi fechada. E, como esperado, não obteve resposta além de uma olhada rápida e silenciosa.

Cansado de esperar, sem noção de tempo e com as têmporas latejando, resolveu se levantar, andar um tanto em círculos, fazer o sangue se movimentar, os ossos se esticarem um pouco. Estar em movimento certamente seria melhor que permanecer sentado no chão, na base da porta, aguardando pelo instante em que poderia compreender a situação — se é que este instante, de fato, chegaria.

Um bom tempo se passou dessa forma, até que Taehyung se cansasse disso, igualmente. Controlando-se para não se permitir a irritação, se aproximou da pessoa que parecia não se abalar por ficar tanto tempo sem se mover.

— Eu preciso de água. Vou e volto num segundo.

Informou, baixo, e já se movia para o lado, a fim de ir para a área onde sabia que haveria um barril com água fresca, própria para consumo, algo que não era nada fácil de se conseguir no país, nesses tempos loucos de puro inferno. Seu intento, porém, foi frustrado pela mão forte e certeira do vigia, que lhe agarrou o braço e lhe puxou para sua frente.

— É melhor permanecer aqui.

Falou com severidade, num tom quase impossível de se discernir as palavras, e Taehyung não pensou duas vezes antes de obedecer e se postar ali, quieto. Não seria um grande problema, já que não sentia sede de verdade. Apenas queria sair dali, respirar um pouco de outro ar, por mínimos minutos que fosse. Não poderia, entretanto. O melhor, naquele local, era sempre acatar.

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