Abra a porta, por favor?

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Hyunjin arregalou os olhos quando escutou o barulho da janela abrindo e seus cachorros latindo feito loucos. Largou tudo o que segurava e correu até o seu closet, se trancando nele e se sentando na frente da porta enquanto abraçava seus joelhos. Sabia exatamente quem era e o que veio fazer. Bem que ele havia avisado que viria...

—— Já está tudo resolvido, querido! — A voz de Seungmin ressoou alto pelo local, fazendo Hyunjin se tremer todinho e apertar os próprios joelhos. —— Vá se vestir. Você é o meu par para a festa de formatura esta noite!

—— Vai embora da minha casa, Seungmin! — Gritou, sentindo o rosto ficar quente pelo nervosismo e os olhos se embaçar por conta das lágrimas que já se acumularam em suas orbes.

—— Oh, então você se escondeu no closet de novo? — Riu soprado, se aproximado do local e batendo na porta. —— Vamos lá, abra a porta.

—— Seungmin vai embora! — Ordenou, tentando não fraquejar na voz, contudo, falhou.

—— Você tentou se livrou de mim como se eu fosse lixo... — Ignorou completamente os mandados, ficando na frente da porta. — e é por isso você deveria estar morto!

—— Mas... m-mas... mas! — Não conseguia nem o que dizer.

Então, como um flash, veio algo na mente de Seungmin: e se, ao invés de Hyunjin, os estudantes de sua escola morressem?

—— Esses idiotas são os culpados! — Disse consigo mesmo, roendo a unha do dedão enquanto encarava o seus pés e refletia. —— Eles fizeram a sua cabeça, colocando nela que eu era louco e você acreditou!

—— Do que você está falando, seu retardado?!

—— Não se faça de desentendido. Eles estão mantendo você longe de mim! Eles... te cegaram, mexeram com a sua mente. — Aos poucos voltou a olhar para a porta, sorrindo de forma psicótica. —— Mas eu posso te libertar!

E Hyunjin desistiu de tentar, apenas cedeu as lágrimas e soluços atrás da porta. Estavam com muito, muito medo. Todos o avisaram de com quem estava se metendo, mas preferiu não dar ouvidos e então está agora nessa situação horrenda.

—— Você simplesmente me deixou e eu Fiquei sem rumo! — Seungmin esmurrou a parede, enquanto sentia lágrimas de ódio descerem queimando, como fogo, em seus olhos.

“Bam! Bam! Bam!” foram os piores barulhos escutados por Hyunjin até agora e eles o fizeram tremer mais ainda.

—— Você sabia que tinha o meu coração, libertou toda aquela merda que estava guardada comigo! Eu te amava tanto... — Hyunjin disse, Seungmin o ouvia atentamente. —— E é por isso que eu te odeio. Você me fez enxergar a desgraça que era nosso relacionamento. Você aproveitou meu amor por você e me manipulou, me obrigando a seguir as tuas vontades!

Aqueles estudantes... Seungmin respirou fundo e se lembrou que havia construído uma bomba caseira para brincar na rua uma vez, e uma idéia mirabolante se passou em sua mente.

—— Hoje a nossa escola vai ser o Vietnã! — Disse em um tom divertido, se escorando na porta e sorrindo largo. —— Vou garantir que eles nunca participem do baile de formatura.

—— O quê? — Hyunjin perguntou baixo, como se falasse consigo mesmo, tentando entender o que se passava na mente insana de seu ex namorado louco.

—— Traga marshmallows para o baile, sei que você os adora. Nós podemos sorrir e nos abraçar enquanto o fogo queima o ginásio com todos lá dentro... — Disse rindo, voltando a ficar cara a cara com aquela maldita porta —— Vamos só ver a fumaça sair pelas porta logo após o ginásio fizer BOOM! — Gritou e deu um murro na madeira ao imitar o barulho de uma bomba.

