E seguiram...

1 0 0
                                    

...cada um para sua morada, após a curta reunião.

No dia seguinte Régis foi trabalhar com a leveza de quem acabara de conquistar a aposentadoria. Nem aguardou o fim da jornada, saiu às 17 horas sem dar satisfação a ninguém, nem ao chefe, tampouco ao RH. Afinal o que era abandono de trabalho comparado a grande pepita Canaã?

Faltando 25 minutos para as 8 da noite lá estava Régis no metrô, pela última vez, pensava. Tornar-se-ia criminoso procurado daí a poucos minutos e ninguém suspeitava. As poucas pessoas no metrô não faziam ideia que o magrelo encostado junto a uma das portas estava prestes a assaltar nada menos que o Banco Central do Brasil. Do que mais seria capaz? Sentia-se poderoso, ninguém ousaria desafiá-lo. Aquela expressão esnobe do dia anterior voltou a estampar o rosto. Encarou o rapaz de barba e cabelos bem feitos, vestindo calças verdes e camisa justa, encostado na parede logo à frente. Buscou uma vítima mais desafiadora. Achou um cara grande, sem dúvida frequentador de academia, mas este não olhava. Faltava uma viradinha de rosto. "Anda, otário! Vai encarar, é?", mentalizava Régis. "Frouxo", concluiu. Voltou para o barbadinho da frente que, percebendo a encarada, não se intimidou. Pelo contrário, parece ter relaxado e, numa requebrada de cintura, cruzou as pernas e manteve-se fixo no futuro criminoso. E sorriu e mexeu atrás da orelha. A discreta passada de língua nos lábios deixou Régis confuso, a ponto de abandonar o duelo e voltar ao grandão que, desta vez, percebeu de pronto. Ignorou uma vez, duas, mas parece ter percebido o desafio e respondeu um "qualé" sem falar, só movendo a cabeça raspada. Régis respondia: "não sabe com quem tá se metendo, zé ruela", também sem falar. Só que o zé ruela saiu pelo movimento dos lábios do Régis.

Assalto ao BacenOnde histórias criam vida. Descubra agora