Capítulo 02

69 1 2
                                    


Capítulo 02

Sábado, 28 de maio de 2011

Quando você sabe que a noite terminará mal, todo o seu dia é uma boa porcaria. Esse foi um dos piores sábados da minha vida.

Eram 19hs da noite e Sílvia e eu estávamos nos arrumando para a festa desagradável na casa do Lucas. Silvia tinha um apartamento próprio que comprou quando fez vinte anos, graças a ajuda de seus pais e as economias que fez desde que começou a trabalhar como recepcionista em um escritório de advocacia.

O apartamento era pequeno mas muito organizado e com aquele toque feminino típico dela. Silvia fazia questão de manter seu espaço, ela levava garotos para o apartamento, afinal, é para isso que servia a privacidade da casa própria, mas ela nunca deixava que eles se acomodassem por muito tempo em sua casa.

Enquanto Sílvia terminava de arrumar seu cabelo olhando no espelho gigante que tinha atrás do sofá da sua casa, eu estava calçando minhas sandálias.

Era incrível como ela ficava bonita com qualquer roupa! Para a festa ela estava usando um vestido de alça na cor azul turquesa, com um chalé branco em volta dos ombros e sandálias de salto alto prateadas. Seus cabelos loiros e compridos estavam cacheados e presos por algumas mechas com uma presilha em formato de tartaruga que eu a presenteei em seu aniversário de catorze anos. A maquiagem era escura e ressaltava muito bem seus olhos azuis.

Para que você entenda melhor, Silvia agora tinha 23 anos, mas seu rosto era tão jovial que ainda parecia ter dezoito ou até mesmo quinze anos, entretanto seu corpo era bem convidativo. Olhos azuis, cabelos loiros, bochechas salientes, nariz redondo, lábios sedutores e a pele branca. Sílvia tinha um rosto angelical. Uma mulher alta, mesmo sem as sandálias de salto, seios no tamanho proporcional ao seu corpo, cintura fina e quadris avantajados. Quem não ficaria de queixo caído come essa mulher? Silvia sabe como fazer um homem babar por ela sem ter que fazer esforço.

Enquanto eu pareço bem mais velha do que realmente sou, mas só para constar, também tenho 23 anos. Sou baixinha, gordinha e definitivamente não tenho um rosto angelical. Não, eu não me acho feia, mas sei que não sou tão bonita ou atraente quanto minha melhor amiga. Tenho a pele "parda", que é apenas uma definição bonita para amarela, meus lábios são finos, minhas bochechas achatadas, mas meus olhos são verdes e eu acho eles a parte mais charmosa de mim. Meus cabelos no momento estão curtos e ficam sobre meus ombros, eles são castanho-claros e eu nunca os pintei de nenhuma outra cor. Não sabia bem o que usar para a festa, então escolhi calças jeans, sandálias rasteiras e uma blusa com estampa indiana que a Silvia me emprestou ( a única roupa dela que consegue caber em mim, mas guarde segredo), sem maquiagem, apenas lápis de olho e batom cor laranja. Uma pessoa normal em uma festa desagradável.

- Vamos amiga! Pra quem não estava a fim de ir à festa, você está se arrumando demais!

Silvia sempre ficava horas se arrumando, mas se eu ou qualquer pessoa demorasse um pouquinho a mais que ela, ela ficava reclamando pelo resto do dia.

- Eu já estou pronta, Sílvia!

- Então vamos!

Dei uma olhada no espelho antes de sair do apartamento e fiquei feliz com o que vi, talvez a noite não fosse tão ruim assim.

Sempre tem um garoto na história. S-E-M-P-R-E! Silvia só queria que eu fosse a essa tal festa para me apresentar a um garoto idiota que trabalha junto com ela e que, para piorar, era primo do meu melhor amigo, Lucas (Sim, isso foi ironia!).

Estávamos nós quatro sentados à beira da piscina na casa do Lucas. Ele e Sílvia já estavam bem bêbados e ficaram rindo durante um bom tempo de qualquer coisa. Já eu e o tal primo chatão ficamos apenas no refrigerante, então estávamos achando aquilo ali muito sem graça.

A casa do Lucas era bem grande, devia ter mais de cinco suítes, sala de estar, sala de jantar e até sala de jogos, (um castelo moderno, foi assim que Sílvia a definiu uma vez), mas o principal era a piscina, onde a maior parte dos convidados de Lucas estavam, a maioria bêbada, então desisti de ficar ali.

- Com licença.

Silvia e Lucas estavam se agarrando com tanta vontade que nem ouviram ou não se importaram com o que eu disse.

- Vou com você.

O tal primo também se retirou da beirada da piscina e foi me acompanhando até a saída da casa.

Era um homem bonito, isso eu tinha que concordar. Olhos negros e um pouco assustadores, pele bem branca mas não do tipo frágil como pele de bebê, seus cabelos eram curtos, mas bem tratados e tão negros quanto seus olhos e seus lábios eram rosados e se destacam com relação a sua pele branca, nariz um pouco grande, mas combinava bem com seu queixo quadrado. Alto, magro e ligeiramente musculoso. Sua voz era grave e agradável. Vestia calças jeans largas, camisa preta com mangas apertadas nos braços e tênis all star azul.

Por que eu não reparei que ele era tão bonito antes? Eu nem lembro qual é o nome dele. Droga!

- Você vai querer uma carona?

Ele estava me oferecendo uma carona? Deveria eu aceitar caronas de estranhos?

- Por que está saindo da festa do seu primo?

- Porque não gosto de festas, só vim porque o Lucas ficou insistindo. Pelo que eu entendi, eles queriam juntar a gente.

Eu estava indignada, de verdade. Assim que a Sílvia estivesse sóbria, ela ia se ver comigo.

- Ah! Nem me lembre disso. Amanhã irei perder a minha melhor amiga.

- Nossa, eu sou tão feio assim que você detestou me conhecer?

Ele me lançou um olhar triste. Aquele olhar não combinava com seu rosto, jamais. Eu achei que ele também não tivesse gostado desse encontro arranjado. Queria lembrar o nome dele para ser mais educada, porém não conseguia puxar pela memória de jeito nenhum.

- Não é isso... Você é um gato! É só que eu não gosto de encontros arranjados.

Espera! Eu acabei de dizer que ele é um gato? E em voz alta? E pra ele?

Ele sorriu. Como ele conseguia ter dentes tão brancos?

- Que bom que você me considera um gato, mas eu te considero mais do que uma gata. E eu percebi que você não está muito interessada em mim, você nem se lembra do meu nome.

Touché. Ele pareceu realmente chateado por eu não lembrar o nome dele e eu me senti tão culpada, não dei a menor confiança só porque ele é primo do babaca do Lucas.

- Me desculpe...

Não riam de mim. O que mais eu poderia fazer?

- Mauro. Meu nome é Mauro Melo.

Ele estendeu a mão e não precisei de muito tempo para cumprimentá-lo de volta. Mãos grandes, fortes e firmes.

- Prazer Mauro. Eu me chamo Cassandra, mas todo mundo me chama de Sandra.

- Muito prazer, Sandra. Então, você vai querer a carona?

Ele estava sorrindo novamente. Como ele podia ficar chateado, feliz, chateado e feliz em apenas cinco minutos? Achei que isso era um dom exclusivamente feminino. Tudo bem, afinal, ele ficava um fato quanto estava feliz e também quando estava chateado.

- Ah.. por que não?

Sabe, talvez teria sido melhor se eu não tivesse aceitado aquela carona.

O garoto da casa amarelaOnde histórias criam vida. Descubra agora