Hyunjin se encolheu mais ainda, soluçando baixo. Buscou por seu celular, mas se lembrou que ele havia ficado no sofá. De fato hoje não era seu dia de sorte.

Eu fui feito para ser seu!” Seungmin se lembrou do que Chittaphon havia dito para si há um tempo. Jurou poder sentir os braços dele em seu ombro e aquele sorriso que tanto amava.

—— Nós deveríamos ser uma só pessoa! — Começou, colocando a mão no peito. — Eu não posso aguentar sozinho... você não pode simplesmente terminar o que começamos!

Hyunjin nada disse. Sequer conseguia. Apenas chorava e rezava para o universo o libertar daquela situação, que, sem dúvidas, lhe deixaria com altos traumas.

—— Você foi feito para ser meu! — Disse com a voz rasgada, demonstrando com clareza seu tom irritado, enquanto era possível ouvir os tapas desferido em seu próprio peito por de trás da porta. —— Eu sou tudo o que você precisa... — Retornou com um tom calmo, acariciando a porta, imaginando como se fosse Hyunjin ali.

—— Você quebrou o meu coração... não posso simplesmente me enfiar nessa relação sem futuro! — Retrucou Hyunjin, em um alto tom. —— Não vou abrir porra nenhuma.

—— Hyunjin! — Berrou, dando um soco fortíssimo na porta, fazendo um estralo pela casa toda. O Hwang se assustou, se levantando e procurando por algo que pudesse lhe ajudar. —— Abra a... abra a porta, por favor! — Gaguejava, já não conseguindo controlar  sua fúria.

Como Hyunjin ousava a lhe desrespeitar daquela maneira?!

Tentava controlar seu tom de voz, respirando fundo e cerrando os punho. Sabia que não conseguiria, mas se sentiria melhor se pelo menos tentasse.

—— Hyunjin, abra a porta... podemos parar de brigar? Por favor, podemos parar de brigar? — Soou manso. —— Querido, eu sei que você está com medo, eu já me senti assim quando quase te perdi. Eu posso te libertar!

Não escutou nenhum ruído do outro lado. Respirou fundo, pegando o revólver que estava em seu bolso traseiro, já se armando.

—— Hyunjin, não me faça entrar aí... — Berrou um tanto ameaçador, esmurrando a porta. —— Eu vou contar até três!

Um...!
Dois...!

—— Foda-se! — Se afastou e deu um chute naquela maldita porta, arrombando a mesma.

Fechou os olhos por breves segundos após o impacto, olhando sério ao redor.

—— Então você quer brincar de pique esconde? Tudo bem, vamos brincar. — Disse com um humor amargo na voz, atirando para cima enquanto começava a procurar pelo Hwang naquele closet pequeno.

Não demoraria para ser encontrado, e Hyunjin sabia disso. Mas, mesmo assim, se encolheu naquele guarda-roupas escuro e tampou a boca, afim de abafar o choro e o soluço.

Escutou passos virem em sua direção, e pela brecha das portas pôde ver a sombra de Seungmin cada vez mais próximo.

E logo foi encontrado.

—— Um, dois, três, Hyunjin... — Disse em um sussurro, manobrando a pistola na mão enquanto dava alguns tapinhas na porta do guarda-roupa.

—— Seungmin, por Deus! Me deixe em paz... — Pediu choroso, se desesperando.

O Kim fez sinais de silêncio com o indicador, puxando o corpo do rapaz para si e o abraçando enquanto se sentavam no chão.

—— Está tudo bem agora, meu amor, eu estou aqui... — Sussurrava calmo, fazendo um carinho nos fios do Hwang, que se derramava em lágrimas dolorosas.

—— Por favor... — Foi a única coisa que conseguiu dizer, antes de sentir o cano frio da arma encostar em sua cabeça.

—— Está tudo bem agora...

pow”

Foi o último som escutado por Seungmin naquela noite.

E o último que Hyunjin escutou em sua vida.

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