Capítulo 3

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Foram tantos os problemas que encontrei em Florença, que a viagem que a princípio seria de três dias, se estendeu para oito

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Foram tantos os problemas que encontrei em Florença, que a viagem que a princípio seria de três dias, se estendeu para oito. Descobri que um dos nossos associados mais velhos estava nos roubando e como eu andava entediado, torturei o maldito e mandei pedaços do seu corpo como aviso para os outros associados da região, para que soubessem que eu estarei sempre de olho e que ninguém que tentar passar a Famiglia para trás, ficará vivo para contar história. A reunião com os capos por pouco não terminou em um banho de sangue, depois que Aldo, capo de Napoli, ousou me desafiar com a escolha de Franco como meu subchefe. Aquele velho gagá achou que eu o escolheria pela amizade de anos que teve com meu pai.
— Isso é um desrespeito com a gente. Franco é somente um soldado, Ottavio. — O homem grita com raiva, enquanto eu estou calmo, encostado na minha cadeira na enorme mesa redonda, onde estão os principais capos da Cosa Nostra. Passo o olhar por um instante em cada homem presente nesta sala e encontro olhares de raiva, já outros, de indiferença.
— Mais alguém concorda com ele? — Os velhotes se olham, enquanto Aldo espera com um sorriso de lado, achando que mais alguém terá a ousadia de ir contra mim. Quando ele percebe que ninguém irá se manifestar, me olha com olhos arregalados e eu sinto o bem vindo cheiro do medo, onde ele percebe que não sairá vivo dessa sala.
Sem titubear, puxo minha arma do coldre e disparo contra a cabeça dele, vendo seu cérebro explodir como gelatina, fico surpreso quando percebo que ele tinha um, pena que não soube usar. Os outros capos nem se movem em seus lugares.
— Não faz muito tempo que vocês beijaram este anel. — Levanto a mão direita e mostro o anel da família Ruggero, onde todos beijaram e juraram lealdade a mim no dia da minha posse. — Também não faz muito tempo que disse que as coisas seriam diferentes. Então, comecem a rever seus atos, eu não vou admitir falhas e deslizes, todos sabem que não é do meu feitio ser paciente e benevolente.
— Eu estou às suas ordens, Don Ruggero. Fiquei à vontade para começar a faxina. — Sorrio pela fala de Ângelo Santoro, um dos poucos capos jovens presentes. Assim como eu, ele detesta a maioria dos velhos gagás aqui presentes. É um aliado importante.
— Assim espero. — Peço para retirarem o corpo de Aldo da sala e continuo a reunião. Encarrego Ângelo de cuidar de Napoli até que eu possa nomear outro capo para a região. Nem fodendo vou colocar um da prole de Aldo no comando.
Mudamos o assunto para o que cada um conseguiu descobrir sobre a morte de meu pai. Muitos não tiveram êxito em suas buscas, mas quando Fábio Lucchese me disse que um de seus informantes entrou em contato, afirmando que foi a Outfit quem mandou matar o Don, fecho meus punhos com ódio. Quel dannato do Cesari Galaretto pagará com seu sangue se esta informação for verdade.
— Lucchese, preciso que me confirme esta informação. Diga a seu informante que ele tem 24 horas. — O homem assente, enquanto perco o foco de tudo, pensando somente em mil possibilidades de matar Cesari, lentamente.
— Pronto para ir embora? — Volto a realidade com a fala de Luigi. Ele e Franco aparecem no meu campo de visão, meu consigliere como sempre tem um sorriso zombeteiro no rosto.
— Oito dias longe de casa é tempo o suficiente. — Falo, entrando no carro que nos levará a pista particular do meu jatinho.
— O que você pensa em fazer? — Franco, que estava calado há muito tempo, me pergunta e eu penso na resposta.
Mas não tenho tempo de responder, porque uma explosão no carro da frente acontece, fazendo Franco parar bruscamente a SUV. Segundos depois o carro de trás também explode.
— Puta que pariu. O filho da puta está com uma RPG. — Luigi xinga, saca sua arma, abre a porta da frente e sai abaixado. Eu e Franco fazemos o mesmo e atiro abaixado atrás do carro na direção de algumas casas velhas, mas não consigo definir ao certo de onde vem os disparos.
