Conjunção

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Taehyung estava diferente.

Há alguns dias que Hoseok tinha notado no rapaz um ar diferenciado. Não sabia dizer quando, nem em que momento exato o garoto demonstrou algum sinal, mas havia algo em seu jeito que era inédito para Hoseok, que lhe escapava completamente. Isso estava deixando seus sentidos em alerta.

Havia uma reserva em Taehyung que nunca antes existiu. Certamente que o namorado tinha uma personalidade mais introspectiva, do tipo que preferia ficar calado observando a participar de maneira ativa de uma conversa. Atualmente, porém, parecia ter muito mais que isso em seu jeito de lidar com os arredores. Era mais do que suas características pessoais, ou seu enfado natural pela forma com que Hoseok preferia lutar. Não era mera quietude ou desinteresse. Tinha alguma coisa ali, mais forte, mais pesada, mais significativa.

Era por isso que naquela tarde, depois de sua classe clandestina ir embora, Hoseok pediu a Taehyung para se encontrarem em seu "local secreto". Há bons dias que não tinham momentos a sós, e o mais velho resolveu, então, unir suas necessidades afetivas à vontade de matar a curiosidade. Após uma estranha relutância do mais novo, acabaram por marcar o encontro.

O lugar nada mais era que uma zona de mata inexplorada, onde havia uma espécie de bunker abandonado, que Hoseok e Taehyung encontraram por acaso, numa de suas caminhadas para os confins do mundo, quando deixaram de ser amigos para serem amantes. Era um milagre que o local seguisse intocado até então, sendo conhecido somente por eles. Por esta razão, passaram a considerá-lo seu lugar secreto, já que parecia ter sido reservado a eles pelo próprio universo.

Para Hoseok, era uma pena que estivesse há tantos dias esquecido. Por isso, fez questão de lá chegar antes da hora marcada, a fim de arrumar tudo e deixar o espaço preparado para que a saudade pudesse ser dissipada. Com tudo pronto, só faltava a chegada de Taehyung.

O som da porta gasta se abrindo lhe indicava que a espera, finalmente, estava findada.

— Taehyung. — Disse indo em direção ao outro, o abraçando.

— Oi, hyung. — Falou num tom de voz baixo, um tanto cansado, retribuindo o abraço.

— Não sei se estava ansioso para lhe ver, mas a mim pareceu que demorou uma eternidade para chegar.

— Tive alguns contratempos, precisei lidar com eles para poder vir com tranquilidade. — Sorriu de canto, puxando o rosto de Hoseok pelo queixo, para cima, a fim de poder olhá-lo melhor. — Agora já estou aqui.

Hoseok deu um sorriso largo, da mais pura felicidade, o que levou o mais novo a acompanhar o gesto. Em seguida, Taehyung aproximou as bocas, iniciando o beijo pelo qual Hoseok há muito ansiava, mostrando ao mais velho que, apesar de suas impressões, ansiava por aquele momento na mesma medida.

Nenhum dos dois percebeu como, porém quando o beijo se encerrou, Taehyung já imprensava o outro contra a parede de pedra, de maneira quase invasiva. Os cabelos do mais velho estavam em completo desalinho, e suas roupas mostravam que as mãos do maior tinham lhe revirado inteiras.

— Eu sinto muito. — Falou tentando tomar distância.

— Pelo o quê? — Hoseok riu, insinuante, impedindo o outro de se afastar. — Sente-se culpado por fazer com o namorado exatamente o que se deve fazer?

— Não é conveniente. — Argumentou baixo, com os olhos fixos nos lábios avermelhados do menor, e as mãos tomando posse de sua cintura. — O mundo está explodindo lá fora.

— Aqui dentro só estamos você e eu.

O olhar do mais velho era intenso, e Taehyung sabia bem o que aquele brilho significava. Sentia falta daquilo, mas a cabeça andava tão cheia e o corpo tão cansado que já não pensava em buscar. Desde o encontro sinistro de outra noite sua vida tinha dado uma girada extravagante, que lhe exigia o próprio sangue. Ali, entretanto, se deu conta de que nem só de revolução se vivia. O amor e o calor do homem que amava também era importante.

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