Capítulo 4

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A cidade estava diferente desde a última vez que Akina estivera ali. Havia mais casas, e muito mais crianças e pessoas na rua. A praça do mercado estava lotada, e pela posição do sol já deveria estar próximo das onze horas da manhã. Havia muitas pessoas vendendo comida em barracas, crianças correndo pelas calçadas enquanto brincavam, animais procurando por comida – Akina podia sentir. 

Andou por alguns minutos até observar um grupo de cerca de vinte pessoas em uma parte da praça. Então chegou um pouco mais perto para saciar a curiosidade. Ela passou pelas pessoas do círculo até poder ver o que estava no centro: dois recipientes com terra, dispostos em cima de uma mesa. Diante dos recipientes estava um homem com um caderno fazendo diversas anotações.

- O que está acontecendo? – Ela perguntou, sem direcionar a pergunta para alguém específico. Akinator estava atrás dela, mas encostou ainda mais quando um rapaz loiro, um pouco mais alto que Akina respondeu:

- Feijões? – Ela perguntou, mas agora a pergunta tinha uma leve inclinação para o rapaz de cabelos dourados.

- Sim. Há feijões nos recipientes. Estamos esperando eles nascerem, e então o que chegar a um metro primeiro vence – ele disse e virou a cabeça para o homem com as anotações, fazendo Akina olhar também – e enquanto esperamos, nós apostamos no que crescerá primeiro.

- Mas vocês não teriam que esperar vários dias para descobrir quem ganhou a aposta... – ela não terminou a pergunta, pois foi interrompida por uma risada que reverberou pelo ar, passando por todo seu corpo e chegando até seus ouvidos. Institivamente, ela voltou a cabeça para a direita, ao lado do rapaz loiro, porém um pouco mais a frente. Notou que a risada vinha de um rapaz um pouco mais alto do que o outro e mais forte. Ele ainda não tinha virado o rosto quando falou:

- Não são feijões comuns – ele disse e virou para Akina. Os olhos azuis da garota encontraram os olhos dele, quase da mesma cor que o seu, porém mais escuros e com um detalhe peculiar: o olho direito possuía duas cores, uma igual ao esquerdo, azul marinho, e a outra violeta, ambas dividiam a íris em duas partes.

- Isso. Eu já ia te explicar – o loiro disse – obrigada, Ax – ele falou dando um soco de leve no ombro do tal "Ax", então voltou a prestar atenção na competição.

O rapaz moreno mantinha os olhos em Akina, mais especificamente na parte de baixo da orelha direita, onde havia uma tatuagem de lobo que mostrava que ela tinha alguma ligação com os magos, pois apenas eles conseguiam fazer marcações vitalícias na pele.

- Mas você já sabia que os feijões eram mágicos – ele disse e apontou para a tatuagem. O simples gesto fez Akina se encolher, pois ela sempre tentava esconder a marca por segurança. Sentindo o temor da amiga, Aki encostou ainda mais na garota, se colocando em uma postura ereta, prestes a defender Akina a qualquer custo. – Que animal de estimação peculiar – o rapaz afirmou encarando o lobo branco com um leve sorriso no rosto. Idiota, foi o que Akina pensou.

- Poderia acabar com você em segundos – ela respondeu quando notou o tom sarcástico na voz dele. Apesar do seu aspecto intimidador, ela não demonstrou medo ao lhe responder a altura. Ele deu risada novamente, e voltou a olhar os recipientes, onde pequenos brotos começavam a aparecer.

Enquanto os feijões cresciam, ela pegou uma maçã que havia sobrado em sua bolsa para comer. Ficou observando as pessoas ao redor. Aquela era a parte mais nobre da cidade, não era atoa que ela só via pessoas das altas classes, vendedores de joias em frente as suas lojas, grandes mercados e os garotos mimados apostando. Ninguém parecia se importar com a presença de Akinator, afinal muitos ali podiam possuir um igual ou já o tinha. Os lobos eram bem-vistos, além de serem considerados seres fantásticos, eram bons companheiros e amigos quando domesticado, mas ao mesmo tempo uma fera terrível. 

Crônica de SpaladésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora