Um lugar estranho

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Os gritos eram incessantes e ensurdecedores, embora ao meu redor nada demonstrasse a presença de outras pessoas. Na verdade tudo no lugar onde eu me encontrava era quieto demais. O tempo parecia ter parado para mim, já que o céu não perdia a negritude da noite e a lua continuava a iluminar o firmamento sobre aquelas paragens. Eu nem saberia dizer ao certo como tudo tinha se transformado tão repentinamente, e as lembranças, as poucas que me vinham à memoria, não passavam de um borrão obscuro e desconexo. Num instante eu me encontrava no salão dos Fernandes, rodeada por pessoas que mais pareciam estar numa competição de vozes e trajes, do que numa confraternização de natal; e, no outro, eu enxergava a mim mesma correndo desvairada em direção ao rio que passava pela propriedade daquela família. Alguém me perseguia e eu tinha certeza que seria pega a qualquer momento, uma vez que minhas pernas se enroscavam no vestido de cetim comprido e rodado que eu havia encomendado especialmente para aquele jantar.

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