40. De volta a Goiânia

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- HENRI FERRAZ

Hoje era o dia em que iríamos para Goiânia e deixaríamos de vez o Rio de Janeiro, graças a isso acordei com um bom humor indestrutível, saber que eu já não carregava o fardo de ter que cuidar de milhares de pessoas me fez bem, porque agora eu só tinha que cuidar de duas.

Olho de soslaio para Amy que digitava alguma coisa no celular enquanto fazia um biquinho de concentração, ela rolava os olhos sobre a tela e digitava tão rápido com seus dedinhos nervosos que estava vendo a hora que ela travaria a mão. Sua cabeça apoia em meu ombro e um muxoxo é solto.

- Caroline já está levando meu carro para o aeroporto - fala olhando no aparelho móvel. - Mesmo que eu tenha falado que nosso vôo sai daqui três horas.

Sorrio vendo a foto que ela mostrou de Caroline dentro de um carro com uma mulher que parecia com ela.

- A pressa veio depois da Caroline - brinco. - Nós saímos daqui dez minutos, o trânsito dessa cidade me estressa, é imprevisível demais.

- Vou dar dramim pra Clarinha - avisa depois de concordar com o que falei. - Umas três gotinhas vai fazer ela dormir o vôo inteiro.

Amélia é médica, e é pediatra, se ela está falando sobre um remédio quem sou eu para discutir?

- É bom - falo olhando para Ana Clara que estava em pé no berço nos encarando com um sorrisinho. - Ela pode ficar estressada por ter que ficar quieta durante o vôo.

- Com certeza, Clara não fica quieta - Amy murmura levantando. - Hum, não podemos esquecer a naninha dela.

A mulher vai até o berço e beija a bochecha da bebê duas vezes antes de pegar a manta rosa com um boneco de coelho de peluche.

Amy olha para Ana e olha para manta na mão dela, olha pra Ana Clara de novo e olha para mim, sorri e deixa um suspiro feliz escapar. Ontem - ou talvez hoje de madrugada. - ficamos horas conversando sobre nosso futuro, e principalmente sobre o que nos trouxe até o momento presente. Os dois não souberam chegar à resposta do porquê o universo nos juntou, mas estamos felizes demais por isso ter acontecido.

- Eu amo vocês - Amélia diz assim que me abraça. - E estou feliz pra caralho por estarmos indo para um lugar seguro e mais calmo.

- Eu amo vocês, meu bem - murmuro beijando a bochecha rosada. - Também estou feliz, e vou estar ainda mais quando chegarmos em Madrid.

- Em trinta dias - fala animada. - ¿Te crees que es real? Me parece un jodido buen sueño.

Eu fiquei verdadeiramente surpreso com o Espanhol perfeito de Amélia, ela demonstrou que sabia o idioma com fluidez mesmo que ainda tivesse um accent abrasileirado. Então a doutora me lembrou que nas universidades espanholas estrangeiros precisam fazer prova de proficiência em espanhol para serem aceitos na universidade.

- ¡Creo! por supuesto - brinco. - Vamos? Não quero perder o vôo por ter chegado atrasado no aeroporto.

Estávamos indo para Goiânia, Eu, Amélia, Ana, Eduardo e Heidi. Deixando para trás um Igor que emocionado/bêbado fez um discurso sobre quanto que ia sentir nossa falta, e que ele nunca esqueceria o que já fiz pelo Morro que ele tanto amava, sem deixar obviamente de ameaçar brutalmente Eduardo pois ainda não acreditava que a pirralha estava mesmo esperando uma criança.

Eu também não acredito e sinto vontade de socar a fuça dele sempre que lembro. Onde já se viu? A minha irmã mais nova, quase uma criança, esperando um bebê? Bizarro e assustador.

Mas estava feliz por ela, Heidi nunca escondeu o desejo por ter filhos e sei que ela está "pronta" para essa montanha russa. A Ferraz mais nova - ou nem tão mais nova assim graças a Clara e o bebê - já tinha sua faculdade completa e ganhava bem assim como a maioria dos dentistas. O "problema" estava na loucura que era ter filhos, bebês são complicados e bipolares.

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