Capítulo 2

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Após o fogo cessar, seu melhor amigo secou suas lágrimas e a levou para casa. Bom, para um local com portas, paredes, janelas e tudo que uma residência poderia ter, mas não podia chamar aquele lugar de casa, pois seu lar havia sido destruído há poucas horas.

A casa do seu melhor amigo era muito parecida com a sua, embora tivesse mais um ar campestre. Hector Murtino levou Akina para sua residência quando os ânimos da cidade se acalmaram um pouco. Ele lhe deu roupas limpas e fez com ela tomasse um banho. Depois sentou-se com ela e tentou fazer com que ela comesse alguma coisa, mas o som dos ossos da sua irmã se quebrando ecoava em sua cabeça a cada segundo. Hector se aproximou da amiga, e embora Akina não demonstrasse tanto sentimento, ele a abraçou, e só por isso ela sentiu que não estava sozinha. Porém, o mundo era um borrão ao seu redor, e a situação não melhorou quando percebeu que parte da confusão de cores a sua volta era resultado das lágrimas que escorriam pelo seu rosto e agora molhavam a camisa do amigo.

Hector era filho de um dos melhores amigos do pai de Akina, por isso aquela amizade entre eles surgiu. Cresceram juntos, estudaram juntos e aprenderam a lutar juntos. Akina possuía grande apego por ele, apesar de não nutrir nenhum sentimento maior do que a amizade, mesmo Hector demonstrando que sentia algo a mais, mas ele nunca se ousou a contar o que realmente sentia.

Aquela noite foi terrível. Akina não conseguia dormir, seus poderes se intensificaram com a dor que estava sentindo. Ela conseguia sentir qualquer animal que estava por perto, e graças a localização mais afastada que a casa de Hector se encontrava, ela podia sentir tudo sem interferência da vida urbana. E por isso, se levantou e ficou pensando em tudo que havia descoberto sobre o Lyzinger que destruiu sua família. Sabia que deveria fazer alguma coisa, caso contrário mais sangue escorreria pelos solos do reino de Spaladésia. A guarda do rei deveria saber, pois o monstro tinha a missão de destruir cada pólis do reino. Ela não sabia o real motivo para isso, mas sabia como aquela criatura atacaria.

Começaria por Atlas'ésia, e agora com o trabalho executado com louvor e êxito, ela vai se dirigir para a cidade de Pirland, que ficava muito ao norte. Não entendia essa lógica de destruição: se ela queria destruir cada pólis, por que não ir para Qnésia que ficava mais próxima ao local de destruição anterior?

Ela pegou um mapa do reino, marcou as cidades que iriam sofrer o ataque e numerou-as seguindo a ordem que a destruição aconteceria. Primeiro foi a sua cidade, então ela marcou com um grande X na sua localização. A próxima seria Pirland, um pouco mais longe, o que lhe dava tempo para pensar em algo para impedir o sangue que seria derramado. Pirland ficava muito ao norte, e seu acesso se dava a partir de um cruzamento pelo mar. A criatura demoraria em média duas semanas ou mais para chegar até lá, visto que estava de pé e o seu peso lhe impedia de alcançar grandes velocidades.

A Pólis de Qnséia seria a terceira, seguida Light-Cetus, a cidade que, graças a sua posição e ao poder do seu Mago, não precisava de postes para iluminar suas noites, pois a luz das estrelas sempre tinha um brilho intenso no céu.

Quando terminou de fazer marcações nos mapas e calcular o tempo do próximo ataque, ela começou a pensar no que poderia fazer. Jamais conseguiria enfrentar aquela besta sozinha, mesmo que soubesse lutar e possuísse alguns poderes, seu corpo magro não teria a menor chance com o primeiro sopro de gás o Lyzinger. 

Crônica de SpaladésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora