Capítulo 5 - Outono de 1995

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Older – Sasha Sloan

Fim do outono de 1994

Duas e pouca da tarde.


Existia algo particular sobre Harry que me encantava – além do fato de, claro, ele ser ele –, e era o modo com que ele guardava tudo relacionado a nós dois. E quando eu falo "coisas" eu não falo somente do sentido material – como as conchinhas que pegamos na praia juntos, os colares com a pedra roxa que ambos usamos ou as diversas fotos de polaroid e desenhos horrendos e infantis que fizemos juntos – mas também as memórias.

O jeito como ele lembra das coisas que aconteceram conosco até os mínimos detalhes me deixa tranquilo em não pensar que sou louco ou obcecado por ele e por nossa amizade – e sobre ele em si – Eu realmente achava que era algo que eu me iludia sozinho. Todo o carinho e contato físico que mantínhamos. Realmente achava que todos aqueles sinais eram minha cabeça idiota e apaixonada fazendo eu acreditar que eu teria uma chance remota. Mas minha mãe sempre comentava sobre como nós dois não desgrudávamos um do outro quando estávamos juntos, ou como não largávamos o telefone – tio Sirius reclamava pela conta do telefone fixo sempre estar nas alturas por causa de nós dois.

E sobre toda aquela história sobre eu ser matriculado em Hogwarts, bem, eu nunca achei que eu realmente conseguiria estudar com Harry, mas minha mãe sempre consegue tudo o que quer – e naquele momento, sua prioridade era me deixar feliz – Suponho que ela também tivesse ficado extremamente feliz por eu gostar de Harry.

Meu pai, para meu extremo desgosto pessoal, foi decididamente contra a decisão de cruzarmos o país inteiro apenas para eu poder estudar na mesma escola que meu melhor amigo. Tentei, corajosamente, argumentar que Hogwarts era uma das melhores escolas do país, mas ele retrucou dizendo que Beauxbatons era tão boa quanto – O que não era uma mentira.

Minha mãe e eu sabíamos que a sua teimosia não era simplesmente por causa da distância, da qualidade de ensino ou qualquer outra desculpa bem articulada que ele nos deu. Sabíamos o real motivo dele não querer se mudar, mas nem sequer ousamos dar alguma alfinetada naquele assunto tão delicado.

Talvez tenha sido uma das poucas vezes que vi minha mãe rebater o meu pai, me defendendo como uma leoa protege seu filhote, garras afiadas e olhares penetrantes direcionados a Lúcios. De sua boca, saiu palavras firmes e ácidas que fizeram meu pai desviar o olhar. Minha mãe fez o meu pai recuar. Fez uma grande e venenosa serpente não passar de uma minhoquinha indefesa.

Meu pai era um covarde, assim como todos os Malfoys eram.

No momento em que ele lhe disse que ela nunca seria capaz de sobreviver sem ele porque não passava de uma "garotinha mimada" e que estar no mesmo ambiente que Sirius, Remus e Harry, seria perigoso porque eu corria o risco de me "contaminar", eu mal vi o momento que ela ergueu a mão e estapeou sua face com força. Seus dedos finos e firmes deixaram uma marca vermelha na bochecha do meu pai. Os poucos empregados que estavam no recinto estancaram no meu lugar, trocando olhares entre eles e eu escancarei a boca por estar surpreso demais. O som do tapa ecoou pela sala e continuou reverberando no meu cérebro.

Meu pai estava imóvel no lugar. Talvez surpreso, talvez com o ego ferido, talvez os dois. Eu nunca soube, porque não me importava em descobrir.

— Não vou deixar que fale assim de nenhum deles – Foi firme — E sinta-se à vontade de ficar aqui. Eu já resolvi os documentos da transferência de Draco – Ela disse, endireitando a postura — Vamos nos mudar, você querendo ou não.

— Draco, saia da sala – Meu pai ordenou e eu olhei para minha mãe em busca de uma confirmação. A minha relutância em receber suas ordens irritou meu pai — Eu mandei você sair! – Ele falou mais alto e eu imediatamente levantei por mero costume de obedecer quando ele levanta a voz. Os empregados desviaram o olhar da situação e voltaram a fazer suas tarefas — Se eu descobrir que está ouvindo a conversa na escada, vou fazer você se arrepender de sequer ter ouvidos.

Amor de VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora