Sangue Puro:Destinada ao Herdeiro ( Livro 4) - FINALIZADO

Capítulo 49

ZOE LABONAIR

Havia sangue por todos os lados. Impregnados em minha pele, roupas e rosto. Encarei minhas mãos ensanguentadas, meus dedos tremiam pelo terror do momento. Estávamos lutando há horas, e o número do exército de Kieran parecia nunca diminuir, e isso deixava cada um de nós aterrorizados.

A sujeira era tão densa que eu quase podia senti-la em minha alma. Sangue parecia ter manchado minha essência e o sentimento era ruim. Como se toda a luz que ainda existia dentro de mim estivesse se apagando aos poucos com a quantidade de vida que tirei naquela noite.

Fiz uma careta quando pisei em uma poça de sangue. O cheiro podre revirava meu estômago, me encostei numa árvore para despejar a pouca comida que tinha dentro de mim no chão, a bile queimava. Fechei meus olhos com força, a garganta arranhava. Levei a mão ao rosto, tentando controlar a tontura. 

Encostei a testa na árvore, respirando profundamente, acalmando o poder desconhecido que ainda vibrava em meu sangue. Uma sensação estranha me tomou e logo eu estava buscando minha gêmea no meio do exército e avistei o exato momento onde ela foi ferida por um bruxo e quase perdeu o equilíbrio. Jason, que não estava distante dela, avançou como um louco até o bruxo que feriu Meg e o matou com um soco na garganta, indo diretamente para minha irmã logo em seguida.

Tentei ir até ela, mas a fraqueza em minhas pernas me impediram de continuar. Então me contive ao observar Jason cuidado de Megan de longe, sem acreditar no que meus olhos viam. Aquela não era uma cena comum de se ver, eles se odiavam tanto, pelo menos era o que diziam.

Sufoquei um grito ao ver os pais de Chloe serem mortos por um de nossos inimigos. E o grito de desespero da bruxa tocou meu coração. Ela se jogou ao lado dos corpos já sem vida dos pais e os abraçou, chorando compulsivamente. Forcei minhas pernas a caminharem até ela, passando pelos corpos abertos no chão e sujando minhas botas de sangue. Quando alcancei Chloe, toquei seu ombro, quase sendo acertada por um soco dela.

Me abaixei ao seu lado e a puxei para um abraço, a afastando dos pais mortos. Chloe se agarrou a mim, me apertando com força e cravando suas unhas em minhas costas feridas, rangi os dentes pela dor, mas não a afastei. Ela chorou em meu ombro, molhando minha blusa imunda.

-Eu sinto muito-sussurrei no ouvido da bruxa, meus olhos ardiam. -Eu sinto muito por sua perda, Chloe.

Frederick surgiu ao meu lado, ofegante e trêmulo. Ele olhou para os pais de Chloe mortos no chão e para a bruxa em meus braços, engolindo em seco, passou a mão pelos cabelos, nervoso.

-Precisam de ajuda?

Eu estava pronta para mandá-lo ao inferno, mas o olhar preocupado em seu rosto me fez pensar melhor. Mordi o lábio inferior e segurei o rosto de Chloe, forçando-a me encarar. A dor nela era tão profunda que podia senti-la.

-Você precisa ser forte agora, Chloe, precisa continuar lutando.

-C-como?-gaguejou, trêmula.

-Ou a morte de seus pais terá sido em vão. Eu prometo que faria Kieran pagar caro, eu juro a você, ele se arrependerá de ter nos atacado. Só peço que não desista agora, por favor.

Ela assentiu, ainda chorando e passou o punho pela bochecha molhada, completamente desolada.

Ergui a cabeça e Frederick continuava parado ao nosso lado, os olhos cravados em Chloe. Respirei fundo e tentei sorrir para minha amiga, tentando acalmá-la.

-Vai ficar tudo bem-era uma mentira, e ela sabia disso, mas mesmo assim tentou acreditar em minhas palavras.

Com o peito apertado, a ajudei a se levantar do chão e fitei Frederick seriamente.