04. É um tropêgo atrás do outro.

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P.O.V - HENRI FERRAZ.

Ser obrigado a comparecer em 95% dos eventos na favela não era minha coisa preferida, mas a três anos eu me obrigava a fazer isso. Nunca gostei de absolutamente nada ligado a isso, mas quando menos esperava alguém derrubou meu castelo de cartas e me jogou como a porra de um líder para um monte de pessoas.

Eu tinha 25 anos quando Paulo morreu, e já estava a 21 anos sem pisar no Brasil justamente para não correr o risco de esbarrar com meu pai pelas ruas do Rio de Janeiro - minha cidade natal. Mas em determinada manhã de terça-feira Igor apareceu na porta da minha casa em Madrid e jogou uma bomba em minhas mãos; ajudar no caos em que a favela estava após a morte de nosso pai.

Não senti nada ao saber da morte de Paulo, mas senti meu mundo abalar ao perceber que eu teria que consertar o que ele bagunçou após anos de uma guerra sem sentido contra os federais.

Com isso eu também era obrigado a visitar algumas pessoas para explicar a base de ameaças como as coisas aqui funcionam...

Bufo irritado enquanto Heidi falava sem parar sobre a possível amizade que fez com a doutora de crianças que chegou a poucos dias no morro. Ela me fez perder a linha de raciocínio que estava.

Puta que pariu, sempre dizem que tem um irmão que fala mais que o outro, mas Heidi com certeza fala o suficiente para três pessoas de uma vez.

- Heidi, porra, dá para calar um pouco? Já metralhou mil coisas sobre essa mulher, daqui a pouco me conta qual a cor dos olhos do pai dela - exclamo olhando para porta da casa qual entraríamos. - Vamos acabar isso logo que tenho que resolver uma bagunça que fizeram.

- Que mal humor, Henri, credo - reclama fechando a cara. - Vamos logo, vai que assim melhora esse seu humor de merda.

Ela bate na porta tranquilamente enquanto eu mantenho a feição séria e espero que abram a porta, não leva mais que um minuto para um homem apareça confuso ao olhar quem estava esperando, mas sorri de leve, talvez tentando demonstrar educação.

- Boa tarde, doutor Eduardo, viemos conversar um pouco - Heidi faz as honras esticando a mão para ele que se apressa em aceitar o cumprimento. -Espero não estar atrapalhando, sei que é a primeira folga de vocês, mas são assunto que precisam ser tratados com pressa.

- Bom dia, Heidi. Entrem, não incomoda em nada - o tal Eduardo diz indicando que entrássemos. - Algo saiu do controle?

Entramos e eu me mantenho em silêncio, observando atentamente o espaço e buscando por alguma coisa não especifica.

- Edu, quem...? Ah, oi gente, boa tarde - uma mulher aparece na porta da cozinha e dá um sorriso amarelo. - Aconteceu alguma coisa?

A pergunta é sempre a mesma quando alguém recebe minha visita. Aconteceu alguma coisa? Todos tinham medo do que eu mandaria fazer, era como se minha presença indicasse que eles estavam ferrados.

E na maioria das vezes estavam.

- Dr Caroline, como vai? - Heidi e sua educação perguntam. - Viemos conversar, apenas isso, onde está Amy?

Eduardo e Caroline se entreolham e a mulher pega o celular digitando rapidamente alguma coisa.

- Ela já vem...

Heidi começa a falar aleatoriamente com eles sobre o que acharam da primeira semana como médicos da comunidade, aproveitando que eles focaram a atenção em minha irmã rapidamente implantei uma escuta na mesa da cozinha. Era uma pequena que grudava com uma borracha a vácuo.

Em menos de cinco minutos uma voz parece no meio do corredor...

- É bom que seja uma emergência... - Amélia engole o resto das palavras assim que percebe a minha presença, juntamente com Heidi em sua cozinha - Puta merda.

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