— Onde esse maldito está? — Grito furioso.
— Ottavio, se protege, porra. — Franco grita e quando vejo Luigi abaixado com um sangramento na perna, ando agachado até ele.
— Onde mais você está ferido? — Pergunto, checando a perna que levou um tiro de raspão. Ele diz que está tudo bem, ao mesmo tempo em que os tiros cessam e Franco está parado, olhando para todos os lados, tentando identificar de onde vem o perigo. Faço um torniquete na perna de Luigi, enquanto ele pragueja xingamentos.
— Eu não estou gostando disso. — Franco murmura sobre o silêncio que estamos. A tensão é palpável. Quando penso em voltar para onde eu estava, sinto uma ardência em minha orelha esquerda, ao mesmo tempo que Franco se joga em cima de mim.
— Porra. Eu vou matar esse maldito. — Rujo, sentindo que tomei um tiro de raspão na orelha que está escorrendo sangue.
— Que porra de mira do cacete. Figlio di puttana! Cesari vai me pagar por esse tiro. — Luigi grita, se levantando e atirando. Dois carros apontam na estrada em nossa direção quando novas rajadas de tiro ecoam. Abaixado, vejo Ângelo sair do carro junto de seus soldados e atirar contra o casebre. Depois de alguns minutos de confronto, escuto o barulho de uma moto em fuga, ao mesmo tempo que um dos carros do meu capo sai em disparada, seguindo.
— Tendo muitas emoções, chefe? — O capo me pergunta e se aproxima sorrindo.
— Mas do que gostaria de contar. O filho da puta com certeza é um executor, além de ter explodido meus soldados. — Aponto para a bagunça feita e ele assente. Enquanto vejo Franco ajudar Luigi a entrar no carro, vou até a casa velha e analiso o local, mas não encontro nada de útil. Me viro para sair e piso em um envelope pardo com meu nome. Abaixo, pego e meu sangue gela quando vejo uma foto de Allegra no dia do nosso casamento e atrás uma mensagem: "Você será o último dos Ruggero a morrer."
— Interessante. — Levanto a cabeça e fito Ângelo, que olha a foto em minhas mãos.
— Cesari e seu executor são homens mortos. — Sentencio. Porque tão certo como a luz do dia de amanhã, é a minha vingança.
Assim que pousamos em Palermo, Franco leva Luigi para que nosso médico cheque seu ferimento, e mesmo sentindo minha orelha latejar, me recuso a ir. Minha urgência é chegar em casa e conferir com meus próprios olhos se minha mãe e Allegra estão bem. No caminho até a mansão, passo analisando os pontos cegos. Assim que Franco voltar, falarei com ele para fechar o cerco ao redor da mansão.
Desço do carro olhando a vigilância ao redor. Todos esses homens são de minha confiança, eu cresci com a maioria deles, conquistando sua lealdade, sei que enquanto eles estiverem protegendo Allegra e minha mãe, elas ficarão bem. Subo a escada rapidamente e quando passo pela porta dando de cara com a enorme sala de estar, encontro minha mãe tricotando, ela levanta a cabeça e percebo seu olhar ficar tenso, provavelmente por eu estar todo sujo de sangue.
— Ottavio, meu filho, o que aconteceu? — Num piscar de olhos ela está na minha frente, me analisando.
— Estou bem, mama, nada que um banho não resolva. — Olho ao redor e antes que eu pergunte algo, ela sorri e diz que minha esposa está no ateliê. Eu peço para que algum empregado vá chamá-la, enquanto me dirijo para nosso quarto.
Abro a porta da nossa suíte e o cheiro do perfume de Allegra me dá boas vindas. Ando até o banheiro, me despindo no caminho, olho meu ferimento no espelho e pego a caixa de primeiros socorros no armário da pia. Antes que eu comece a limpar a ferida, pequenas mãos me param no caminho e eu encaro o olhar atento da minha esposa pelo espelho, ela está ofegante, como se tivesse vindo correndo. Seus cabelos estão presos em um coque bagunçado e ela usa seu collant, saia e sapatilhas.
— O que aconteceu com você? — Ela pergunta e toma o algodão da minha mão, tentando passá-lo no meu ferimento, mas sem sucesso pelo seu tamanho.
— Fui atacado quando estava vindo embora. — É tudo o que digo e a vejo engolir seco. Me curvo um pouco para ficar à sua altura e vejo ela sorrir de lado enquanto limpa o ferimento. Ficamos calados até ela terminar o serviço. Quando sai dizendo que vai buscar algo para que eu coma, entro no chuveiro e logo meus músculos tensos relaxam com a queda d'água. Coloco as mãos na parede enquanto a água cai na minha nuca e penso nos motivos que levaram Cesari a ordenar a morte de meu pai e de todos os Ruggero. Apesar de não sermos aliados, a Outfit nunca se envolveu com a Cosa Nostra, pelo menos não até agora. Permaneço mais alguns minutos e saio do banho ao mesmo tempo que escuto a porta do quarto batendo, vou para o mesmo e encontro Allegra sentada na mesa de dois lugares perto da janela. Ela está olhando para o mar e eu me pergunto como em poucos dias eu já tenha ficado com receio de que algo aconteça com ela.
— Você se adaptou bem a mansão nesse tempo em que eu estive fora? — Pergunto e vou até a mesa, ela vira seu olhar para mim e cora quando percebe que estou somente com uma toalha na cintura.
— Sim, eu arrumei o meu ateliê. Além disso, Elisa é uma ótima pessoa e foi paciente comigo. — Seu olhar me transmite cautela, enquanto me sirvo, me pergunto se devo saber o que está passando naquela cabecinha.
— Quer me dizer alguma coisa?
— Sim. — Tomo um gole de água e peço para que diga enquanto como.
— Eu quero uma arma. — Levanto meu olhar até o seu e repito o que disse na minha cabeça para ter certeza de que não escutei errado. Empurro o prato de comida para a frente e me encosto na cadeira, analiso sua postura e percebo que ela está segura do que me pediu.
— E porque você precisa de uma arma? — Ela sorri de lado e se recosta em sua cadeira também.
— Porque eu sei atirar. E por que eu quero me sentir segura quando saio de casa. — A ideia dela saindo depois da ameaça que recebi não me agrada.
— Arma não é sinal de segurança, Allegra. — Respondo duro, a vendo me olhar intensamente.
— Não, não é. Mas eu estarei mais protegida se eu puder andar armada, pelo menos quando eu sair de casa.
— Sabia que hoje recebi uma ameaça contra a sua vida? — Falo e ela engole seco. Minha esposa não é nenhuma covarde, ela não se deixa ser intimidada, mas ela também não tem noção de todos os perigos que a cercam. Vivendo durante anos cercada por uma proteção exagerada, me surpreendo até mesmo com o fato de que aquele carcamano do Umberto a tenha permitido aprender a atirar.
— Mais um motivo para que eu tenha minha própria arma. Eu não vou confiar minha vida a um soldado.
— Você vai confiá-la a mim, mia dea. — Respondo sério.
— Eu só quero me sentir protegida.
— Não tenha dúvidas de que você é. Vou pensar sobre seu pedido.
— Por favor, não me esconda nada! — Ela pede, me fazendo suspirar e voltar a comer.
— O que você quer, Allegra?
— Eu quero que dê certo, Ottavio. — Seu olhar feroz me faz parar para escuta-la. — Não quero ser a esposa fria e ser tratada como um bibelô que precisa ser protegida para não ser quebrada. Eu sou sua esposa e sei de todo o fardo que você carrega. No dia do nosso casamento, eu estava morrendo de medo de você ser o monstro que todos falam, qual foi minha surpresa quando você me fez sua, me cobrindo com carinho. — Suspiro e esfrego as têmporas, escutando-a falar. — Todas às vezes em que eu te via todos esses anos, eu idealizei na minha cabeça que eu apanharia todos os dias e que você me prenderia em um porão. — A olho surpreso. Apesar de ser temido por muitos, eu jamais levantaria a mão para ela, eu a vi crescer e se tornar uma mulher. A minha mulher.
— Eu ainda não sei onde você quer chegar. — Sou sincero nas minhas palavras.
— Eu quero que nosso casamento dê certo. Até nossa primeira noite juntos, eu nunca imaginei que fosse dizer isso, mas eu quero, Ottavio. Você poderá ser o que sempre foi da porta para fora deste quarto, mas aqui dentro eu quero que você seja somente o Ottavio, meu marido. — Ela diz isso tudo num fôlego só e me surpreendendo com a firmeza de suas palavras.
— Eu te disse para não esperar amor. — Falo cansado e ela assente.
— E também disse que você seria fiel a mim e que me protegeria. Isso é o bastante, por enquanto. — Ela me dá um sorriso de lado e se levanta, vindo se sentar em meu colo e meu pau logo dá sinal de vida.
— Eu não confio facilmente. Então, se eu disser que eu confio em você, não faça eu me arrepender. — Falo com intensidade a mais pura verdade. A mulher hoje sentada em meu colo é tudo aquilo que eu queria e achei que nunca teria. Allegra é uma verdadeira rainha da máfia, não tenho mais dúvidas de que com ela ao meu lado, o legado Ruggero se estenderá por várias gerações.
— Tenha certeza de que a maior prova de amor que você pode me dar, é a sua confiança. — Dizendo isto, ela me beija ferozmente, seguro sua nuca e aprofundo o beijo, a escutando gemer. Somos interrompidos por alguém que bate na porta.
— Eu juro que irei matar seja lá quem for. — Me levanto rumo a porta, mas ela me segura e aponta para a toalha em minha cintura, deixando evidente minha ereção.
— Vá se trocar, eu atendo. — Vou até o closet e visto um dos meus ternos Armani. Quando saio, encontro Allegra tensa a minha espera.
— O que houve?
— Franco mandou te chamar. — Ela diz e eu saio do quarto rumo ao meu escritório. Para Franco ter mandado me chamar, algo de muito grave deve ter acontecido. Assim que abro as portas do meu escritório e vejo a fisionomia do meu subchefe, sei que não irei gostar do que ele tem a dizer.
— O que houve? — Pergunto novamente.
— Cesari entrou em contato. — Sua fala é direta.
— E o que ele disse? — Pergunto e ele respira fundo.
— Que não vai parar e que ele não vai deixar que Cosa Nostra e Camorra se unifiquem. — Enfim o entendimento do porque ele começou os ataques me vem. Medo. Ele não queria que o acordo firmado acontecesse, porque assim a Cosa Nostra ítalo-americana também se beneficiaria com o tratado, abrindo brecha para uma futura aliança com a Camorra americana. Aquele maldito matou meu pai achando que nós iríamos recuar, por isso ele quer matar Allegra e a mim, sem nós dois, a guerra pelo poder nas duas máfias seria eminente.
Ando até o bar e me sirvo de uma boa dose de whisky. Tomo dois goles e me sento no sofá ao lado, com a cabeça girando em torno da nova informação.
— E descobriram quem é o executor que tentou nos matar hoje — Ele assente e me passa uma pasta que estava o tempo todo em suas mãos.
— O nome dele é Otto, sem sobrenomes. Ele é o melhor executor da Outfit. Cesari o treinou pessoalmente. — Leio as informações do filho da puta e começo a pensar em uma estratégia.
— Franco, feche o cerco nas ruas de acesso a mansão, deixe os melhores homens na segurança da casa. Minha esposa e minha mãe estão proibidas de sair de casa, os empregados também. Nada entra nessa mansão sem ser revistado. — Dou as ordens na qual ele escuta atentamente e o dispenso, ficando sozinho. Meu celular começa a tocar no bolso e mostra ser um número restrito.
— Ruggero. — Atendo firme.
— A esta altura você já deve saber quem eu sou. — Eu sei muito bem quem é Cesari Galaretto e com toda certeza não é ele do outro lado da linha.
— Sim, Otto. Eu sei quem você é, o faz tudo do Cesari. — Respondo sarcástico, o fazendo rir do outro lado da linha.
— Se prepare, eu não vou errar o próximo tiro. — Levo as mãos a minha orelha e meu sangue ferve por causa de sua provocação.
— Estarei esperando. Ah! Otto, diga a Cesari para mandar o que ele tem de pior, porque eu não vou parar agora que comecei.

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