02 | The New Deal

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Na quarta da segunda semana de Janeiro.

04h45.

Alexander acordou mais cedo do que de costume. O nervosismo não o tinha deixado descansar, e ele sabia que se não tivesse descansado, podia fazer alguma besteira. Mesmo assim, não conseguiu pegar no sono.

A alvorada matutina trazia consigo o ar ameno do clima temperado, mas ele só conseguia sentir o cheiro do pó de serra. O chão era plano, mas ele tropeçava em cada encaixe de madeira.

Os pássaros cantavam e exibiam suas penas, com as pontas mescladas em azul e um vermelho estonteante, mas ele não conseguia contemplá-los.

Todas as condições indicavam um dia perfeito, mas Hamilton estava tão tenso que sua boca rosada e definida, estava branca e sem vida. Ele balançava as pernas, não parava sentado, e passava o texto na cabeça sem parar por um só minuto, por um segundo, por um milésimo de segundo.

Chegou a nem pensar sobre a universidade, o que tomava a sua mente desde que percebeu e se convenceu do seu potencial.

─ Un, deux, trois, quatre, cinq, six, sept, huit, neuf. ─ Respirou fundo. ─ Un, deux, trois... Eu esqueci do relatório.

Ao abrir a agenda desesperadamente, viu que Thomas adiou o prazo da entrega do relatório sobre as importações do mês de dezembro.

─ Graças a Deus. ─ Afastou a cadeira da mesa com os pés suspirando. ─ Aleluia. Meu Deus. Ah, que delícia.

Mas, o caribenho tinha uma dúzia de coisas pra fazer. Tentou, tentou, mas nada saiu. O tempo não passou. Nada parecia dar certo.

─ E aí, Alex?

─ Olá, Senhor Hamilton. ─ Tentou manter a postura ereta, mas acabou rindo e a afrouxando quando o irmão fez uma cara estranha.

─ Desde quando você fala assim?

─ Tô treinando pra quando eu conhecer pessoas importantes. ─ Gesticulou com as mãos como se estivesse explicando algo sobre finanças, de um jeito bem peculiar e diferente dos outros.

─ Hm. Legal. ─ Deu um sorriso. ─ Quem você pretende conhecer?

─ Desde quando você está interessado no meu trabalho?

─ Eu parei pra pensar e você vai ser realmente remunerado por ele. Vai pagar uma rodada pra gente no bar quando sair da sala de reuniões e o Thomas souber do seu empenho e de como você está trabalhando bem.

─ Uau. ─ Ele ficou sem reação, mas continuava balançando a perna direita como sempre fazia quando ficava ansioso. ─ Você trabalhou nessa frase durante a semana toda? Ficou ótima.

─ Tá debochando de mim? Não é só você que tem um cérebro, Alexander. ─ Ele suspirou vendo que Alexander não parava de olhar para ele com um sorriso cúmplice. ─ O que foi?

─ Eu não achei que fosse interesseiro. ─ Fez o irmão rir.

─ E não sou. Eu quero passar um tempo de qualidade com o meu irmão antes dele abandonar todo mundo na cidade natal dele.

─ Eu vou substituir uma pessoa numa reunião importante para o Thomas. ─ Tentou mudar de assunto.

─ Meu Deus, por que eu estou aqui te atrapalhando ainda? ─ Perguntou com os olhos arregalados, enquanto Alex só ria da situação. ─ Com que roupa você vai?

─ Não sei. ─ O mais velho disse depois de alguns segundos de silêncio e deu de ombros. ─ Eu preciso escrever alguma coisa.

─ Por que você escreve como se estivesse correndo contra o tempo? ─ James voltou a falar, debochando da mania do irmão.

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